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São Paulo, sexta-feira, 21 de novembro de 2003

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Empresa brasileira espera não pagar "pedágio"

DO ENVIADO ESPECIAL A MIAMI

Henrique Rzezinski, vice-presidente da Embraer, sai de Miami torcendo para que o acordo sobre a Alca, que considera "razoável", se transforme em bem mais que isso: "Precisamos ver se Canadá e México aceitam que o Brasil tenha acesso ao mercado norte-americano sem ter que pagar o pedágio que eles já pagaram", diz.
É uma alusão ao fato de que, com o Nafta (o acordo EUA/Canadá/México), os dois países tiveram que abrir seus mercados e adaptar suas regras, com o custo inevitável. Se o Brasil conseguir que a Alca saia com compromissos mínimos em regras e máximos em abertura de mercado, seu "pedágio" será menor.
Mesmo assim, haverá custos, como aponta Humberto Barbato (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), setor que não se considera em condições de abrir-se a curto prazo:
"Eu disse aos outros empresários que vieram a Miami que 50% das exportações já entram livres de imposto nos EUA e outros 25% estão no Sistema Geral de Preferências (mecanismo que reduz ou zera as tarifas). Para que escancarar nosso mercado em troca dos 25% restantes?" pergunta.
Barbato admite francamente, no entanto, que sua posição, favorável ao texto aguado que sairá de Miami, é minoritária na Coalizão Empresarial Brasileira, que despachou mais de cem representantes para o Fórum Empresarial das Américas, encerrado anteontem.
A maioria apóia uma abertura mais ampla, especialmente os representantes do setor agrícola, ávidos para ver cair o portentoso muro protecionista americano.
Há uma lógica na avidez, segundo Pedro de Camargo Netto, com longa experiência em negociações internacionais agrícolas, como empresário ou como alto funcionário da Agricultura no governo Fernando Henrique Cardoso:
"No dia em que o Brasil crescer de fato, fatalmente vai importar mais, com Alca ou sem Alca, com acordo com os europeus ou sem, com acordo na OMC ou sem. Como equilibrar então o balanço externo? Com exportações da área agrícola, que não precisam de estímulo, investimento, nada."
De fato, o agronegócio do país tem chegado perto de representar 50% das exportações nos últimos meses, apesar das barreiras não só nos EUA como na Europa.
Se elas forem reduzidas, calcula Camargo Netto, o Brasil poderá aumentar em US$ 1 bilhão suas vendas externas do agronegócio.

Resistência
Mas não parece haver disposição dos norte-americanos em ceder na agricultura. Gilman Viana Rodrigues (Confederação Nacional da Agricultura), outro veterano de reuniões internacionais, diz que, nas conversas com os homens de negócio dos EUA, não percebeu nenhuma modificação na resistência em entregar o setor. "Eles continuam fazendo o discurso do livre comércio apenas para o espelho deles próprios."
Tem razão. Na entrevista em que os líderes da indústria norte-americana atacaram o Brasil, por sua suposta resistência ao livre comércio, anteontem, a Folha quis saber se a Alca abrangente que eles defendem seria abrangente também na agricultura.
"Se quisermos ter todos a bordo, inclusive o Brasil, teremos que fazer tudo o que for politicamente possível", disse Scott Otteman, diretor de Política Comercial Internacional da associação de manufatureiras. A expressão "politicamente possível" é mortal, especialmente em ano eleitoral: nenhum presidente dos EUA vai abrir o mercado agrícola e correr o risco de perder votos. (CR)


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