São Paulo, Sábado, 21 de Agosto de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LUÍS NASSIF

O BC e o câmbio

O Banco Central continua fiel à estratégia traçada para câmbio e taxas, tendo como base as chamadas "metas inflacionárias" -ou seja, só alterar os juros para acompanhar eventuais mudanças de cenário sobre a inflação de médio prazo.
O diretor de Assuntos Internacionais do BC, Daniel Gleizer, considera que o recuo do dólar no final da sexta feira -fechando em R$ 1,90 depois de bater perto dos R$ 2,00- refletiu apenas a falta de consistência da alta.
O BC anunciou leilão de R$ 3 bilhões em NBC-Es. Teve demanda para R$ 1 bilhão, mas a taxa do dólar despencou. Na segunda, vão ser ofertadas mais NBC-Es. O que significa que existe demanda por hedge, ao contrário dos que supunham que empresas iriam para a compra do dólar mesmo.
O susto da semana passada, segundo Gleizer, não vai tirar o BC de sua rota cambial e de juros. A ordem é se preocupar com o nível da taxa de juros apenas se tiver impacto inflacionário. Dólar a R$ 2,00 ou R$ 1,90 podem ter impacto se continuado. Mas Gleizer considera que os fundamentos da economia estão em ordem, e as indicações para o próximo ano são promissoras, levando o BC a apostar na queda das cotações.
No curto prazo, pode haver descasamento entre expectativas e fundamentos, mas no médio prazo eles convergem, diz ele. Considera Gleizer que, tirando as ansiedades de curto prazo, todos os indicadores apontam para uma situação confortável.
No momento, o BC trabalha com uma safra de notícias positivas, para contrabalançar o tiroteio no front político.
Em relação às necessidades de financiamentos externos, a situação do próximo ano é bastante tranquila. A conta de amortizações cai de US$ 47 bilhões em 1999 para US$ 22 bilhões no ano 2000. Como consequência, as necessidades totais de financiamento caem de US$ 71 bilhões para US$ 44 bilhões.

Institucional
Os problemas desses dias, além da questão política, é da memória institucional do mercado. Está se vindo de um modelo em que o BC era o grande fornecedor de hedge do mercado, por meio de intervenções no mercado futuro ou papéis indexados.
A atual diretoria do BC entende que não é seu papel ser provedor sistemático de hedge. Justamente por isso, vinham rolando as NBC-Cs à razão de 90% apenas. Mas admite que, enquanto o mercado não se organiza, podem ocorrer desequilíbrios eventuais.
A redução do IOF, três dias atrás, teve o objetivo de melhorar topicamente a oferta de recursos de curto prazo. Mas não se pensa em estabelecer estoques de capitais de curto prazo.
Gleizer garante que esse erro não será repetido. A médio prazo, o BC continua achando que a solução é trabalhar na desregulamentação do mercado e no aumento da transparência.
Não há maiores temores acerca dos leilões da próxima semana. Na sua avaliação, o mercado precificou os juros em razão da elevação do dólar. Na hora em que o dólar cai, caem também as projeções de juros no mercado futuro.
Também não se pensa em atuação do BC via Banco do Brasil ou BNDES. A idéia é atuar por meio de cinco "dealers", com transparência, para permitir ao mercado ir se disciplinando em torno dos sinais emitidos.
Nas próximas semanas, se haverá eventos negativos (como a passeata do MST e rebuliço no mercado internacional), Gleizer considera que haverá eventos positivos para contrabalançar.
O Planejamento já está em um road-show, mostrando as premissas para continuar apostando em superávit fiscal para o próximo ano. Por outro lado, o BNDES conseguiu colocar 200 milhões de títulos em euro, em cima da emissão que o BC fez tempos atrás, e a um spread menor.


E-mail: lnassif@uol.com.br



Texto Anterior: Criação & consumo - Leo Lama: A experiência
Próximo Texto: Casa própria: Caixa reabre campanha para a liquidação de dívidas do SFH
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.