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São Paulo, terça-feira, 21 de outubro de 2003

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EFEITO COLATERAL

Segundo estudo do BID, moeda estável e leis trabalhistas impedem o ajuste de custos via redução de salários

Combate à inflação eleva desemprego na AL

HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O controle da inflação nos países da América Latina na década de 90 teve como efeito colateral o aumento do desemprego. Estudo do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) avalia que, com a moeda estável, os ajustes aos choques econômicos nas empresas não puderam mais ser feitos por meio da defasagem dos salários, o que era possível em um ambiente inflacionário.
Dessa forma, as empresas foram obrigadas a demitir para se ajustar. "O êxito do combate à inflação aumentou o desemprego causado por choques externos", disse Gustavo Márquez, especialista em relações de trabalho do BID, entidade que apoiou tais medidas na década passada.
No estudo "Procuram-se bons empregos", divulgado ontem, o banco analisa o comportamento do mercado de trabalho na América Latina ao longo da década de 1990 e também nos anos de 2000 e de 2001. Ou seja, não inclui a piora no mercado de trabalho registrada em 2002 e em 2003.
De acordo com o relatório, a cada dia útil 210 milhões de latino-americanos se oferecem no mercado de trabalho. O documento revela também que, a cada ano, um em cada quatro trabalhadores troca de emprego -índice de rotatividade de 25%. O indicador, de acordo com o estudo, é semelhante ao de países desenvolvidos.
Para o BID, o mercado de trabalho na América Latina não está funcionando bem. Entre os problemas detectados estão baixa escolarização dos trabalhadores, baixa produtividade, falta de qualificação de mão-de-obra, baixos salários e alto desemprego.
Vice-presidente do banco, Paulo Paiva, ex-ministro do Trabalho e do Planejamento no governo FHC, estimou que a América Latina deverá ter um crescimento médio de 4% em 2004.
Mas, segundo avaliação do BID, apenas o crescimento econômico não resolverá o problema do desemprego.

Excesso de proteção
O BID fez uma série de recomendações de políticas para reduzir o desemprego.
O banco sugere, por exemplo, que as políticas de emprego facilitem a tarefa do mercado de "alocar recursos e renda entre trabalhadores e empresas".
Segundo o BID, a excessiva proteção legal do trabalhador do poder dos empregadores, que seria comum na região, estimula o desemprego informal.
Para o banco, os trabalhadores estão protegidos no papel, o que torna o emprego caro, mas o desrespeito à legislação é norma.
Os dados do BID demonstram que 45% dos trabalhadores não se beneficiam dos contratos formais de trabalho, que dão garantias como o pagamento de seguro-desemprego. Um em cada dois trabalhadores recebe salário baixo demais para retirar uma família média da pobreza, e 70% das famílias dependem exclusivamente do trabalho para sobreviver.
Além de serem baixos, os salários crescem lentamente. Isso se deve, de acordo com o BID, à baixa produtividade do trabalho.
O banco avalia que cláusulas de proteção do emprego podem estar impedindo o aumento de produtividade dos trabalhadores.
O estudo também revela distorções salariais entre homens e mulheres e entre trabalhadores com níveis de instrução diferente. De acordo com o BID, os homens ganham salários 26,54% maiores na América Latina. No Brasil, essa diferença é de 46,78%.


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