|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Leme defende elevação do juro a 26%
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
Apesar de concordar com a mudança da meta de inflação de
2003, o economista Paulo Leme,
47, do banco Goldman Sachs, afirma que falta ao governo anunciar
que medidas vai tomar para baixar a inflação. Ele acha que não
será "trivial" reduzir a inflação
dos atuais 12,5% ao ano para os
8,5% da nova meta. Um bom começo, a seu ver, seria o aumento
da Selic (juros básicos da economia) na reunião de hoje do Copom. "Baixar os juros agora, por
exemplo, teria uma péssima repercussão no mercado."
Folha - O que o sr. achou do anúncio das novas metas de inflação?
Paulo Leme - O ajuste das metas
já era esperado. A nova meta de
8,5% ficou dentro do limite previsto. Mas é preciso fazer duas observações. Em primeiro lugar, o
prazo de dois anos para a inflação
convergir para a meta anterior de
2003 foi menos ambicioso do que
eu esperava. O ideal seriam 18 meses. Além disso, ainda faltam medidas concretas para assegurar a
volta da inflação aos 4%. A divulgação da carta e das novas metas
de inflação deveria ter sido feita
após o anúncio de duas medidas:
o aumento da meta de superávit
primário para 5% do PIB neste
ano [a atual meta é de 3,75%] e a
elevação da Selic na reunião do
Copom [hoje]. Uma vez que se
ancorem as novas metas de inflação a medidas fortes, tanto na
área fiscal como na área monetária, a mudança não compromete
a credibilidade do regime de metas inflacionárias. Não se deve
perder de vista também que reduzir a inflação dos atuais 12,5% ao
ano para 8,5%, com todos os choques na economia, não é uma coisa assim trivial.
Folha - O sr. defende um aumento
de juros na reunião do Copom, mas
o mercado aposta na manutenção.
Leme - Esse consenso do mercado me surpreende. O mercado está muito complacente com a inflação alta. A inflação está muito elevada, é um problema sério e requer um comportamento muito
firme das autoridades monetárias. Num momento como este,
de incertezas, seja pelo fluxo de
capitais, seja pelo aumento do
preço do petróleo, que afeta a formação de preços, eu acho que são
necessárias medidas vigorosas
tanto de política fiscal como de
política monetária. Por isso, acho
que o melhor é um aumento da
taxa Selic para algo como 26%.
Folha - A nova meta não permitiria uma queda dos juros?
Leme - Baixar sempre é possível,
mas é melhor tomar essa decisão
quando já se ganhou a guerra.
Baixar os juros com inflação alta é
incompatível. A meta anterior de
4% de inflação para 2003 exigiria
um esforço desnecessário em termos de PIB, mas, ainda assim, trazer o índice de 12,5% para 8,5%,
com todas as incertezas externas e
internas, terá poucas chances de
sucesso se não contar com uma
política monetária agressiva. Nessa batalha contra a inflação, você
tem de marcar o gol logo nos primeiros cinco minutos.
Folha - Como o mercado tem reagido às primeiras semanas do novo
governo?
Leme - O mercado vem reagindo
bem, e minha opinião pessoal é
favorável. Na semana passada, estive em Brasília com a equipe econômica e minha avaliação foi bastante positiva. O enfoque de atacar a insolvência fiscal com ênfase
na redução da inflação, tudo isso
respaldado com reformas estruturais importantes, está na direção certa. A primeira etapa do governo, no plano de confiança, tem
tido um razoável sucesso. O grande desafio serão os próximos 45
dias, até a reabertura do Congresso. O governo precisa transformar as palavras em medidas firmes de política econômica. Os sinais são encorajadores, e o capital
político do presidente, apesar de
muito alto, pode se depreciar de
forma muito rápida. Por isso, o
governo precisa mostrar atuação
firme antes mesmo da posse do
novo Congresso. Da reunião do
Copom sairá a primeira decisão
na área de política monetária do
novo governo. Se o governo não
mostrar firmeza, os ganhos das
primeiras três semanas se evaporarão numa velocidade espantosa. Baixar os juros agora, por
exemplo, teria uma péssima repercussão no mercado.
Texto Anterior: Taxa real cai em 2002 com inflação em alta Próximo Texto: Frase Índice
|