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LUÍS NASSIF
O BC e o câmbio
O Banco Central continua fiel
à estratégia traçada para câmbio e taxas, tendo como base as
chamadas "metas inflacionárias" -ou seja, só alterar os juros para acompanhar eventuais
mudanças de cenário sobre a
inflação de médio prazo.
O diretor de Assuntos Internacionais do BC, Daniel Gleizer, considera que o recuo do
dólar no final da sexta feira
-fechando em R$ 1,90 depois
de bater perto dos R$ 2,00- refletiu apenas a falta de consistência da alta.
O BC anunciou leilão de R$ 3
bilhões em NBC-Es. Teve demanda para R$ 1 bilhão, mas a
taxa do dólar despencou. Na segunda, vão ser ofertadas mais
NBC-Es. O que significa que
existe demanda por hedge, ao
contrário dos que supunham
que empresas iriam para a compra do dólar mesmo.
O susto da semana passada,
segundo Gleizer, não vai tirar o
BC de sua rota cambial e de juros. A ordem é se preocupar com
o nível da taxa de juros apenas
se tiver impacto inflacionário.
Dólar a R$ 2,00 ou R$ 1,90 podem ter impacto se continuado.
Mas Gleizer considera que os
fundamentos da economia estão em ordem, e as indicações
para o próximo ano são promissoras, levando o BC a apostar
na queda das cotações.
No curto prazo, pode haver
descasamento entre expectativas e fundamentos, mas no médio prazo eles convergem, diz
ele. Considera Gleizer que, tirando as ansiedades de curto
prazo, todos os indicadores
apontam para uma situação
confortável.
No momento, o BC trabalha
com uma safra de notícias positivas, para contrabalançar o tiroteio no front político.
Em relação às necessidades de
financiamentos externos, a situação do próximo ano é bastante tranquila. A conta de
amortizações cai de US$ 47 bilhões em 1999 para US$ 22 bilhões no ano 2000. Como consequência, as necessidades totais
de financiamento caem de US$
71 bilhões para US$ 44 bilhões.
Institucional
Os problemas desses dias,
além da questão política, é da
memória institucional do mercado. Está se vindo de um modelo em que o BC era o grande
fornecedor de hedge do mercado, por meio de intervenções no
mercado futuro ou papéis indexados.
A atual diretoria do BC entende que não é seu papel ser
provedor sistemático de hedge.
Justamente por isso, vinham rolando as NBC-Cs à razão de
90% apenas. Mas admite que,
enquanto o mercado não se organiza, podem ocorrer desequilíbrios eventuais.
A redução do IOF, três dias
atrás, teve o objetivo de melhorar topicamente a oferta de recursos de curto prazo. Mas não
se pensa em estabelecer estoques de capitais de curto prazo.
Gleizer garante que esse erro
não será repetido. A médio prazo, o BC continua achando que
a solução é trabalhar na desregulamentação do mercado e no
aumento da transparência.
Não há maiores temores acerca dos leilões da próxima semana. Na sua avaliação, o mercado precificou os juros em razão
da elevação do dólar. Na hora
em que o dólar cai, caem também as projeções de juros no
mercado futuro.
Também não se pensa em
atuação do BC via Banco do
Brasil ou BNDES. A idéia é
atuar por meio de cinco "dealers", com transparência, para
permitir ao mercado ir se disciplinando em torno dos sinais
emitidos.
Nas próximas semanas, se haverá eventos negativos (como a
passeata do MST e rebuliço no
mercado internacional), Gleizer considera que haverá eventos positivos para contrabalançar.
O Planejamento já está em
um road-show, mostrando as
premissas para continuar apostando em superávit fiscal para
o próximo ano. Por outro lado,
o BNDES conseguiu colocar 200
milhões de títulos em euro, em
cima da emissão que o BC fez
tempos atrás, e a um spread
menor.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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