São Paulo, quinta-feira, 21 de outubro de 2004

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Contrariado, presidente cobrará explicação do BC

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi surpreendido pela elevação da taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual ao tomar ciência da decisão no início da noite de ontem, em São Paulo. A taxa passou a 16,75% ao ano.
A Folha apurou que Lula, que deu sinal ao Banco Central na semana passada de que era contrário a um aumento da Selic neste mês, já demonstrava ao longo do dia de ontem a expectativa de que alguma elevação viria.
Essa expectativa se devia à reação negativa do BC a uma reportagem da Folha, publicada na segunda-feira, que dava conta do desejo de Lula. Mas a intensidade da decisão do BC o surpreendeu e o contrariou, relataram à Folha interlocutores do presidente.
Interlocutores de Lula disseram ainda ontem à noite que a reação pública do presidente deverá ser de resignação, mas ele cobrará explicações do BC em reuniões com o ministro Antonio Palocci e o presidente do BC, Henrique Meirelles. Em conversas reservadas na semana passada, Lula disse que haveria "confusão" caso o BC elevasse os juros nesta semana.
Motivo: ele foi convencido a elevar a meta de superávit primário deste ano de 4,25% para 4,5% do PIB (Produto Interno Bruto) com base no argumento de que ela, pelo menos, frearia a necessidade de aumento dos juros. O superávit primário é toda a economia do setor público para pagar juros.
Ao elevar a Selic, a dívida pública sobe e o impacto positivo do superávit para abatê-la diminui ou se torna ineficaz. Isso, avalia o presidente, pode minar a retomada do crescimento econômico porque influencia negativamente os ânimos do empresariado para investimentos. Lula também tem ouvido de economistas de fora do governo que os sinais recentes de queda da inflação não justificam a dureza da política do BC.
Por ser unânime, contando também com o voto de Meirelles, a decisão de ontem foi interpretada no Palácio do Planalto como forma de o BC demonstrar que não se curva à pressão política.


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