|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SOB SUSPEITA
Secretário da Receita, acusado de "negligência" em autuação, nega acusações e diz que não há provas contra ele
Procuradores pedem afastamento de Rachid
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O MPF (Ministério Público Federal) entrou com ação de improbidade administrativa na Justiça
Federal na sexta-feira, na qual pediu o afastamento do secretário
da Receita, Jorge Rachid, e de um
de seus adjuntos diretos, Ricardo
Pinheiro.
Na ação, com pedido liminar, o
MPF do Distrito Federal requisitou também a indisponibilidade
dos bens dos acusados para ressarcir a União no valor correspondente ao suposto dano causado, ainda a ser calculado.
O processo contra Rachid se
deu por duas razões, num caso
que vem desde 1994, com desdobramentos até outubro deste ano,
de acordo com o documento assinado pelos procuradores Lauro
Cardoso e Valquíria Quixadá.
Rachid teria agido com "negligência" em um auto de infração
de 1994 contra a construtura OAS,
quando era auditor fiscal em Salvador (BA), o que teria beneficiado dois colegas de profissão então
licenciados que defendiam a empresa baiana.
A partir de 2003, já na condição
de secretário, Rachid teria usado o
cargo para "cercear" trabalhos de
investigação interna da Receita
contra ele próprio e os auditores
Sandro Martins e Paulo Baltazar
Carneiro, que defenderam na
época a OAS.
Conhecidos como "anfíbios"
(ora estão no fisco, ora na iniciativa privada), Martins e Carneiro
também respondem a processo
por improbidade administrativa
em outro caso, que averigua a
possibilidade de enriquecimento
ilícito por suposta "venda de legislação" no âmbito da Receita.
O secretário nega as acusações e
diz que não há provas contra ele.
Em 1994, Rachid integrava grupo de auditores que multou a
OAS em R$ 1,1 bilhão, valor posteriormente reduzido para R$ 25
milhões. Pelo sucesso obtido na
expressiva redução da penalidade, Sandro Martins e Paulo Baltazar ganharam R$ 18,3 milhões.
Depois de ter ocupado cargo de
confiança na gestão do ex-secretário Everardo Maciel, Martins
chegou a ficar lotado no gabinete
de Rachid como assessor especial
por três meses, no início de 2003.
Em 1994, Ricardo Pinheiro era o
coordenador operacional de fiscalização e gerenciou os trabalhos
contra a OAS -por isso foi incluído na ação.
No começo de 2003, o então
corregedor-geral da Receita,
Moacir Leão, instaurou processo
administrativo contra todos os
auditores envolvidos no caso
OAS, inclusive Rachid, seu superior hierárquico, o que serviu de
base para o processo movido pelo
Ministério Público.
De acordo com os procuradores, após a obtenção de documentos e depoimentos de pessoas envolvidas no caso, somente Rachid
e a auditora aposentada Diná
Sampaio (também alvo da ação)
praticaram atos de improbidade
administrativa na produção do
auto de infração contra a OAS.
Segundo a Delegacia de Julgamento da Receita em Salvador, o
valor da multa caiu drasticamente
porque, entre outros fatores, os
auditores se basearam em fórmulas de cálculo não autorizadas pela lei para arbitrar o valor da multa aplicada.
"Os prejuízos causados ao patrimônio público são decorrentes da
negligência dos réus na arrecadação dos tributos devidos pela
Construtora OAS Ltda", ressaltaram os procuradores.
Em meados deste ano, o ex-corregedor-geral da Receita Moacir
Leão encaminhou aos membros
da comissão de inquérito por ele
nomeados para investigar os casos da OAS e da "venda de legislação" documento no qual reproduzia conversa que tivera com
Rachid dias antes.
Segundo Leão, entre outras afirmações, Rachid dissera que o ex-secretário Everardo Maciel (envolvido indiretamente no caso de
"venda de legislação", pois as supostas irregularidades teriam
ocorrido em sua gestão) contratara o ex-procurador geral da República Aristides Junqueira como
seu advogado.
"Observa-se o envolvimento direto e pessoal do réu Jorge Antônio Deher Rachid na sua própria
defesa, bem como [...] de Sandro
Martins Silva e Paulo Baltazar
Carneiro", escreveram os procuradores.
Os integrantes da comissão de
inquérito do caso OAS foram nomeados como peritos de um caso
correlato ao da suposta "venda de
legislação".
No dia 6 de outubro deste ano,
Rachid assinou a portaria 4491,
que estabelece a possibilidade de
afastar um membro de comissão
de inquérito de trabalhos de investigação quando o servidor
acumular a função de perito nomeado pela Justiça ou pelo Ministério Público. Os únicos servidores nessa situação hoje são os da
comissão de inquérito da OAS
nomeados por Leão.
"[...] A portaria [...] é parte da
conduta ilícita e continuada do
Secretário da Receita Federal, visando obstruir os trabalhos do colegiado disciplinar a que estão afetas várias investigações fundamentais sobre atos de improbidade administrativa e corrupção",
escreveram os procuradores.
Texto Anterior: Mercado aberto Próximo Texto: Outro lado: Secretário afirma que não existem provas contra ele Índice
|