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Exterior sustenta lucro de empresas dos EUA
Com dólar fraco e elevada demanda mundial, companhias norte-americanas compensam baixas vendas domésticas
No primeiro semestre, lucro das empresas no mercado
interno ficou estagnado
ante igual período de 2006;
já no exterior cresceu 22%
Michael Lassman - 04.abr.07/Bloomberg
![](../images/b2111200701.jpg) |
McDonald's na China; vendas crescem mais fora dos EUA |
PETER S. GOODMAN
DO "NEW YORK TIMES", EM SALISBURY
Se o destino da Power Curbers dependesse apenas de
clientes norte-americanos, o
momento seria de preocupação
aqui em Salisbury, na Carolina
do Norte. A pequena empresa
familiar fabrica máquinas que
usam cimento para a produção
de meios-fios e calçadas, e a expectativa para este ano é que as
vendas no país caiam 10%, devido à crise no setor de construção dos EUA.
Mas, felizmente para a Power Curbers, e para a economia
norte-americana em geral, a
empresa conseguiu superar as
barreiras geográficas. Com ajuda da queda do dólar, que torna
os bens norte-americanos mais
baratos nos mercados mundiais, a companhia, como milhares de outras empresas nos
EUA, está aproveitando o rápido crescimento no exterior a
fim de compensar as vendas
lentas no mercado interno.
"Houve uma sobreposição
providencial", disse Dyke Messinger, presidente da Power
Curbers, empresa criada por
seu avô em 1953. "Sem os negócios externos, os dias seriam difíceis. Teríamos que fazer algumas demissões, certamente."
À medida que os EUA se
aproximam de uma desaceleração econômica que muitos economistas prevêem que seja
substancial, o sucesso das empresas do país em reforçar as
vendas externas pode ajudar a
amortecer o impacto. E pode
também ajudar a impedir que a
economia entre em recessão.
No primeiro semestre, os lucros auferidos por empresas
norte-americanas no mercado
do país não cresceram em nada,
se comparados ao ano anterior,
segundo uma análise da Economy.com, uma empresa do
grupo Moody's. Mas os lucros
no exterior cresceram 22%.
O McDonald's, símbolo de
globalização, anunciou que
suas vendas na África, na Ásia,
na Europa e no Oriente Médio
cresceram 250% mais rápido
que suas vendas nos EUA.
Mas determinar se os negócios fortes no exterior poderão
compensar a fraqueza no mercado interno em longo prazo é
uma questão mais difícil. Ainda
que a economia mundial venha
crescendo em ritmo cerca de
duas vezes superior ao da norte-americana -propelida pelo
desenvolvimento vertiginoso
da China, Índia e Rússia-, alguns economistas vêem indícios de arrefecimento.
O FMI (Fundo Monetário
Internacional) recentemente
previu uma ligeira desaceleração no crescimento mundial,
no ano que vem, e alertou que o
colapso nos mercados de crédito imobiliário poderia causar
problemas ainda maiores. Caso
as instituições européias sigam
o exemplo dos bancos de Wall
Street e contabilizem como
prejuízos grandes montantes
de ativos vinculados ao crédito
imobiliário, isso poderia restringir os novos investimentos
e desacelerar a economia.
Os exportadores europeus já
enfrentam dificuldades devido
aos efeitos do euro em disparada, que torna seus produtos
mais dispendiosos. Fábricas na
Ásia, América Latina e Europa
estão se preparando para as
conseqüências de uma queda
no consumo norte-americano,
que poderia reduzir o consumo
de roupas produzidas na Guatemala, computadores produzidos na China e automóveis
produzidos na Alemanha.
Recentemente, economistas
começaram a debater se é possível que a economia mundial
continue a se expandir mesmo
diante de um recuo da atividade nos EUA. Alguns argumentam que as necessidades das sociedades em rápido desenvolvimento são tão grandes que elas
seriam capazes de compensar o
baixo crescimento dos países
industrializados.
Mas, se o futuro será assim,
alguns economistas alegam que
o presente continua a ser determinado em larga medida pelas
condições vigentes nos EUA
-por larga margem, a maior
economia mundial. Caso o declínio no preço das casas leve os
americanos a consumir menos,
isso resultaria em queda na demanda por aparelhos de DVD
produzidos em fábricas do sul
da China, por exemplo. E a queda, por sua vez, reduziria a demanda pelos chips fabricados
nos EUA que são a peça central
dos aparelhos de DVD, e pelas
máquinas norte-americanas
usadas na fabricação desses
processadores. Em termos
mais amplos, se as exportações
chinesas se desaquecerem como resultado da queda dos gastos nos EUA, isso poderia resfriar a onda de empreendimentos imobiliários que vem recriando as cidades chinesas.
"Os Estados Unidos continuam a ser o grande propulsor
do crescimento mundial", disse
Kenneth Rogoff, ex-ecomomista chefe do FMI e hoje pesquisador da Brookings Institution.
Por enquanto, porém, o ciclo
está funcionando em modo reverso: a saúde dos mercados estrangeiros vem ajudando a sustentar os resultados das empresas norte-americanas.
Os Estados Unidos sofreram
abalos devido à desaceleração
no mercado imobiliário, mas o
restante do mundo conseguiu
evitar percalços, pelo menos
até agora. Os altos preços da
energia causaram problemas
aos norte-americanos, porque
os preços do petróleo são denominados em dólares. Países
com outras moedas -especialmente os da Europa- estão
desfrutando de uma proteção
intrínseca contra a alta do petróleo, na forma da alta de suas
moedas com relação ao dólar. E
os países que exportam petróleo e outros bens naturais estão
realizando imensos lucros, o
que os leva a adquirir produtos
e tecnologia nos EUA.
Até o final de setembro, as
exportações dos EUA em 2007
haviam atingido a marca de
US$ 1,2 trilhão, um salto de
quase 12% diante do mesmo
período em 2006. Ainda mais
importantes, em termos de lucratividade das empresas norte-americanas, são as vendas
externas de bens e serviços que
elas produzem fora do país.
À medida que o capital saía
dos Estados Unidos em direção
a outros países, nas últimas décadas, o objetivo era em larga
medida bancar fábricas capazes de produzir bens a baixo
custo para os consumidores
norte-americanos e de outros
países ricos. Mas as multinacionais americanas com fábricas e escritórios em outros países estão cada vez mais interessadas em vender seus bens e
serviços nesses países.
Seis anos atrás, as grandes
empresas norte-americanas
que revelam seus resultados de
vendas internacionais vendiam
um terço de seus produtos e
serviços fora do país, de acordo
com a análise de Howard Silverblatt, analista sênior de índices na Standard & Poor's. No
ano passado, a proporção de
vendas externas havia subido a
44%. No ano que vem, a previsão é de que as vendas externas
superem as vendas no mercado
norte-americano.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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