São Paulo, quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CAPITALISMO VERMELHO

Reavaliação aponta resultado 16,8% maior em 2004; país passa França neste ano e Reino Unido em 2006

China revê o PIB e deve virar 4ª economia

Reuters
Operários trabalham em construção enquanto avião passa no céu de Xangai, maior cidade chinesa


CLÁUDIA TREVISAN
DE REPORTAGEM LOCAL

Além de ser o país que mais cresce no mundo, a China tem uma economia bem maior do que imaginava. O governo anunciou ontem que o PIB de 2004 é 16,8% superior ao divulgado anteriormente, o que coloca a China em sexto lugar no ranking das maiores economias do mundo, posto ocupado até agora pela Itália.
Quando o PIB de 2005 for divulgado, a China terá ultrapassado mais um país europeu, a França. Se as previsões para 2006 se confirmarem, a China também poderá deixar para trás o Reino Unido e assumir a quarta colocação no ranking, atrás apenas de Estados Unidos, Japão e Alemanha.
Os novos números são resultado do mais amplo censo econômico já realizado na China, segundo o qual o tamanho do setor de serviços é superior ao estimado anteriormente. Os novos dados indicam que o PIB de 2004 foi de US$ 1,97 trilhão, quase US$ 300 bilhões acima da antiga cifra.
Se a China mantiver um ritmo de crescimento próximo de 8% nos próximos anos, logo vai superar a Alemanha e se aproximar rapidamente do Japão.
A revisão foi elogiada pelo Banco Mundial. "Os novos dados do PIB representam um grande aperfeiçoamento em relação aos anteriores", declarou Bert Hofman, chefe do escritório da instituição em Pequim, de acordo com nota distribuída à imprensa.
Mais que o tamanho do PIB, os dados são relevantes por mostrar diferenças na estrutura produtiva da China, principalmente o menor peso das exportações.
O setor de serviços ampliou sua participação na economia de 31,9% para 40,7% e foi responsável por 93% da expansão do PIB. A indústria encolheu de 52,9% para 46,2%, enquanto a agricultura passou de 15,2% para 13,1%.
A dependência das exportações no modelo de desenvolvimento chinês preocupa o governo e analistas, já que faz o país vulnerável ao comportamento de outras economias, principalmente os EUA, e a barreiras protecionistas. O maior peso dos serviços eleva a relevância do mercado interno como propulsor do crescimento.
"Com base nesses dados, nós podemos ter confiança ainda maior em um crescimento de longo prazo rápido e sustentável", declarou Li Deshui, diretor do Escritório Nacional de Estatísticas, responsável pela revisão. Os números indicam que o peso das exportações na economia chinesa caiu de 34% para 29%.
"[Os novos dados] mostram que a estrutura do crescimento econômico é mais razoável e saudável do que refletido nos estatísticas anteriores", acrescentou Li.
As estatísticas do país costumam ser vistas com desconfiança por analistas, que as consideram passíveis de manipulação pelos governos central e provinciais. Li admitiu que os números relativos às décadas de 80 e 90 tinham problemas, mas disse que a nova pesquisa dá um retrato fiel da realidade, com baixa margem de erro.
"Nada era claro. Nós não sabíamos que [números] nós devíamos descartar e qual devíamos manter. Livrar-nos disso [estatísticas duvidosas] equivalia a negar o que havíamos conquistado do ponto de vista político", afirmou Li, de acordo com o jornal "South China Morning Post". Segundo ele, o governo irá rever todos os dados econômicos desde 1993.
Li ressaltou que as novas estatísticas representam a possibilidade de um melhor planejamento econômico do país.
Os dados serão fundamentais para a elaboração do 11º Plano Qüinqüenal, que orientará o crescimento chinês entre 2006 e 2010. O documento será aprovado em março, durante reunião do Congresso Nacional do Povo, mas suas linhas gerais já foram definidas pelo Comitê Central do Partido Comunista em outubro.
Entre os principais objetivos está justamente a ampliação do mercado doméstico, o que permitirá a redução do peso das exportações e dos investimentos, os dois motores que moveram a economia nos últimos 26 anos.

Desigualdade
Mas o maior desafio colocado no plano é a redução da crescente desigualdade que separa o campo da cidade, a região leste da oeste e os ricos dos pobres. Quase 800 milhões de chineses (60% da população) ainda vivem no campo e têm renda que equivale a um quarto da registrada nas cidades.
A divulgação dos dados provocou a elevação do PIB per capita chinês, de US$ 1.200 para US$ 1.500. Mas o país ainda está em 107º lugar no ranking de renda per capita, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas.
Na nota oficial em que explica as mudanças, Li observou que as distorções nos dados decorreram do fato de a China usar, até os anos 80, um método estatístico desenvolvido no período de economia planificada, que subestimava o peso do setor de serviços.
A partir dos anos 90, a China passou gradualmente a integrar seu sistema estatístico aos padrões do Sistema Nacional de Contabilidade da Organização das Nações Unidas, afirmou. "Porém estatísticas básicas levam tempo para serem construídas."
Li acrescentou que o país passa por rápida diversificação em termos de propriedade, intenso desenvolvimento da área privada e multiplicação de negócios no setor de serviços. "É muito difícil conduzir levantamentos estatísticos quando eles são esparsos e sujeitos a mudanças freqüentes."

Com agências internacionais

Texto Anterior: Publicidade: Apesar de problemas na Justiça, Bombril evita polêmicas e volta à TV
Próximo Texto: Artigo: Crescimento mundial surpreende em 2005
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.