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Empresa brasileira espera não pagar "pedágio"
DO ENVIADO ESPECIAL A MIAMI
Henrique Rzezinski, vice-presidente da Embraer, sai de Miami
torcendo para que o acordo sobre
a Alca, que considera "razoável",
se transforme em bem mais que
isso: "Precisamos ver se Canadá e
México aceitam que o Brasil tenha
acesso ao mercado norte-americano sem ter que pagar o pedágio
que eles já pagaram", diz.
É uma alusão ao fato de que,
com o Nafta (o acordo EUA/Canadá/México), os dois países tiveram que abrir seus mercados e
adaptar suas regras, com o custo
inevitável. Se o Brasil conseguir
que a Alca saia com compromissos mínimos em regras e máximos em abertura de mercado, seu
"pedágio" será menor.
Mesmo assim, haverá custos,
como aponta Humberto Barbato
(Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), setor
que não se considera em condições de abrir-se a curto prazo:
"Eu disse aos outros empresários que vieram a Miami que 50%
das exportações já entram livres
de imposto nos EUA e outros 25%
estão no Sistema Geral de Preferências (mecanismo que reduz ou
zera as tarifas). Para que escancarar nosso mercado em troca dos
25% restantes?" pergunta.
Barbato admite francamente,
no entanto, que sua posição, favorável ao texto aguado que sairá de
Miami, é minoritária na Coalizão
Empresarial Brasileira, que despachou mais de cem representantes para o Fórum Empresarial das
Américas, encerrado anteontem.
A maioria apóia uma abertura
mais ampla, especialmente os representantes do setor agrícola,
ávidos para ver cair o portentoso
muro protecionista americano.
Há uma lógica na avidez, segundo Pedro de Camargo Netto, com
longa experiência em negociações
internacionais agrícolas, como
empresário ou como alto funcionário da Agricultura no governo
Fernando Henrique Cardoso:
"No dia em que o Brasil crescer
de fato, fatalmente vai importar
mais, com Alca ou sem Alca, com
acordo com os europeus ou sem,
com acordo na OMC ou sem. Como equilibrar então o balanço externo? Com exportações da área
agrícola, que não precisam de estímulo, investimento, nada."
De fato, o agronegócio do país
tem chegado perto de representar
50% das exportações nos últimos
meses, apesar das barreiras não só
nos EUA como na Europa.
Se elas forem reduzidas, calcula
Camargo Netto, o Brasil poderá
aumentar em US$ 1 bilhão suas
vendas externas do agronegócio.
Resistência
Mas não parece haver disposição dos norte-americanos em ceder na agricultura. Gilman Viana
Rodrigues (Confederação Nacional da Agricultura), outro veterano de reuniões internacionais, diz
que, nas conversas com os homens de negócio dos EUA, não
percebeu nenhuma modificação
na resistência em entregar o setor.
"Eles continuam fazendo o discurso do livre comércio apenas
para o espelho deles próprios."
Tem razão. Na entrevista em
que os líderes da indústria norte-americana atacaram o Brasil, por
sua suposta resistência ao livre comércio, anteontem, a Folha quis
saber se a Alca abrangente que
eles defendem seria abrangente
também na agricultura.
"Se quisermos ter todos a bordo, inclusive o Brasil, teremos que
fazer tudo o que for politicamente
possível", disse Scott Otteman, diretor de Política Comercial Internacional da associação de manufatureiras. A expressão "politicamente possível" é mortal, especialmente em ano eleitoral: nenhum presidente dos EUA vai
abrir o mercado agrícola e correr
o risco de perder votos.
(CR)
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