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No Brasil, dólar segue alheio ao câmbio externo
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Alheio ao ritmo do câmbio
internacional de moedas, o
mercado brasileiro depende
hoje quase que exclusivamente
do movimento de entrada e saída de capitais no país. Isso explica o fato de o dólar desabar
em Tóquio, Londres e Nova
York, mas subir em relação ao
real, como aconteceu ontem.
No início da tarde, a moeda
americana desceu para a mínima histórica de US$ 1,40 por
euro nos mercados internacionais. No Brasil, o dólar seguiu o
movimento internacional e
chegou a recuar 0,90%, para R$
1,853, mas pouco depois voltou
a subir e fechou o dia a R$ 1,882,
com alta de 0,64%. O motivo foi
que um banco estrangeiro resolveu aproveitar a cotação para levar US$ 1 bilhão para fora
do país. Além disso, os mercados pioraram à tarde quando o
presidente do Federal Reseve
(o BC dos EUA), Ben Bernanke,
manifestou sua preocupação
com a extensão da crise.
Para Francisco Gimenez Neto, da corretora NGO, a baixa
do dólar nos mercados externos ajuda a derrubar a cotação
da moeda americana no país,
mas o fluxo de dinheiro conta
mais. Ele vê o câmbio seguir cada vez mais os preços e os volumes de commodities brasileiras vendidas no exterior.
O professor João Luiz Mascolo, do Ibmec-SP, afirma que o
movimento de baixa internacional do dólar resulta especialmente dos juros menores nos
EUA, que tornaram o país menos atrativo aos olhos dos investidores. Para ele, o mesmo
movimento beneficia o Brasil,
que ficou com taxas sensivelmente maiores desde que o Fed
reduziu, na terça, os juros americanos. "Em curto prazo, a diferença do juro brasileiro tende
a apreciar a moeda", disse.
Segundo Mascolo, no médio
prazo o equilíbrio do câmbio
brasileiro vai depender do impacto da crise americana no
crescimento internacional, que
tende a diminuir a demanda e
os preços de produtos brasileiros. O movimento pode diminuir o fluxo de dinheiro ao país
e enfraquecer o real. "Com o
mundo crescendo menos, o superávit comercial será menor e
o apetite ao risco também. Por
outro lado, o "investment grade"
[selo de bom pagador] deve fazer diferença. O mais provável é
que o dólar [no Brasil] fique onde está hoje", disse.
A alta do euro também tem
pouco impacto no mercado de
câmbio brasileiro. Adilson
Goes, da Corretora LevyCam,
afirma que o euro soma menos
de 15% do mercado de câmbio
de moedas no Brasil, apesar de
a União Européia ter se tornado a maior parceira comercial
do país, com destino de quase
25% das exportações.
Goes afirma que as operações
de câmbio de real para euro
embutem uma dupla conta: a
do real para dólar, e depois a da
moeda americana para a européia. "Não há vida própria [no
mercado] de euro com real no
Brasil", disse Goes.
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