São Paulo, Sábado, 21 de Agosto de 1999
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MERCADO TENSO
Moeda começa pressionada; oferta de proteção em título público faz cotação cair a R$ 1,903
Dólar chega a R$ 1,99, mas recua 1,81%

MARCELO DIEGO
da Reportagem Local

Após ver a cotação do dólar comercial atingir R$ 1,99, o Banco Central ofereceu uma alternativa de proteção ao mercado ontem, leiloando títulos públicos reajustados pelo câmbio. A oferta pegou os investidores de surpresa e fez o dólar cair para R$ 1,903.
Em relação a anteontem, o recuo foi de 1,81% -o maior registrado desde 22 de abril.
O mercado cambial iniciou o dia em forte alta, batendo em R$ 1,99 antes das 13h.
A tendência de elevação seguia a lógica de dias anteriores: a instabilidade política do governo deixava os investidores temerosos. Em busca de proteção contra a desvalorização do real, buscavam dólares no mercado à vista ou nos contratos da Bolsa de Mercadorias & Futuros.
Pela manhã, o governo colocou um lote de R$ 2 bilhões de NBC-Es (Notas do Banco Central, série Especial), com vencimento em um ano, para leilão. Os títulos remuneram de acordo com a variação cambial do período e ainda pagam juros como prêmio.
A venda já era prevista. O governo antecipou o vencimento de um lote de igual valor de NBC-Es, com execução prevista para 6 de setembro. Não houve efetiva oferta de proteção nova para o investidor, e o dólar seguiu subindo.
No começo da tarde, no entanto, o BC anunciou que iria leiloar R$ 3 bilhões em NBC-Es extras e de curto prazo (seis meses).
Para bancos e empresas que estão buscando proteção no dólar, os títulos do governo são melhores. Além de garantirem o acompanhamento da variação cambial, ainda pagam juros. Outro atrativo foi o prazo, mais curto.
Imediatamente houve uma troca de posições. Como os títulos do governo são vendidos em reais, bancos e empresas se desfizeram de dólares guardados em suas carteiras, trocaram por moeda brasileira e foram comprar os papéis do BC. Foi esse movimento que derrubou o câmbio.
O BC vendeu R$ 1,083 bilhão do lote, pagando juros anuais de 21,5% -para comparação, havia pago juros de 13,5% pela manhã.
Na segunda-feira, o governo volta a colocar em leilão mais R$ 1,850 bilhão em NBC-Es de seis meses. E na quarta-feira vai oferecer ao mercado outros R$ 2 bilhões do papel, mas com vencimento em um ano.
A estratégia é contrária à política da instituição nos últimos meses. Desde o começo do ano, o BC deixou de renovar (até por falta de demanda) cerca de US$ 8 bilhões em papéis cambiais.
"O BC está repetindo a estratégia adotada durante as crises do ano passado, mas com uma diferença: não pode mais usar o aumento dos juros para atrair capital externo. Se os juros subirem, o estrangeiro vai ficar mais receoso", disse Édson Valezin, da B&T Associados.
"Não deixa de ser um paliativo, mas atende ao que o mercado estava esperando", disse Carlos Alberto Abdalla, da corretora Souza Barros.
Segundo ele, o BC estava evitando colocar títulos públicos para não ter que arcar com os juros que eles carregam como prêmio. "Há uma rentabilidade embutida que vai engordar a dívida pública", afirmou.


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