São Paulo, terça-feira, 21 de novembro de 2000

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Banco já havia comunicado ao governo saída, mas não emitiu nota antes para não prejudicar o leilão
Itaú desistiu do leilão na semana passada

CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial

O Banco Itaú já havia comunicado ao governo, na semana passada, que desistira de disputar o Banespa, por achar que o preço era excessivamente elevado.
Só não emitiu nota oficial, ao contrário de outros bancos que também desistiram, para "não prejudicar o leilão", conforme a versão obtida pela Folha junto à cúpula do banco.
Duas foram as contas que fizeram a direção do Itaú achar excessivo o preço mínimo definido para o Banespa:
1 - Se for aplicado ao sistema de previdência dos funcionários do Banespa o mesmo critério usado pelo Itaú para seus funcionários, o buraco nas contas do fundo previdenciário seria da ordem de R$ 2 bilhões. Mais, portanto, que o valor mínimo fixado pelo governo para o leilão de ontem.
2 - Se fosse feito um balanço consolidado Itaú/Banespa, os créditos fiscais que esse conglomerado teria a receber seriam iguais ao seu patrimônio líquido. Ou, posto de outra forma, todo o patrimônio líquido do Itaú/Banespa estaria emprestado ao governo, para ser recebido não se sabe exatamente quando nem em que condições.

Rigoroso sigilo
Mesmo depois de tomar a decisão de desistir, a cúpula do Itaú manteve o mais rigoroso sigilo sobre o comportamento a adotar na segunda-feira.
Tanto que o representante do banco foi despachado para o Rio de Janeiro com a informação de que só na própria segunda-feira (ontem) receberia as instruções da cúpula sobre o que fazer.
E recebeu a instrução de não fazer nada, ou seja, de não participar do leilão.
Mal terminou a disputa pelo Banespa, aportou na mesa da diretoria do Itaú um fax de cumprimentos de um dos principais economistas do Citibank (outro dos bancos que desistiu do Banespa). Além de elogiar a decisão do Itaú, o fax chama de "indecentemente alto" o preço pago pelo banco espanhol BSCH pela instituição paulista.
A cúpula do Itaú, sempre de acordo com o apurado pela Folha, não espera grandes alterações na cena financeira brasileira pelo fato de o BSCH ter se transformado, com a compra do Banespa, no terceiro maior banco privado do país (atrás apenas do Bradesco e do próprio Itaú). No ranking geral, o Banco do Brasil continua na liderança.

Sem ameaça
Pelas cálculos do Itaú, o banco espanhol gastará entre três e cinco anos para digerir o Banespa, prazo em que não poderá, se a tese estiver correta, avançar mais a ponto de ameaçar os dois bancos nacionais que o antecedem no ranking.
Mesmo depois desse prazo, espera a cúpula do Banco Itaú, o BSCH não terá vida fácil. Ela aposta nas análises de especialistas que mostram que os grandes bancos brasileiros são fortes, bem organizados e tem o que o Itaú chama de "estrutura tecnológica de primeira ordem", sempre de acordo com apuração da Folha.
Por fim, o Itaú desconfia da capacidade de o BSCH de lidar com o Sindicato dos Bancários, por um suposto (ou real) estilo bem mais agressivo do que seus concorrentes brasileiros.



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