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NA ATIVA
Com renda achatada, um terço dos pensionistas busca complementar orçamento, o que agrava situação do desemprego
No país, 4,5 mi de aposentados trabalham
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Quatro milhões e meio de aposentados estão no mercado de trabalho em busca de renda para
complementar sua aposentadoria. Esse número, que representa
um terço do total de aposentados
no país, deve crescer ainda mais
nos próximos anos, segundo estudo da Secretaria de Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade
da Prefeitura de São Paulo.
Os aposentados que trabalhavam em 1992 -2,8 milhões- representavam 4,3% do total de
ocupados no país. Em 2001, esse
percentual subiu para 6% -eles
somavam 4,5 milhões.
A participação dos aposentados
no total de ocupados deve chegar
a 8,2% em 2010 -o que significa
que 7,2 milhões de aposentados
devem estar no mercado de trabalho, se mantidas as taxas de crescimento da população aposentada e de aposentados que trabalham verificadas no período.
A projeção foi feita com base em
informações das Pnads (Pesquisas Nacionais por Amostra de
Domicílios) de 1992 e 2001 e de
dados dos censos demográficos,
ambos realizados pelo IBGE.
"A renda previdenciária é insuficiente para retirar do mercado
quem se aposentou. De cada dez
aposentados, sete ganham até
dois salários mínimos. Com isso,
a aposentadoria passa a ser um
complemento, não a fonte principal de renda. Como o Brasil está
envelhecendo, a situação tende a
piorar", diz Marcio Pochmann,
secretário municipal do Trabalho.
O problema, diz, é que a pressão
desse contingente agrava a situação do desemprego no Brasil e expõe o empurra-empurra entre o
sistema previdenciário e o mercado do trabalho. Ao voltarem à ativa para melhorar a renda, os aposentados ocupam vagas de pessoas que estão sem trabalho e que
poderiam, se empregadas, contribuir para a Previdência Social.
Como as contribuições não aumentam, o caixa da Previdência é
diretamente afetado. Isso faz com
que os benefícios pagos continuem baixos, o que empurra o
aposentado para o mercado.
Piso
"O debate que tem de ser feito é
qual é o piso digno de sobrevivência para o aposentado", diz o secretário. "Na reforma da Previdência, fala-se em teto [a proposta
que será votada no Senado prevê
que o teto da aposentadoria passe
de R$ 1.869,34 para R$ 2.400], mas
qual é o valor ideal para que o
aposentado viva dignamente?",
indaga Pochmann.
Nas contas do Sindicato Nacional dos Aposentados e Pensionistas da Força Sindical, o piso deveria ser o previsto pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos) para o salário mínimo. Em
agosto, deveria valer R$ 1.359,03
-ou seja, 5,66 vezes o vigente.
"O problema é que quem se
aposentou com dez salários mínimos em 1994 recebe hoje apenas
seis. A defasagem das aposentadorias varia de 36% a 52%", diz
João Batista Inocentini, presidente do sindicato. "O aposentado
não trabalha porque ele gosta,
mas sim porque precisa comer."
Segundo Inocentini, pesquisa
feita em 2000 com aposentados de
São Paulo mostra que só 19% conseguiam comprar os medicamentos de que precisavam com o valor do benefício recebido. "Quase
metade dos aposentados [48%]
comprava parte dos remédios que
precisava tomar, de acordo com
estudo da Faculdade de Medicina
da USP. E 33% nunca compravam, só tomavam remédio quando os conseguiam em postos de
saúde. Por aí se vê qual é a situação do aposentado no Brasil."
Para o coordenador do Sindicato Nacional dos Aposentados e
Pensionistas da CUT, Wilson Roberto Ribeiro, o aposentado volta
ao mercado para garantir a renda
da família no lugar do filho desempregado. "O filho perdeu o
emprego e não consegue uma vaga. Como o pai aposentado acaba
aceitando um salário menor, e isso representa menos custo para o
empregador, ele fica na vaga no
lugar de um desempregado."
O estudo da secretaria mostra
que a aposentadoria representa,
na média, 46% da renda total dos
aposentados. De acordo com os
dados de 2001, os aposentados
que trabalhavam recebiam renda
mensal de R$ 1.021,20 -sendo
que R$ 549 correspondiam à renda do trabalho e R$ 472,20 à da
aposentadoria. "Se não fosse o
trabalho, os aposentados teriam
queda de 54% na sua renda total."
Esse percentual varia de acordo
com a ocupação do aposentado.
Entre os que trabalham como empregadores, a aposentadoria representa 30% da renda total. No
caso dos trabalhadores autônomos e dos trabalhadores domésticos, a aposentadoria representa
cerca de metade da renda total.
Crescimento
Para o coordenador técnico do
Dieese, Sérgio Mendonça, se houver crescimento econômico, a
pressão de aposentados no mercado de trabalho pode diminuir.
"Ao crescer, o país gera mais empregos. Com o aumento do emprego formal, que é a base de financiamento da Previdência, o
caixa aumenta. E, com mais dinheiro em caixa, podem-se melhorar os valores pagos."
"É preciso que haja uma reengenharia urgente no sistema previdenciário, buscando novos recursos e fontes de custeio", diz Paulo
Henrique Pastori, presidente da
Comissão de Seguridade Social da
OAB (Ordem dos Advogados do
Brasil) de São Paulo.
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