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EFEITO COLATERAL
Segundo estudo do BID, moeda estável e leis trabalhistas impedem o ajuste de custos via redução de salários
Combate à inflação eleva desemprego na AL
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O controle da inflação nos países da América Latina na década
de 90 teve como efeito colateral o
aumento do desemprego. Estudo
do BID (Banco Interamericano de
Desenvolvimento) avalia que,
com a moeda estável, os ajustes
aos choques econômicos nas empresas não puderam mais ser feitos por meio da defasagem dos salários, o que era possível em um
ambiente inflacionário.
Dessa forma, as empresas foram obrigadas a demitir para se
ajustar. "O êxito do combate à inflação aumentou o desemprego
causado por choques externos",
disse Gustavo Márquez, especialista em relações de trabalho do
BID, entidade que apoiou tais medidas na década passada.
No estudo "Procuram-se bons
empregos", divulgado ontem, o
banco analisa o comportamento
do mercado de trabalho na América Latina ao longo da década de
1990 e também nos anos de 2000 e
de 2001. Ou seja, não inclui a piora
no mercado de trabalho registrada em 2002 e em 2003.
De acordo com o relatório, a cada dia útil 210 milhões de latino-americanos se oferecem no mercado de trabalho. O documento
revela também que, a cada ano,
um em cada quatro trabalhadores
troca de emprego -índice de rotatividade de 25%. O indicador,
de acordo com o estudo, é semelhante ao de países desenvolvidos.
Para o BID, o mercado de trabalho na América Latina não está
funcionando bem. Entre os problemas detectados estão baixa escolarização dos trabalhadores,
baixa produtividade, falta de qualificação de mão-de-obra, baixos
salários e alto desemprego.
Vice-presidente do banco, Paulo Paiva, ex-ministro do Trabalho
e do Planejamento no governo
FHC, estimou que a América Latina deverá ter um crescimento médio de 4% em 2004.
Mas, segundo avaliação do BID,
apenas o crescimento econômico
não resolverá o problema do desemprego.
Excesso de proteção
O BID fez uma série de recomendações de políticas para reduzir o desemprego.
O banco sugere, por exemplo,
que as políticas de emprego facilitem a tarefa do mercado de "alocar recursos e renda entre trabalhadores e empresas".
Segundo o BID, a excessiva proteção legal do trabalhador do poder dos empregadores, que seria
comum na região, estimula o desemprego informal.
Para o banco, os trabalhadores
estão protegidos no papel, o que
torna o emprego caro, mas o desrespeito à legislação é norma.
Os dados do BID demonstram
que 45% dos trabalhadores não se
beneficiam dos contratos formais
de trabalho, que dão garantias como o pagamento de seguro-desemprego. Um em cada dois trabalhadores recebe salário baixo
demais para retirar uma família
média da pobreza, e 70% das famílias dependem exclusivamente
do trabalho para sobreviver.
Além de serem baixos, os salários crescem lentamente. Isso se
deve, de acordo com o BID, à baixa produtividade do trabalho.
O banco avalia que cláusulas de
proteção do emprego podem estar impedindo o aumento de produtividade dos trabalhadores.
O estudo também revela distorções salariais entre homens e mulheres e entre trabalhadores com
níveis de instrução diferente. De
acordo com o BID, os homens ganham salários 26,54% maiores na
América Latina. No Brasil, essa
diferença é de 46,78%.
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