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EFEITO COLATERAL
Entre 1995 e 2002, 19,9% dos empregos industriais foram perdidos
Fábricas brasileiras fecham mais vagas, mostra estudo
CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK
O Brasil foi o país mais afetado
pela redução do número de postos de trabalho em fábricas entre
1995 e 2002. No período, a queda
registrada foi de 19,9%.
Essa é a conclusão de relatório
da corretora Alliance Capital Management, em Nova York.
Para Joseph Carson, diretor de
pesquisa econômica da Alliance,
o mercado de trabalho das fábricas brasileiras sofreu um duplo
impacto negativo no período: a
desaceleração da economia mundial e a consolidação do Nafta
(Acordo de Livre Comércio na
América do Norte, na sigla em inglês), que fez os EUA priorizarem
investimentos no México.
"O principal período de declínio
do Brasil ocorreu entre 1995 e
1998. Provavelmente isso aconteceu devido aos efeitos da crise
asiática", disse Carson à Folha.
"As empresas estão passando
por um processo de reestruturação. Isso significa que, mesmo
com mais crescimento, não teremos aumento proporcional do
número de empregos", afirmou.
Outros países emergentes foram atingidos. Na China, a retração dos postos de trabalho foi de
15,3%. "A despeito do contínuo
fluxo de investimentos estrangeiros e da criação de empregos, a
China não conseguiu escapar da
tendência mundial de aumento
da produção com redução da força de trabalho", avalia Carson.
O recuo dos empregos foi global. Ao somar o desempenho das
20 maiores economias do mundo,
a retração foi de 11%. Traduzindo
essa perda em números, 22 milhões de empregos desapareceram entre 1995 e 2002.
Nos EUA, o estudo aponta redução de 11,3%. Para os representantes do setor de manufaturas
norte-americanos e alguns membros do Congresso, essa queda é
causada pela migração de empresas para países onde a mão-de-obra é mais barata, como a China.
Diante disso, acendeu-se o debate
sobre a criação de barreiras alfandegárias contra manufaturados
chineses na tentativa de proteger
os empregos dos americanos.
"Esse tipo de medida não vai
adiantar. O estudo mostrou que
não é a busca de mão-de-obra barata que diminuiu os empregos.
Na China, a queda foi até maior
que nos EUA", afirmou Carson.
Na contramão dessa queda, a
média do desempenho da produtividade em todos os países estudados cresceu 30%. Para Carson,
esse quadro é fruto do desenvolvimento tecnológico e, em grande
medida, das pressões para aumentar a competitividade.
Contra a maré
De acordo com o levantamento,
Canadá, México e Espanha foram
as grandes exceções do enxugamento mundial de empregos.
Acordos regionais e bilaterais de
comércio nesses países são a razão apontada pela Alliance para o
aumento das vagas.
No México, cuja quantidade de
vagas em fábricas cresceu 1,1%, o
maior impulso foi conseguido no
final dos anos 90. A desvalorização cambial, em 1994, contribuiu
para aumentar as exportações e,
em consequência, o número de
empregos. A tendência atual é a
de inversão desse crescimento.
Na Espanha, houve uma expansão de 24,6% entre 1995 e 2002.
No Canadá, a alta foi de 22%.
Carson destaca, porém, que na
Espanha a base de comparação
era pequena.
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