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MUDANÇA DE ROTA
Alta do dólar abala convicção pela manutenção da taxa
Agora mercado acha que Copom
pode até subir juros
ÉRICA FRAGA
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A alta do dólar nos últimos dias
abalou a convicção do mercado
financeiro de que o Banco Central
manterá os juros básicos em 25%
anuais. Analistas ainda acreditam
em manutenção, mas dizem que
não se surpreenderão se o Copom
(Comitê de Política Monetária)
resolver elevar a Selic em 0,5 ponto percentual.
O ajuste da meta de inflação para 8,5% este ano, anunciado ontem pelo BC, contribuiu para essa
expectativa de que os juros poderão voltar a subir.
Apesar de ter recebido bem a
mudança, analistas questionam
as chances de redução da inflação
para um percentual próximo à
nova meta em um cenário de dólar rondando os R$ 3,50.
"A meta de 8,5% para este ano
ainda é ousada. Como o câmbio
não está tão favorável, acreditamos que o BC possa elevar a Selic
em 0,5 ponto", diz Fábio Akira,
economista do JP Morgan.
Questionário
Como ocorre sempre antes das
reuniões do Copom, o BC enviou
um questionário ao mercado na
semana passada. Outro sinal de
que a instituição poderá voltar a
subir os juros foi a seguinte pergunta: "Que tipo de ação o governo poderia adotar para reverter a
expectativa de inflação do mercado?".
Segundo analistas, isso indica
preocupação do BC com as expectativas de inflação que, ao contrário do esperado pela instituição, não caíram depois da elevação da Selic em três pontos percentuais em dezembro passado.
"Depois da alta do câmbio nos
últimos dias, já não descartamos a
hipótese de elevação da Selic amanhã [hoje]", afirma Elson Teles,
economista-chefe do Banco Boreal.
Ontem, as operações no mercado futuro também apontavam
para possibilidade de alta da Selic
hoje. As projeções dos juros futuros no contrato de prazo mais
curto, em fevereiro, subiram de
25,14% para 25,21% anuais.
Meta flutuante?
A principal ressalva do mercado
em relação à nova meta de inflação anunciada ontem é a possibilidade de que novos ajustes sejam
feitos. Para analistas, isso poderá
prejudicar ainda mais a credibilidade da autoridade monetária.
"Não tem sentido a meta de inflação ficar flutuando. Ela deve ser
uma âncora. Um novo ajuste só
seria justificável se houvesse uma
série crise econômica doméstica
ou internacional", diz Dawber
Gontijo, estrategista-chefe do
HSBC Investment.
O desafio do BC agora é fazer
com que as expectativas do mercado para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) este
ano, atualmente em 11,19%, recuem. Isso vai depender do câmbio e da condução da política monetária. O BC terá a difícil tarefa
de provar que não será leniente
com a inflação sem, ao mesmo
tempo, criar o risco de que a economia entre em recessão.
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