São Paulo, quarta-feira, 21 de novembro de 2007

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Exterior sustenta lucro de empresas dos EUA

Com dólar fraco e elevada demanda mundial, companhias norte-americanas compensam baixas vendas domésticas

No primeiro semestre, lucro das empresas no mercado interno ficou estagnado ante igual período de 2006; já no exterior cresceu 22%

Michael Lassman - 04.abr.07/Bloomberg
McDonald's na China; vendas crescem mais fora dos EUA


PETER S. GOODMAN
DO "NEW YORK TIMES", EM SALISBURY

Se o destino da Power Curbers dependesse apenas de clientes norte-americanos, o momento seria de preocupação aqui em Salisbury, na Carolina do Norte. A pequena empresa familiar fabrica máquinas que usam cimento para a produção de meios-fios e calçadas, e a expectativa para este ano é que as vendas no país caiam 10%, devido à crise no setor de construção dos EUA.
Mas, felizmente para a Power Curbers, e para a economia norte-americana em geral, a empresa conseguiu superar as barreiras geográficas. Com ajuda da queda do dólar, que torna os bens norte-americanos mais baratos nos mercados mundiais, a companhia, como milhares de outras empresas nos EUA, está aproveitando o rápido crescimento no exterior a fim de compensar as vendas lentas no mercado interno. "Houve uma sobreposição providencial", disse Dyke Messinger, presidente da Power Curbers, empresa criada por seu avô em 1953. "Sem os negócios externos, os dias seriam difíceis. Teríamos que fazer algumas demissões, certamente."
À medida que os EUA se aproximam de uma desaceleração econômica que muitos economistas prevêem que seja substancial, o sucesso das empresas do país em reforçar as vendas externas pode ajudar a amortecer o impacto. E pode também ajudar a impedir que a economia entre em recessão.
No primeiro semestre, os lucros auferidos por empresas norte-americanas no mercado do país não cresceram em nada, se comparados ao ano anterior, segundo uma análise da Economy.com, uma empresa do grupo Moody's. Mas os lucros no exterior cresceram 22%.
O McDonald's, símbolo de globalização, anunciou que suas vendas na África, na Ásia, na Europa e no Oriente Médio cresceram 250% mais rápido que suas vendas nos EUA.
Mas determinar se os negócios fortes no exterior poderão compensar a fraqueza no mercado interno em longo prazo é uma questão mais difícil. Ainda que a economia mundial venha crescendo em ritmo cerca de duas vezes superior ao da norte-americana -propelida pelo desenvolvimento vertiginoso da China, Índia e Rússia-, alguns economistas vêem indícios de arrefecimento.
O FMI (Fundo Monetário Internacional) recentemente previu uma ligeira desaceleração no crescimento mundial, no ano que vem, e alertou que o colapso nos mercados de crédito imobiliário poderia causar problemas ainda maiores. Caso as instituições européias sigam o exemplo dos bancos de Wall Street e contabilizem como prejuízos grandes montantes de ativos vinculados ao crédito imobiliário, isso poderia restringir os novos investimentos e desacelerar a economia.
Os exportadores europeus já enfrentam dificuldades devido aos efeitos do euro em disparada, que torna seus produtos mais dispendiosos. Fábricas na Ásia, América Latina e Europa estão se preparando para as conseqüências de uma queda no consumo norte-americano, que poderia reduzir o consumo de roupas produzidas na Guatemala, computadores produzidos na China e automóveis produzidos na Alemanha.
Recentemente, economistas começaram a debater se é possível que a economia mundial continue a se expandir mesmo diante de um recuo da atividade nos EUA. Alguns argumentam que as necessidades das sociedades em rápido desenvolvimento são tão grandes que elas seriam capazes de compensar o baixo crescimento dos países industrializados.
Mas, se o futuro será assim, alguns economistas alegam que o presente continua a ser determinado em larga medida pelas condições vigentes nos EUA -por larga margem, a maior economia mundial. Caso o declínio no preço das casas leve os americanos a consumir menos, isso resultaria em queda na demanda por aparelhos de DVD produzidos em fábricas do sul da China, por exemplo. E a queda, por sua vez, reduziria a demanda pelos chips fabricados nos EUA que são a peça central dos aparelhos de DVD, e pelas máquinas norte-americanas usadas na fabricação desses processadores. Em termos mais amplos, se as exportações chinesas se desaquecerem como resultado da queda dos gastos nos EUA, isso poderia resfriar a onda de empreendimentos imobiliários que vem recriando as cidades chinesas.
"Os Estados Unidos continuam a ser o grande propulsor do crescimento mundial", disse Kenneth Rogoff, ex-ecomomista chefe do FMI e hoje pesquisador da Brookings Institution. Por enquanto, porém, o ciclo está funcionando em modo reverso: a saúde dos mercados estrangeiros vem ajudando a sustentar os resultados das empresas norte-americanas.
Os Estados Unidos sofreram abalos devido à desaceleração no mercado imobiliário, mas o restante do mundo conseguiu evitar percalços, pelo menos até agora. Os altos preços da energia causaram problemas aos norte-americanos, porque os preços do petróleo são denominados em dólares. Países com outras moedas -especialmente os da Europa- estão desfrutando de uma proteção intrínseca contra a alta do petróleo, na forma da alta de suas moedas com relação ao dólar. E os países que exportam petróleo e outros bens naturais estão realizando imensos lucros, o que os leva a adquirir produtos e tecnologia nos EUA.
Até o final de setembro, as exportações dos EUA em 2007 haviam atingido a marca de US$ 1,2 trilhão, um salto de quase 12% diante do mesmo período em 2006. Ainda mais importantes, em termos de lucratividade das empresas norte-americanas, são as vendas externas de bens e serviços que elas produzem fora do país.
À medida que o capital saía dos Estados Unidos em direção a outros países, nas últimas décadas, o objetivo era em larga medida bancar fábricas capazes de produzir bens a baixo custo para os consumidores norte-americanos e de outros países ricos. Mas as multinacionais americanas com fábricas e escritórios em outros países estão cada vez mais interessadas em vender seus bens e serviços nesses países.
Seis anos atrás, as grandes empresas norte-americanas que revelam seus resultados de vendas internacionais vendiam um terço de seus produtos e serviços fora do país, de acordo com a análise de Howard Silverblatt, analista sênior de índices na Standard & Poor's. No ano passado, a proporção de vendas externas havia subido a 44%. No ano que vem, a previsão é de que as vendas externas superem as vendas no mercado norte-americano.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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