São Paulo, terça-feira, 21 de dezembro de 2004

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REAL FORTE

Aumento de liqüidez reduz risco-país e capacidade de ação do BC, que voltou a atuar no mercado ontem, sem resultado

Dólar cai a R$ 2,677, menor valor desde 2002

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O dólar fechou ontem a R$ 2,677, mais baixo valor desde junho de 2002. É mais um sinal de que o Banco Central vem perdendo a queda-de-braço com o mercado. Como tem havido uma oferta de dólares maior que o número de compradores interessados, a moeda americana não pára de cair, mesmo com a ação do BC.
Esse excesso de liqüidez no mercado de câmbio é resultante principalmente do bom desempenho da balança comercial e da entrada de investimento estrangeiro direto. Há também dinheiro de estrangeiros entrando no mercado em busca dos altos retornos das taxas de juros brasileiras.
O risco-país também segue derretendo. Ontem, o indicador fechou o dia em 388 pontos, no menor nível desde 1997. A alta liqüidez internacional tem favorecido a tendência de baixa do risco-país brasileiro. Quanto menor o risco, mais baixas as taxas pagas pelos setores público e privado para captarem no exterior.
Já há no mercado quem se pergunte se o risco-país abaixo dos 400 pontos não é artificial, sendo mais reflexo da atual liqüidez do que uma mudança de percepção em relação ao Brasil.
"Só estamos vendo uma ponta no mercado: há vendedores sem compradores. E isso tem derrubado o dólar", diz Jorge Simino, sócio-diretor da MS Consulting.
Ontem o BC esteve atuante no câmbio, realizando mais um leilão de compra de moeda. Mas a ação não surtiu efeito. Pelo contrário: após o leilão, o dólar caiu mais um pouco e fechou na mínima do dia, em baixa de 1,25%. Em 2004, a moeda americana registra recuo de 7,75% diante do real.
Depois de uma série de declarações de integrantes do governo e empresários de que o real estaria sobrevalorizado e prejudicando as exportações, o BC passou a intervir no câmbio, por meio de operações de compra de moeda, no último dia 6. Na primeira vez em que o BC anunciou a intervenção, o dólar caíra abaixo dos R$ 2,70. Muita gente viu na ação um sinal de que o governo havia estabelecido esse nível como limite de queda da moeda americana.
O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o patamar ideal do dólar seria entre R$ 2,90 e R$ 3,10. O ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) já demonstrou mais de uma vez preocupação com o reflexo do dólar barato nas exportações brasileiras. A valorização do real encarece os produtos brasileiros no exterior, o que pode ter reflexos negativos nas exportações.
O resultado das contas externas do Brasil, divulgado ontem, endossa a preocupação. Pela primeira vez em sete meses, a conta de transações correntes -fluxo de dólares com o exterior- ficou negativa, em parte devido ao menor saldo da balança comercial.
"Tem havido sobra de dólares no mercado. O BC tem absorvido parte desse fluxo, mas o máximo que tem conseguido é minimizar a tendência de queda", avalia o economista-chefe da Gap Asset Management, Alexandre Maia. Para ele, se a "sobra" de dólares aumentar muito, o BC pode comprar montantes maiores. Como a expectativa não é de alta para o dólar -pelo menos de forma expressiva-, a tendência é que a procura pela moeda siga fraca, o que favorece a valorização do real.


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