São Paulo, sábado, 21 de outubro de 2000

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CRISE NOVA
Moeda dos EUA atinge maior valor em relação ao real desde dezembro de 99; mercado deve acordar quente na segunda
Argentina e Israel levam dólar a alta recorde

FABRICIO VIEIRA
LEONARDO SOUZA
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise no Oriente Médio e a preocupação com a economia argentina, mais uma vez, causaram nervosismo no mercado de câmbio ontem. O dólar comercial subiu pelo quarto dia consecutivo para fechar a R$ 1,886 (venda), a maior cotação desde 1º de dezembro do ano passado. A alta foi de 0,37% em relação ao encerramento do dia anterior.
O mercado iniciou os negócios estável, com sinais positivos do cenário externo, como a alta das Bolsas norte-americanas. Mas no fim da manhã rumores sobre a situação econômica da Argentina se intensificaram e passaram a pressionar a moeda.
O boato de uma possível renúncia do ministro das Finanças da Argentina, José Luis Machinea, foi o estopim.
A notícia de que Israel abandonaria as negociações com os palestinos, o que agravaria a crise no Oriente Médio e, assim, a pressão sobre o preço do petróleo, complementou o quadro de incertezas e fez com que o dólar comercial atingisse rapidamente a maior alta do dia, R$ 1,888.
"Um dos principais problemas com a volatilidade do petróleo é o quanto a crise vai atingir nossos parceiros comerciais, prejudicando as nossas exportações", afirma Dagoberto Proença Marques, da corretora Socopa.
A volatilidade do petróleo já havia feito o dólar atingir a máxima cotação do ano no último dia 13.
"O mercado de câmbio é muito sensível e acaba havendo um certo exagero nessa cotação", analisa Marques.
Segundo operadores, nessa época do ano empresas multinacionais começam a pressionar o mercado de câmbio comprando dólares para remessas de lucros e dividendos. Essa é uma forma de fazerem "hedge" (proteção contra as oscilações da moeda).
O desenrolar na crise do Oriente Médio no fim-de-semana será fundamental para o mercado na abertura dos negócios na segunda-feira.

O problema mora ao lado
A deterioração do quadro político-econômico da Argentina gera incertezas para os demais países da América Latina. Os investidores estrangeiros costumam pôr os países emergentes em um mesmo saco, quando a situação aperta em um desses mercados.
No caso do Brasil e da Argentina, essa generalização é forte devido à proximidade entre os dois países e à parceria econômica, como integrantes do Mercosul. Na opinião do professor Willian Eid Júnior, da FGV-SP, a Argentina está em um "beco sem saída", amarrada pelo atual sistema de câmbio rígido.
Na avaliação do professor, o melhor para os dois países seria que a Argentina desfizesse de vez o nó que a segura, mesmo que provocasse complicações no curto prazo. "A desvalorização da moeda geraria incertezas durante um certo tempo, mas resolveria o problema", disse ele. O câmbio fixo tem impedido o crescimento econômico argentino.
Alguns analistas acreditam que o dólar pode voltar a subir na segunda-feira, dependendo dos acontecimentos políticos no país vizinho no final de semana.
"A preocupação em relação à Argentina é sempre refletida na nossa taxa de câmbio", disse Milton Eggers, diretor de tesouraria do banco Votorantim.


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