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MERCADO TENSO
Moeda começa pressionada; oferta de proteção em título público faz cotação cair a R$ 1,903
Dólar chega a R$ 1,99, mas recua 1,81%
MARCELO DIEGO
da Reportagem Local
Após ver a cotação do dólar comercial atingir R$ 1,99, o Banco
Central ofereceu uma alternativa
de proteção ao mercado ontem,
leiloando títulos públicos reajustados pelo câmbio. A oferta pegou
os investidores de surpresa e fez o
dólar cair para R$ 1,903.
Em relação a anteontem, o recuo foi de 1,81% -o maior registrado desde 22 de abril.
O mercado cambial iniciou o
dia em forte alta, batendo em R$
1,99 antes das 13h.
A tendência de elevação seguia a
lógica de dias anteriores: a instabilidade política do governo deixava os investidores temerosos.
Em busca de proteção contra a
desvalorização do real, buscavam
dólares no mercado à vista ou nos
contratos da Bolsa de Mercadorias & Futuros.
Pela manhã, o governo colocou
um lote de R$ 2 bilhões de NBC-Es (Notas do Banco Central, série
Especial), com vencimento em
um ano, para leilão. Os títulos remuneram de acordo com a variação cambial do período e ainda
pagam juros como prêmio.
A venda já era prevista. O governo antecipou o vencimento de
um lote de igual valor de NBC-Es,
com execução prevista para 6 de
setembro. Não houve efetiva oferta de proteção nova para o investidor, e o dólar seguiu subindo.
No começo da tarde, no entanto, o BC anunciou que iria leiloar
R$ 3 bilhões em NBC-Es extras e
de curto prazo (seis meses).
Para bancos e empresas que estão buscando proteção no dólar,
os títulos do governo são melhores. Além de garantirem o acompanhamento da variação cambial,
ainda pagam juros. Outro atrativo
foi o prazo, mais curto.
Imediatamente houve uma troca de posições. Como os títulos do
governo são vendidos em reais,
bancos e empresas se desfizeram
de dólares guardados em suas
carteiras, trocaram por moeda
brasileira e foram comprar os papéis do BC. Foi esse movimento
que derrubou o câmbio.
O BC vendeu R$ 1,083 bilhão do
lote, pagando juros anuais de
21,5% -para comparação, havia
pago juros de 13,5% pela manhã.
Na segunda-feira, o governo
volta a colocar em leilão mais R$
1,850 bilhão em NBC-Es de seis
meses. E na quarta-feira vai oferecer ao mercado outros R$ 2 bilhões do papel, mas com vencimento em um ano.
A estratégia é contrária à política da instituição nos últimos meses. Desde o começo do ano, o BC
deixou de renovar (até por falta
de demanda) cerca de US$ 8 bilhões em papéis cambiais.
"O BC está repetindo a estratégia adotada durante as crises do
ano passado, mas com uma diferença: não pode mais usar o aumento dos juros para atrair capital externo. Se os juros subirem, o
estrangeiro vai ficar mais receoso", disse Édson Valezin, da B&T
Associados.
"Não deixa de ser um paliativo,
mas atende ao que o mercado estava esperando", disse Carlos Alberto Abdalla, da corretora Souza
Barros.
Segundo ele, o BC estava evitando colocar títulos públicos para
não ter que arcar com os juros
que eles carregam como prêmio.
"Há uma rentabilidade embutida
que vai engordar a dívida pública", afirmou.
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