|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MUDANÇA DE ROTA
Para cumprir teto da meta anterior, de 6,5%, seria necessário gerar recessão, afirma presidente do BC
Governo ajusta meta de inflação para 8,5%
LEONARDO SOUZA
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) e o presidente do
Banco Central, Henrique Meirelles, anunciaram ontem que a política de juros terá o objetivo de
atingir uma inflação de 8,5% neste ano e 5,5% em 2004.
Trata-se de objetivos bem mais
frouxos que os determinados originalmente e, ao mesmo tempo,
ambiciosos o suficiente para desencorajar apostas numa queda
mais rápida dos juros, hoje em
25% anuais.
Será descumprida, embora não
revogada, a meta oficial de 4%,
com 2,5 pontos percentuais de tolerância, em 2003. A inflação buscada deverá convergir para os limites oficiais no próximo ano, para o qual a meta é de 3,75%, com a
mesma margem de tolerância.
A justificativa de Meirelles para
o estouro da meta deste ano é a
mesma dada pelo BC nos dois
anos anteriores: em razão do choque representado pela alta do dólar, seria necessário produzir uma
recessão para cumprir a meta.
Nos cálculos do BC, para atingir
uma inflação de 6,5%, o teto da
meta, seria preciso uma queda do
PIB (Produto Interno Bruto) de
1,6% neste ano. Com a meta de
8,5%, o BC projeta um crescimento de 2,8% em 2003.
O ajuste na meta, no entanto,
não dará muita folga ao BC para
conduzir a política monetária
neste ano. Não necessariamente
será preciso promover aumentos
da taxa básica de juros, a Selic.
Mas certamente haverá pouco espaço para reduzi-la.
No relatório trimestral de inflação divulgado no mês passado, o
BC projetou, em seu cenário básico, que a inflação neste ano seria
de 9,5%, desde que a taxa de câmbio se mantivesse em R$ 3,55.
O dólar caiu consideravelmente
até a semana passada, mas voltou
a subir nos últimos dias, impulsionado, entre outros fatores, pela
expectativa da Guerra do Iraque.
Ontem, a moeda fechou em
R$ 3,485.
Segundo Meirelles, os indicadores econômicos que embasaram
as projeções feitas pelo BC no mês
passado já se alteraram, e os cálculos não são "uma equação de
primeiro grau, com uma variável
só". Isto é, não levam apenas o dólar em consideração.
"A cada momento, a projeção
não precisa necessariamente estar
junto com a meta. A definição da
meta é uma coisa, a projeção é outra. Em alguns momentos, a projeção pode estar indicando um
número acima da meta. Em outros, abaixo da meta", disse.
Ele ressaltou, no entanto, "que o
BC não é um personagem passivo, é um personagem ativo", que
dispõe "de um instrumento de
política monetária". O principal
instrumento de política monetária do BC é a Selic. A frase demonstra que, se for preciso, a taxa
básica será aumentada para fazer
com que a meta ajustada seja
cumprida.
"O BC vai exercendo esse instrumento de política monetária, e
dentro do conjunto de hipóteses
determinadas, vai trabalhar para
que a inflação convirja para a meta", completou.
Nova alteração é possível
Meirelles disse, contudo, que a
meta ajustada pode ser alterada
novamente ao longo do ano, se os
efeitos dos choques de oferta que
afetaram a economia nos últimos
meses forem mais fortes do que os
atualmente previstos.
Este será o terceiro ano consecutivo em que a inflação extrapolará a meta estabelecida pelo
CMN (Conselho Monetário Nacional). Desde que o sistema de
metas de inflação foi implantado
no país, em 1999, somente no primeiro ano e em 2000 as metas foram cumpridas.
Meirelles disse que, apesar dos
ajustes nos alvos a serem perseguidos pelo BC e do não-cumprimento consecutivo das metas, o
sistema de metas de inflação não
está desacreditado.
Ele repetiu o discurso adotado
por Armínio Fraga, a quem sucedeu no comando da instituição.
Disse que o estouro da inflação se
deveu a choques excepcionais de
oferta (como o aumento de custo
da indústria provocado pela forte
alta do dólar no ano passado) e
que, portanto, não devem ser
combatidos no curto prazo.
"A melhor alternativa para convergir a inflação [em direção à
meta] é acomodar os choques de
oferta. Se tentássemos convergir
para a meta num curto prazo, haveria um custo excessivo para a
sociedade", disse.
Os ajustes feitos nas metas constam da carta aberta que Meirelles
entregou ontem a Palocci. O documento apresenta as justificativas para o não-cumprimento da
meta do ano passado e as medidas
que o presidente do BC pretende
tomar para recolocar a trajetória
de inflação em direção à meta.
A inflação em 2002, medida pelo IPCA, ficou em 12,5% -sete
pontos percentuais acima do limite superior da meta, 5,5%.
Texto Anterior: Painel S.A. Próximo Texto: Agora mercado acha que Copom pode até subir juros Índice
|