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São Paulo, quarta-feira, 22 de janeiro de 2003

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Leme defende elevação do juro a 26%

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

Apesar de concordar com a mudança da meta de inflação de 2003, o economista Paulo Leme, 47, do banco Goldman Sachs, afirma que falta ao governo anunciar que medidas vai tomar para baixar a inflação. Ele acha que não será "trivial" reduzir a inflação dos atuais 12,5% ao ano para os 8,5% da nova meta. Um bom começo, a seu ver, seria o aumento da Selic (juros básicos da economia) na reunião de hoje do Copom. "Baixar os juros agora, por exemplo, teria uma péssima repercussão no mercado."
 

Folha - O que o sr. achou do anúncio das novas metas de inflação?
Paulo Leme -
O ajuste das metas já era esperado. A nova meta de 8,5% ficou dentro do limite previsto. Mas é preciso fazer duas observações. Em primeiro lugar, o prazo de dois anos para a inflação convergir para a meta anterior de 2003 foi menos ambicioso do que eu esperava. O ideal seriam 18 meses. Além disso, ainda faltam medidas concretas para assegurar a volta da inflação aos 4%. A divulgação da carta e das novas metas de inflação deveria ter sido feita após o anúncio de duas medidas: o aumento da meta de superávit primário para 5% do PIB neste ano [a atual meta é de 3,75%] e a elevação da Selic na reunião do Copom [hoje]. Uma vez que se ancorem as novas metas de inflação a medidas fortes, tanto na área fiscal como na área monetária, a mudança não compromete a credibilidade do regime de metas inflacionárias. Não se deve perder de vista também que reduzir a inflação dos atuais 12,5% ao ano para 8,5%, com todos os choques na economia, não é uma coisa assim trivial.

Folha - O sr. defende um aumento de juros na reunião do Copom, mas o mercado aposta na manutenção.
Leme -
Esse consenso do mercado me surpreende. O mercado está muito complacente com a inflação alta. A inflação está muito elevada, é um problema sério e requer um comportamento muito firme das autoridades monetárias. Num momento como este, de incertezas, seja pelo fluxo de capitais, seja pelo aumento do preço do petróleo, que afeta a formação de preços, eu acho que são necessárias medidas vigorosas tanto de política fiscal como de política monetária. Por isso, acho que o melhor é um aumento da taxa Selic para algo como 26%.

Folha - A nova meta não permitiria uma queda dos juros?
Leme -
Baixar sempre é possível, mas é melhor tomar essa decisão quando já se ganhou a guerra. Baixar os juros com inflação alta é incompatível. A meta anterior de 4% de inflação para 2003 exigiria um esforço desnecessário em termos de PIB, mas, ainda assim, trazer o índice de 12,5% para 8,5%, com todas as incertezas externas e internas, terá poucas chances de sucesso se não contar com uma política monetária agressiva. Nessa batalha contra a inflação, você tem de marcar o gol logo nos primeiros cinco minutos.

Folha - Como o mercado tem reagido às primeiras semanas do novo governo?
Leme -
O mercado vem reagindo bem, e minha opinião pessoal é favorável. Na semana passada, estive em Brasília com a equipe econômica e minha avaliação foi bastante positiva. O enfoque de atacar a insolvência fiscal com ênfase na redução da inflação, tudo isso respaldado com reformas estruturais importantes, está na direção certa. A primeira etapa do governo, no plano de confiança, tem tido um razoável sucesso. O grande desafio serão os próximos 45 dias, até a reabertura do Congresso. O governo precisa transformar as palavras em medidas firmes de política econômica. Os sinais são encorajadores, e o capital político do presidente, apesar de muito alto, pode se depreciar de forma muito rápida. Por isso, o governo precisa mostrar atuação firme antes mesmo da posse do novo Congresso. Da reunião do Copom sairá a primeira decisão na área de política monetária do novo governo. Se o governo não mostrar firmeza, os ganhos das primeiras três semanas se evaporarão numa velocidade espantosa. Baixar os juros agora, por exemplo, teria uma péssima repercussão no mercado.


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