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REAL FORTE
Aumento de liqüidez reduz risco-país e capacidade de ação do BC, que voltou a atuar no mercado ontem, sem resultado
Dólar cai a R$ 2,677, menor valor desde 2002
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O dólar fechou ontem a R$
2,677, mais baixo valor desde junho de 2002. É mais um sinal de
que o Banco Central vem perdendo a queda-de-braço com o mercado. Como tem havido uma
oferta de dólares maior que o número de compradores interessados, a moeda americana não pára
de cair, mesmo com a ação do BC.
Esse excesso de liqüidez no
mercado de câmbio é resultante
principalmente do bom desempenho da balança comercial e da
entrada de investimento estrangeiro direto. Há também dinheiro
de estrangeiros entrando no mercado em busca dos altos retornos
das taxas de juros brasileiras.
O risco-país também segue derretendo. Ontem, o indicador fechou o dia em 388 pontos, no menor nível desde 1997. A alta liqüidez internacional tem favorecido
a tendência de baixa do risco-país
brasileiro. Quanto menor o risco,
mais baixas as taxas pagas pelos
setores público e privado para
captarem no exterior.
Já há no mercado quem se pergunte se o risco-país abaixo dos
400 pontos não é artificial, sendo
mais reflexo da atual liqüidez do
que uma mudança de percepção
em relação ao Brasil.
"Só estamos vendo uma ponta
no mercado: há vendedores sem
compradores. E isso tem derrubado o dólar", diz Jorge Simino, sócio-diretor da MS Consulting.
Ontem o BC esteve atuante no
câmbio, realizando mais um leilão de compra de moeda. Mas a
ação não surtiu efeito. Pelo contrário: após o leilão, o dólar caiu
mais um pouco e fechou na mínima do dia, em baixa de 1,25%. Em
2004, a moeda americana registra
recuo de 7,75% diante do real.
Depois de uma série de declarações de integrantes do governo e
empresários de que o real estaria
sobrevalorizado e prejudicando
as exportações, o BC passou a intervir no câmbio, por meio de
operações de compra de moeda,
no último dia 6. Na primeira vez
em que o BC anunciou a intervenção, o dólar caíra abaixo dos R$
2,70. Muita gente viu na ação um
sinal de que o governo havia estabelecido esse nível como limite de
queda da moeda americana.
O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o
patamar ideal do dólar seria entre
R$ 2,90 e R$ 3,10. O ministro Luiz
Fernando Furlan (Desenvolvimento) já demonstrou mais de
uma vez preocupação com o reflexo do dólar barato nas exportações brasileiras. A valorização do
real encarece os produtos brasileiros no exterior, o que pode ter reflexos negativos nas exportações.
O resultado das contas externas
do Brasil, divulgado ontem, endossa a preocupação. Pela primeira vez em sete meses, a conta de
transações correntes -fluxo de
dólares com o exterior- ficou
negativa, em parte devido ao menor saldo da balança comercial.
"Tem havido sobra de dólares
no mercado. O BC tem absorvido
parte desse fluxo, mas o máximo
que tem conseguido é minimizar
a tendência de queda", avalia o
economista-chefe da Gap Asset
Management, Alexandre Maia.
Para ele, se a "sobra" de dólares
aumentar muito, o BC pode comprar montantes maiores. Como a
expectativa não é de alta para o
dólar -pelo menos de forma expressiva-, a tendência é que a
procura pela moeda siga fraca, o
que favorece a valorização do real.
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