São Paulo, quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE

Governo faz jogo de empurra

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Agora que o governo começa a contabilizar os custos da crise financeira internacional que afetou empresas brasileiras e tem tirado o sono dos trabalhadores, intensifica-se o jogo de empurra nos bastidores da equipe econômica. O Banco Central -que não quer levar a culpa pela onda de demissões em massa- corrigiu seu conservadorismo e saiu do discurso para a ação ao reduzir os juros de forma mais agressiva.
Mas, como os estragos já se materializam em numerosas demissões, férias coletivas e acordos para redução de jornada e de salários em andamento, as críticas permanecem.
Segundo a Folha apurou, nas últimas semanas integrantes da equipe econômica identificaram nas conversas que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, teve com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a tentativa de repassar aos bancos a culpa pelos juros altos e retração na demanda.
Para isso, ele enfatizou que o problema é o "spread" bancário (quanto os bancos cobram além do custo de captação para repassar o dinheiro aos clientes), e não a Selic.
Se for considerado que o "spread" subiu (com a intensificação da crise em setembro, escassez de linhas de crédito e medo dos bancos de emprestar) e que a Selic não caiu, os dois lados teriam desculpas contra críticas. No entanto, como enfatiza o BC, num regime de metas de inflação, o gerenciamento de expectativas do setor econômico é tudo.
E, no fim de 2008, o governo batia cabeças nessa área. O presidente Lula e os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Carlos Lupi (Trabalho) sustentavam o discurso de que a crise seria mínima no Brasil e que a demanda continuaria alavancada pelo emprego e renda.
Do outro lado, o BC via riscos envolvendo a trajetória da inflação por causa da alta do câmbio superior à queda no crescimento econômico estimada para o último trimestre de 2008 e o primeiro de 2009.
Fechados os números, o baque foi bem maior do que o esperado, com queda na produção industrial e o fechamento de 654 mil vagas em dezembro, o dobro do normal para o período. Isso mostrou que o BC (e o governo) ficou atrás da curva, como dizem os economistas quando as pessoas não se antecipam aos fatos.
Agora, o impacto da sua redução nos juros é menor do que teria sido em dezembro. Na época, o BC preferiu a cautela e o máximo que o Copom permitiu foi sinalizar que poderia haver corte em janeiro.
Com isso, os juros futuros caíram de 13,14% ao ano no início de dezembro para 12,3% ao ano em uma semana. Hoje, eles estão em 11,14% ao ano, considerando os contratos para janeiro de 2010. O problema é que enquanto os problemas se multiplicam em doses cavalares, as soluções vêm a conta-gotas. (SHEILA D'AMORIM)


Texto Anterior: Bastidores: Para Planalto, BC sinaliza afinação com o governo
Próximo Texto: Vinicius Torres Freire: A bola agora está com os bancos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.