São Paulo, sexta-feira, 21 de setembro de 2007

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No Brasil, dólar segue alheio ao câmbio externo

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Alheio ao ritmo do câmbio internacional de moedas, o mercado brasileiro depende hoje quase que exclusivamente do movimento de entrada e saída de capitais no país. Isso explica o fato de o dólar desabar em Tóquio, Londres e Nova York, mas subir em relação ao real, como aconteceu ontem.
No início da tarde, a moeda americana desceu para a mínima histórica de US$ 1,40 por euro nos mercados internacionais. No Brasil, o dólar seguiu o movimento internacional e chegou a recuar 0,90%, para R$ 1,853, mas pouco depois voltou a subir e fechou o dia a R$ 1,882, com alta de 0,64%. O motivo foi que um banco estrangeiro resolveu aproveitar a cotação para levar US$ 1 bilhão para fora do país. Além disso, os mercados pioraram à tarde quando o presidente do Federal Reseve (o BC dos EUA), Ben Bernanke, manifestou sua preocupação com a extensão da crise.
Para Francisco Gimenez Neto, da corretora NGO, a baixa do dólar nos mercados externos ajuda a derrubar a cotação da moeda americana no país, mas o fluxo de dinheiro conta mais. Ele vê o câmbio seguir cada vez mais os preços e os volumes de commodities brasileiras vendidas no exterior.
O professor João Luiz Mascolo, do Ibmec-SP, afirma que o movimento de baixa internacional do dólar resulta especialmente dos juros menores nos EUA, que tornaram o país menos atrativo aos olhos dos investidores. Para ele, o mesmo movimento beneficia o Brasil, que ficou com taxas sensivelmente maiores desde que o Fed reduziu, na terça, os juros americanos. "Em curto prazo, a diferença do juro brasileiro tende a apreciar a moeda", disse.
Segundo Mascolo, no médio prazo o equilíbrio do câmbio brasileiro vai depender do impacto da crise americana no crescimento internacional, que tende a diminuir a demanda e os preços de produtos brasileiros. O movimento pode diminuir o fluxo de dinheiro ao país e enfraquecer o real. "Com o mundo crescendo menos, o superávit comercial será menor e o apetite ao risco também. Por outro lado, o "investment grade" [selo de bom pagador] deve fazer diferença. O mais provável é que o dólar [no Brasil] fique onde está hoje", disse.
A alta do euro também tem pouco impacto no mercado de câmbio brasileiro. Adilson Goes, da Corretora LevyCam, afirma que o euro soma menos de 15% do mercado de câmbio de moedas no Brasil, apesar de a União Européia ter se tornado a maior parceira comercial do país, com destino de quase 25% das exportações.
Goes afirma que as operações de câmbio de real para euro embutem uma dupla conta: a do real para dólar, e depois a da moeda americana para a européia. "Não há vida própria [no mercado] de euro com real no Brasil", disse Goes.


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