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ANÁLISE
Governo faz jogo de empurra
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Agora que o governo começa
a contabilizar os custos da crise
financeira internacional que
afetou empresas brasileiras e
tem tirado o sono dos trabalhadores, intensifica-se o jogo de
empurra nos bastidores da
equipe econômica. O Banco
Central -que não quer levar a
culpa pela onda de demissões
em massa- corrigiu seu conservadorismo e saiu do discurso para a ação ao reduzir os juros de forma mais agressiva.
Mas, como os estragos já se
materializam em numerosas
demissões, férias coletivas e
acordos para redução de jornada e de salários em andamento,
as críticas permanecem.
Segundo a Folha apurou, nas
últimas semanas integrantes
da equipe econômica identificaram nas conversas que o presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, teve com o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, a tentativa de repassar
aos bancos a culpa pelos juros
altos e retração na demanda.
Para isso, ele enfatizou que o
problema é o "spread" bancário (quanto os bancos cobram
além do custo de captação para
repassar o dinheiro aos clientes), e não a Selic.
Se for considerado que o
"spread" subiu (com a intensificação da crise em setembro,
escassez de linhas de crédito e
medo dos bancos de emprestar) e que a Selic não caiu, os
dois lados teriam desculpas
contra críticas. No entanto, como enfatiza o BC, num regime
de metas de inflação, o gerenciamento de expectativas do
setor econômico é tudo.
E, no fim de 2008, o governo
batia cabeças nessa área. O presidente Lula e os ministros
Guido Mantega (Fazenda) e
Carlos Lupi (Trabalho) sustentavam o discurso de que a crise
seria mínima no Brasil e que a
demanda continuaria alavancada pelo emprego e renda.
Do outro lado, o BC via riscos
envolvendo a trajetória da inflação por causa da alta do câmbio superior à queda no crescimento econômico estimada
para o último trimestre de
2008 e o primeiro de 2009.
Fechados os números, o baque foi bem maior do que o esperado, com queda na produção industrial e o fechamento
de 654 mil vagas em dezembro,
o dobro do normal para o período. Isso mostrou que o BC (e
o governo) ficou atrás da curva,
como dizem os economistas
quando as pessoas não se antecipam aos fatos.
Agora, o impacto da sua redução nos juros é menor do
que teria sido em dezembro.
Na época, o BC preferiu a cautela e o máximo que o Copom
permitiu foi sinalizar que poderia haver corte em janeiro.
Com isso, os juros futuros
caíram de 13,14% ao ano no início de dezembro para 12,3% ao
ano em uma semana. Hoje, eles
estão em 11,14% ao ano, considerando os contratos para janeiro de 2010. O problema é
que enquanto os problemas se
multiplicam em doses cavalares, as soluções vêm a conta-gotas.
(SHEILA D'AMORIM)
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