São Paulo, quinta-feira, 21 de outubro de 2004

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VISÃO DE FORA

Aperto monetário está correto, vê economista

LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK

O aperto da política monetária deve garantir a sustentabilidade do atual crescimento econômico, ainda que reduza seu ritmo. A opinião é de Nuno Camara, economista sênior para América Latina do Dresdner Kleinwort Wasserstein em Nova York.
O economista espera que até o fim deste ano a taxa chegue a 17%. Segundo Camara, o mais importante para incentivar o crescimento hoje não é cortar juros, mas o governo enxugar gastos para que sobre mais crédito no mercado para as empresas privadas.
 

Folha - Juros muito altos não vão atravancar o crescimento?
Nuno Camara -
Na margem há um desaquecimento, claro. Mas o objetivo é conquistar estabilidade de preços, ou seja, uma sustentabilidade do crescimento atual. Na opinião do investidor, o Banco Central está subindo os juros por um bom motivo, e não por causa de uma crise externa ou de uma fuga de capital. O que o investidor vê é que o BC está tentando fazer um ajuste fino para se certificar de que a demanda agregada está crescendo num ritmo que possa ser comportado pela economia. Isso dá um grau de previsibilidade muito grande, que combinado a um ambiente microeconômico positivo e com um marco regulatório favorável não tem porque inibir investimento. A percepção está muito positiva em relação ao Brasil, mesmo com a expectativa de aperto monetário.

Folha - Controlar a inflação é mais efetivo do que reduzir juros para incentivar o consumo?
Camara -
Sim. O que a gente tem visto no Brasil é um aumento do poder aquisitivo do pessoal de renda mais baixa. Você pode não querer comprar agora porque o crédito está mais caro, mas pode se planejar para um, dois, três anos à frente, um horizonte com o qual o brasileiro não trabalhava. Isso tem um impacto muito maior no consumo do que um crescimento de curto prazo inflado por uma taxa de juros baixa.

Folha - Não está sendo criado peso excessivo sobre a dívida?
Camara -
É verdade, mas você tem de colocar todos os parâmetros de forma conjunta e ver qual tem o peso maior. Um aumento de agora até o fim do ano de 150 pontos básicos tem um custo "X" para a dívida, mas a queda de renda que virá de uma inflação mais alta, e esse efeito ilusório de crescimento tem peso muito maior. Mais vale ter um crescimento de 3% por cinco anos do que um crescimento de 4,5% esse ano, 5% no ano que vem e de repente, queda. Precisamos ainda de reformas, que o governo possa manter investimentos mas cortar gastos não-essenciais. Quanto mais o governo tomar dinheiro no mercado, menos dinheiro há para o setor privado -e o setor privado tem de recorrer ao mercado internacional e fica a mercê do investidor externo. Esse é hoje o maior problema.


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