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São Paulo, quarta-feira, 22 de janeiro de 2003

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MUDANÇA DE ROTA

Para cumprir teto da meta anterior, de 6,5%, seria necessário gerar recessão, afirma presidente do BC

Governo ajusta meta de inflação para 8,5%

LEONARDO SOUZA
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, anunciaram ontem que a política de juros terá o objetivo de atingir uma inflação de 8,5% neste ano e 5,5% em 2004.
Trata-se de objetivos bem mais frouxos que os determinados originalmente e, ao mesmo tempo, ambiciosos o suficiente para desencorajar apostas numa queda mais rápida dos juros, hoje em 25% anuais.
Será descumprida, embora não revogada, a meta oficial de 4%, com 2,5 pontos percentuais de tolerância, em 2003. A inflação buscada deverá convergir para os limites oficiais no próximo ano, para o qual a meta é de 3,75%, com a mesma margem de tolerância.
A justificativa de Meirelles para o estouro da meta deste ano é a mesma dada pelo BC nos dois anos anteriores: em razão do choque representado pela alta do dólar, seria necessário produzir uma recessão para cumprir a meta.
Nos cálculos do BC, para atingir uma inflação de 6,5%, o teto da meta, seria preciso uma queda do PIB (Produto Interno Bruto) de 1,6% neste ano. Com a meta de 8,5%, o BC projeta um crescimento de 2,8% em 2003.
O ajuste na meta, no entanto, não dará muita folga ao BC para conduzir a política monetária neste ano. Não necessariamente será preciso promover aumentos da taxa básica de juros, a Selic. Mas certamente haverá pouco espaço para reduzi-la.
No relatório trimestral de inflação divulgado no mês passado, o BC projetou, em seu cenário básico, que a inflação neste ano seria de 9,5%, desde que a taxa de câmbio se mantivesse em R$ 3,55.
O dólar caiu consideravelmente até a semana passada, mas voltou a subir nos últimos dias, impulsionado, entre outros fatores, pela expectativa da Guerra do Iraque. Ontem, a moeda fechou em R$ 3,485.
Segundo Meirelles, os indicadores econômicos que embasaram as projeções feitas pelo BC no mês passado já se alteraram, e os cálculos não são "uma equação de primeiro grau, com uma variável só". Isto é, não levam apenas o dólar em consideração.
"A cada momento, a projeção não precisa necessariamente estar junto com a meta. A definição da meta é uma coisa, a projeção é outra. Em alguns momentos, a projeção pode estar indicando um número acima da meta. Em outros, abaixo da meta", disse.
Ele ressaltou, no entanto, "que o BC não é um personagem passivo, é um personagem ativo", que dispõe "de um instrumento de política monetária". O principal instrumento de política monetária do BC é a Selic. A frase demonstra que, se for preciso, a taxa básica será aumentada para fazer com que a meta ajustada seja cumprida.
"O BC vai exercendo esse instrumento de política monetária, e dentro do conjunto de hipóteses determinadas, vai trabalhar para que a inflação convirja para a meta", completou.

Nova alteração é possível
Meirelles disse, contudo, que a meta ajustada pode ser alterada novamente ao longo do ano, se os efeitos dos choques de oferta que afetaram a economia nos últimos meses forem mais fortes do que os atualmente previstos.
Este será o terceiro ano consecutivo em que a inflação extrapolará a meta estabelecida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional). Desde que o sistema de metas de inflação foi implantado no país, em 1999, somente no primeiro ano e em 2000 as metas foram cumpridas.
Meirelles disse que, apesar dos ajustes nos alvos a serem perseguidos pelo BC e do não-cumprimento consecutivo das metas, o sistema de metas de inflação não está desacreditado.
Ele repetiu o discurso adotado por Armínio Fraga, a quem sucedeu no comando da instituição. Disse que o estouro da inflação se deveu a choques excepcionais de oferta (como o aumento de custo da indústria provocado pela forte alta do dólar no ano passado) e que, portanto, não devem ser combatidos no curto prazo.
"A melhor alternativa para convergir a inflação [em direção à meta] é acomodar os choques de oferta. Se tentássemos convergir para a meta num curto prazo, haveria um custo excessivo para a sociedade", disse.
Os ajustes feitos nas metas constam da carta aberta que Meirelles entregou ontem a Palocci. O documento apresenta as justificativas para o não-cumprimento da meta do ano passado e as medidas que o presidente do BC pretende tomar para recolocar a trajetória de inflação em direção à meta.
A inflação em 2002, medida pelo IPCA, ficou em 12,5% -sete pontos percentuais acima do limite superior da meta, 5,5%.


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