UOL


São Paulo, terça-feira, 21 de outubro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EFEITO COLATERAL

Entre 1995 e 2002, 19,9% dos empregos industriais foram perdidos

Fábricas brasileiras fecham mais vagas, mostra estudo

CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK

O Brasil foi o país mais afetado pela redução do número de postos de trabalho em fábricas entre 1995 e 2002. No período, a queda registrada foi de 19,9%.
Essa é a conclusão de relatório da corretora Alliance Capital Management, em Nova York.
Para Joseph Carson, diretor de pesquisa econômica da Alliance, o mercado de trabalho das fábricas brasileiras sofreu um duplo impacto negativo no período: a desaceleração da economia mundial e a consolidação do Nafta (Acordo de Livre Comércio na América do Norte, na sigla em inglês), que fez os EUA priorizarem investimentos no México.
"O principal período de declínio do Brasil ocorreu entre 1995 e 1998. Provavelmente isso aconteceu devido aos efeitos da crise asiática", disse Carson à Folha.
"As empresas estão passando por um processo de reestruturação. Isso significa que, mesmo com mais crescimento, não teremos aumento proporcional do número de empregos", afirmou.
Outros países emergentes foram atingidos. Na China, a retração dos postos de trabalho foi de 15,3%. "A despeito do contínuo fluxo de investimentos estrangeiros e da criação de empregos, a China não conseguiu escapar da tendência mundial de aumento da produção com redução da força de trabalho", avalia Carson.
O recuo dos empregos foi global. Ao somar o desempenho das 20 maiores economias do mundo, a retração foi de 11%. Traduzindo essa perda em números, 22 milhões de empregos desapareceram entre 1995 e 2002.
Nos EUA, o estudo aponta redução de 11,3%. Para os representantes do setor de manufaturas norte-americanos e alguns membros do Congresso, essa queda é causada pela migração de empresas para países onde a mão-de-obra é mais barata, como a China. Diante disso, acendeu-se o debate sobre a criação de barreiras alfandegárias contra manufaturados chineses na tentativa de proteger os empregos dos americanos.
"Esse tipo de medida não vai adiantar. O estudo mostrou que não é a busca de mão-de-obra barata que diminuiu os empregos. Na China, a queda foi até maior que nos EUA", afirmou Carson.
Na contramão dessa queda, a média do desempenho da produtividade em todos os países estudados cresceu 30%. Para Carson, esse quadro é fruto do desenvolvimento tecnológico e, em grande medida, das pressões para aumentar a competitividade.

Contra a maré
De acordo com o levantamento, Canadá, México e Espanha foram as grandes exceções do enxugamento mundial de empregos. Acordos regionais e bilaterais de comércio nesses países são a razão apontada pela Alliance para o aumento das vagas.
No México, cuja quantidade de vagas em fábricas cresceu 1,1%, o maior impulso foi conseguido no final dos anos 90. A desvalorização cambial, em 1994, contribuiu para aumentar as exportações e, em consequência, o número de empregos. A tendência atual é a de inversão desse crescimento.
Na Espanha, houve uma expansão de 24,6% entre 1995 e 2002. No Canadá, a alta foi de 22%.
Carson destaca, porém, que na Espanha a base de comparação era pequena.


Texto Anterior: Efeito colateral: Combate à inflação eleva desemprego na AL
Próximo Texto: Crescer pouco afetou país, diz Iedi
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.