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São Paulo, quarta-feira, 22 de janeiro de 2003

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MUDANÇA DE ROTA

Alta do dólar abala convicção pela manutenção da taxa

Agora mercado acha que Copom pode até subir juros

ÉRICA FRAGA
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A alta do dólar nos últimos dias abalou a convicção do mercado financeiro de que o Banco Central manterá os juros básicos em 25% anuais. Analistas ainda acreditam em manutenção, mas dizem que não se surpreenderão se o Copom (Comitê de Política Monetária) resolver elevar a Selic em 0,5 ponto percentual.
O ajuste da meta de inflação para 8,5% este ano, anunciado ontem pelo BC, contribuiu para essa expectativa de que os juros poderão voltar a subir.
Apesar de ter recebido bem a mudança, analistas questionam as chances de redução da inflação para um percentual próximo à nova meta em um cenário de dólar rondando os R$ 3,50.
"A meta de 8,5% para este ano ainda é ousada. Como o câmbio não está tão favorável, acreditamos que o BC possa elevar a Selic em 0,5 ponto", diz Fábio Akira, economista do JP Morgan.

Questionário
Como ocorre sempre antes das reuniões do Copom, o BC enviou um questionário ao mercado na semana passada. Outro sinal de que a instituição poderá voltar a subir os juros foi a seguinte pergunta: "Que tipo de ação o governo poderia adotar para reverter a expectativa de inflação do mercado?".
Segundo analistas, isso indica preocupação do BC com as expectativas de inflação que, ao contrário do esperado pela instituição, não caíram depois da elevação da Selic em três pontos percentuais em dezembro passado.
"Depois da alta do câmbio nos últimos dias, já não descartamos a hipótese de elevação da Selic amanhã [hoje]", afirma Elson Teles, economista-chefe do Banco Boreal.
Ontem, as operações no mercado futuro também apontavam para possibilidade de alta da Selic hoje. As projeções dos juros futuros no contrato de prazo mais curto, em fevereiro, subiram de 25,14% para 25,21% anuais.

Meta flutuante?
A principal ressalva do mercado em relação à nova meta de inflação anunciada ontem é a possibilidade de que novos ajustes sejam feitos. Para analistas, isso poderá prejudicar ainda mais a credibilidade da autoridade monetária.
"Não tem sentido a meta de inflação ficar flutuando. Ela deve ser uma âncora. Um novo ajuste só seria justificável se houvesse uma série crise econômica doméstica ou internacional", diz Dawber Gontijo, estrategista-chefe do HSBC Investment.
O desafio do BC agora é fazer com que as expectativas do mercado para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) este ano, atualmente em 11,19%, recuem. Isso vai depender do câmbio e da condução da política monetária. O BC terá a difícil tarefa de provar que não será leniente com a inflação sem, ao mesmo tempo, criar o risco de que a economia entre em recessão.


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