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MINERAÇÃO
Mineradora diz que indústrias querem vantagens
Setor de siderurgia acusa Vale do Rio Doce de ser "anticompetitiva"
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
A disputa entre as siderúrgicas e
a Vale do Rio Doce esquentou ontem. O vice-presidente-executivo
do IBS (Instituto Brasileiro de Siderurgia), Marco Polo de Mello
Lopes, disse que a mineradora
adota práticas "anticompetitivas", "monopolistas" e "impõe
preços e condições a seus clientes" nas áreas de ferro e logística.
O advogado da Vale, José Inácio
Franceschini, negou as acusações.
Ele disse que o IBS "quer jogar fumaça" e tentar obter vantagens
para algumas empresas do setor.
O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) decidirá, em 10 de agosto, se a aquisição de quatro mineradoras levou
a Vale a uma excessiva concentração de mercado, com eventuais
implicações para a concorrência.
Como forma de acabar com o
suposto excesso de poder de mercado da Vale, Lopes defende que
o Cade decida pela venda da uma
mina de ferro da Vale em Minas
Gerais e elimine a cláusula contratual que lhe dá o direito de preferência de compra do minério produzido pela CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) na mina de
Casa de Pedra (MG).
Lopes disse esperar que o órgão
limite a participação da Vale em
20% na ferrovia MRS (hoje em
44%), como prevêem as regras de
concessão, e defendeu a criação
de uma subsidiária integral para a
ferrovia Vitória-Minas, de propriedade da mineradora.
O objetivo é, segundo o IBS, facilitar o acesso de mineradoras independentes às duas vias de escoamento (as principais ligações
da região produtora de minério
em Minas com os portos do Rio,
de Santos e de Vitória), que está
sendo dificultado pela Vale. Para
o IBS, a ação da Vale desestimula
o surgimento e a expansão de pequenas mineradoras e a exportação de minério por outras empresas, o que aumentaria a competição no setor.
O advogado da Vale disse que
em nenhum dos casos o acesso de
terceiros é dificultado. Afirmou
que a Vitória-Minas já opera com
cargas de outros mineradores e
existem regras claras de acesso,
fiscalizadas pelos órgãos reguladores. A questão, segundo ele, foi
analisada e aprovada pelo Cade
quando da privatização da Vale.
Sobre a MRS, Franceschini disse
que as siderúrgicas (sócias da ferrovia, que, juntas, possuem 66%
das ações) já indicam a maior parte da diretoria e não há restrições
à movimentação de carga na via
para qualquer tipo de cliente.
O advogado afirmou que o IBS
tenta favorecer a Gerdau, segunda
maior acionista individual, com
20% das ações da MRS.
Segundo o representante da Vale, o instituto quer beneficiar a
CSN ao trazer a público a questão
da mina de Casa de Pedra. Ele disse que o mercado interno não é
prejudicado, pois a companhia
não tem exercido o direito de preferência nas negociações de minério da CSN com outras siderúrgicas nacionais.
O advogado admite que a Vale
pode abrir mão da preferência de
compra no Brasil, mas quer resguardar sua posição e a "do país"
como grande gerador de divisas
com a venda de minério. Por isso,
a Vale quer manter o direito nos
eventuais contratos de Casa de
Pedra no exterior. "O Cade só
analisa casos que possam ferir a
concorrência interna."
Em parecer de janeiro deste
ano, a SDE (Secretaria de Direito
Econômico) recomendou a aprovação das aquisições da Vale, mas
sugeriu restrições: redução da
participação na MRS, fim do direito de preferência sobre a mina
da CSN e venda de uma mina da
companhia em Minas.
Lopes nega que o IBS queira beneficiar alguma empresa. Diz que
a posição é de toda a siderurgia
nacional: "A Vale sempre teve um
grande poder de coação ao setor,
porque é responsável por 92% do
fornecimento do minério e 100%
da malha ferroviária [na região
produtora de minério do SE]".
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