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Banco já havia comunicado ao governo saída, mas não emitiu nota antes para não prejudicar o leilão
Itaú desistiu do leilão na semana passada
CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial
O Banco Itaú já havia comunicado ao governo, na semana passada, que desistira de disputar o
Banespa, por achar que o preço
era excessivamente elevado.
Só não emitiu nota oficial, ao
contrário de outros bancos que
também desistiram, para "não
prejudicar o leilão", conforme a
versão obtida pela Folha junto à
cúpula do banco.
Duas foram as contas que fizeram a direção do Itaú achar excessivo o preço mínimo definido para o Banespa:
1 - Se for aplicado ao sistema de
previdência dos funcionários do
Banespa o mesmo critério usado
pelo Itaú para seus funcionários,
o buraco nas contas do fundo previdenciário seria da ordem de R$
2 bilhões. Mais, portanto, que o
valor mínimo fixado pelo governo para o leilão de ontem.
2 - Se fosse feito um balanço
consolidado Itaú/Banespa, os créditos fiscais que esse conglomerado teria a receber seriam iguais ao
seu patrimônio líquido. Ou, posto
de outra forma, todo o patrimônio líquido do Itaú/Banespa estaria emprestado ao governo, para
ser recebido não se sabe exatamente quando nem em que condições.
Rigoroso sigilo
Mesmo depois de tomar a decisão de desistir, a cúpula do Itaú
manteve o mais rigoroso sigilo sobre o comportamento a adotar na
segunda-feira.
Tanto que o representante do
banco foi despachado para o Rio
de Janeiro com a informação de
que só na própria segunda-feira
(ontem) receberia as instruções
da cúpula sobre o que fazer.
E recebeu a instrução de não fazer nada, ou seja, de não participar do leilão.
Mal terminou a disputa pelo Banespa, aportou na mesa da diretoria do Itaú um fax de cumprimentos de um dos principais economistas do Citibank (outro dos
bancos que desistiu do Banespa).
Além de elogiar a decisão do Itaú,
o fax chama de "indecentemente
alto" o preço pago pelo banco espanhol BSCH pela instituição
paulista.
A cúpula do Itaú, sempre de
acordo com o apurado pela Folha, não espera grandes alterações
na cena financeira brasileira pelo
fato de o BSCH ter se transformado, com a compra do Banespa, no
terceiro maior banco privado do
país (atrás apenas do Bradesco e
do próprio Itaú). No ranking geral, o Banco do Brasil continua na
liderança.
Sem ameaça
Pelas cálculos do Itaú, o banco
espanhol gastará entre três e cinco
anos para digerir o Banespa, prazo em que não poderá, se a tese estiver correta, avançar mais a ponto de ameaçar os dois bancos nacionais que o antecedem no ranking.
Mesmo depois desse prazo, espera a cúpula do Banco Itaú, o
BSCH não terá vida fácil. Ela
aposta nas análises de especialistas que mostram que os grandes
bancos brasileiros são fortes, bem
organizados e tem o que o Itaú
chama de "estrutura tecnológica
de primeira ordem", sempre de
acordo com apuração da Folha.
Por fim, o Itaú desconfia da capacidade de o BSCH de lidar com
o Sindicato dos Bancários, por
um suposto (ou real) estilo bem
mais agressivo do que seus concorrentes brasileiros.
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