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CRIAÇÃO & CONSUMO
A experiência
LEO LAMA
Cansado da mesmice e profundamente inquieto com os rumos da
propaganda no Brasil, resolvi dividir essa inquietação com as pessoas
que trabalham em minha agência,
a Lowe Loducca. Na busca por novos pontos de vista, decidimos contratar um dramaturgo para trabalhar ao nosso lado. Mas não para
criar peças publicitárias. O objetivo
é ter um artista entre nós, com suas
experiências, talento e maneira distinta de enxergar as coisas. Seu nome é Leo Lama, jovem autor de
"Dores de Amores", "Videoclips
Blues" e o recente "Baudelaire, o
Pai do Rock". Lama também é filho
dos geniais Plínio Marcos e Walderez de Barros. Hoje, abro esse espaço para que ele próprio fale de sua
experiência. Até a próxima!! Celso
Loducca, 41, é presidente e diretor
de criação da Lowe Loducca.
Há quatro meses Celso Loducca me convidou para uma "experiência" em sua agência de
publicidade, a Lowe Loducca.
Em princípio não sabíamos
aonde isso poderia nos levar.
Afinal, o que um dramaturgo
poderia fazer numa agência? Escrever peças? Sim. Peças publicitárias? Não. Celso me pediu para fazer meu trabalho em sua
agência. Sendo essa sua única
exigência. Queria uma troca. Estava inquieto e queria algo que,
de alguma forma, alimentasse
essa inquietação. Não procurava respostas, mas sim movimento em sua busca.
Para mim, a "experiência" seria e ainda é algo totalmente diferente do que estou acostumado. Escrever as minhas peças entre redatores e diretores de arte,
no meio de um mar de mesas e
computadores em salas sem parede? Como me concentrar sem
ser invadido pelo universo deles?
Como proteger o meu? Tentei
me adaptar. E a troca começou.
Em princípio, criei uma coluna
que é enviada diariamente para
todos os funcionários da agência, por meio da Intranet. Tenho
a liberdade de abordar qualquer
assunto que me venha à cabeça.
E os funcionários podem responder, se quiserem. E assim começamos uma instigante correspondência. Os assuntos variam
desde qual é o papel da publicidade em relação à arte até futebol, religião, sexo, condições de
trabalho, demissões, questões
sobre a falta de tempo etc. Conseguimos movimentar a agência
e provocar discussões sem entrar
no campo pessoal, sobre assuntos pouco usuais no cotidiano do
trabalho da empresa.
Paralelamente a isso, comecei
a ler peças com os funcionários,
e os que se interessaram puderam ter acesso a uma parte do
processo de criação de um espetáculo teatral.
Agora estou escrevendo uma
peça e enviando as cenas dia a
dia por meio da rede. Quando a
peça estiver pronta, pretendo
chamar atores para realizarmos
uma leitura dramática na agência.
A Lowe Loducca está abrindo
espaço para a arte. Celso, além
de me trazer para a agência,
também contratou um professor
de história da arte, que proporciona aos funcionários a possibilidade de ampliar sua cultura
geral, o que certamente pode influir em seu trabalho.
Quanto a mim, que sou um
dramaturgo, um artista e enfrento as dificuldades que essa
profissão pouco valorizada sempre enfrentou, estou podendo
me desenvolver e desenvolver a
minha arte, recebendo um salário e condições de trabalho para
isso. E, acima de tudo, podendo
conviver com pessoas e trocar
experiências que enriquecem
meu rol de personagens.
Não sei se somos pioneiros,
mas sei que essa iniciativa é rara. Se outras empresas também
pensassem assim, a arte que hoje
em dia parece mais ser artigo de
entretenimento voltaria a ser
parte integrante da formação do
indivíduo. E, por que não dizer,
algo essencial e imprescindível.
Quem dera a "Leo Loducca" se
ampliasse em outras formas e
fosse para sempre!
Leo Lama, 34, é dramaturgo, ator e diretor
de teatro.
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