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OPINIÃO ECONÔMICA
Malucos teimosos
BENJAMIN STEINBRUCH
A proposta de ampliação do
número de integrantes do
Conselho Monetário Nacional
precisa ser discutida com serenidade, sem radicalismos de parte a
parte. Feita em conjunto por
Fiesp, CUT e CNI, a proposta
abriu o debate sobre as atribuições e a importância do CMN.
Não é a primeira vez nem será a
última que abordo esse tema. Há
exatamente um ano, nesta página, propus a ampliação do conselho, sob o argumento de que seria
útil ao país voltar a uma experiência do passado, que deu bons
resultados.
Depois que as entidades formalizaram a proposta, na semana
passada, vieram a público opiniões contrárias à medida, nem
sempre em tom construtivo. Alguns sustentam que a ampliação
poderia colocar em risco a credibilidade da gestão monetária do
conselho, porque as decisões ficariam sujeitas a influências e interesses externos. Outros disseram
que a proposta atende a interesses
corporativos de parcelas privilegiadas da sociedade, como empresários e trabalhadores. Outros,
ainda, disseram tratar-se de velhas idéias ultrapassadas, porque
o CMN ampliado em nada teria
ajudado, no passado, a controlar
a inflação.
Respeito as críticas, mas entendo que elas pecam pelo radicalismo. É interessante relembrar os
objetivos originais que inspiraram a criação do CMN, pela lei
4.595, de 31 de dezembro de 1964.
No artigo 2º da lei, está escrito
que a finalidade do conselho é
"formular a política da moeda e
do crédito, objetivando o progresso econômico e social do país".
A lei não poderia ser mais explícita: o conselho deve pautar suas
decisões monetárias com vistas ao
desenvolvimento econômico e social. Cabe então uma pergunta:
da forma como vem se comportando nos últimos anos, o CMN
tem se pautado por esse objetivo?
Aí está uma boa discussão, mas
que, infelizmente, não pode se dar
no próprio conselho, porque é formado por apenas três membros
(os ministros da Fazenda e do
Planejamento e o presidente do
Banco Central) que pouco divergem entre si.
Eis, portanto, onde se encaixa a
proposta da Fiesp-CUT-CNI.
Com ministros mais ligados ao setor real da economia e com representantes de trabalhadores, de
empresários e do meio acadêmico, certamente estaria aberto um
espaço para que as discussões no
conselho fugissem do foco unicamente financista. Haveria, então,
maior sensibilidade para a questão do crescimento da produção e
do emprego.
Não procede a crítica aos interesses corporativos desses novos
membros, nem a de que eles poriam em risco a credibilidade da
gestão monetária. Primeiro porque o presidente da República, a
quem caberia indicá-los, obviamente teria sensibilidade para escolher brasileiros ilibados e ilustres. Segundo porque, mesmo com
a ampliação, o governo manteria
maioria de votos dentro do conselho.
Também não procede a observação de que o conselho ampliado do passado nunca ajudou no
controle da inflação. Os anos 70,
quando o CMN tinha maior representatividade, foram um período de inflação baixa, com uma
vantagem: o crescimento econômico vigoroso.
Os novos membros, portanto,
poderiam arejar as discussões em
momentos que antecedem decisões importantes para a atividade
econômica. Até o fim do mês, por
exemplo, o CMN vai decidir a nova TJLP, taxa de juros aplicada
nos financiamentos do BNDES,
que vai valer para o segundo trimestre. Essa taxa, vital para estimular investimentos que vão sustentar o crescimento econômico,
não precisa ser tão alta -atualmente, está em 9,75%. Sem ouvir
opiniões de pessoas mais ligadas
ao setor produtivo, é possível que
o CMN venha até a aumentar essa taxa, o que seria um absurdo.
Outra atribuição do CMN é fixar a meta de inflação a ser perseguida pelo Banco Central. Para
este ano, a meta é de 4,5%, embora o BC já trabalhe para atingir
5,1%. Tendo em vista o cenário
externo (preços do petróleo) e o
inevitável efeito inflacionário dos
reajustes de preços administrados
indexados ao IGP, seria sensato
alterar essa meta para um nível
um pouco mais realista, que permitisse manter a taxa de crescimento econômico do ano passado.
Visões puramente monetárias
têm confundido baixos índices de
preços com estabilidade. Esse
equívoco foi apontado na semana
passada por altos funcionários da
ONU, em seminário, em Brasília.
A busca da estabilidade exige o
estabelecimento de metas também para o emprego e para o crescimento do PIB, por exemplo. Essa visão mais flexível, na linha
dos objetivos definidos na lei que
criou o conselho, poderia advir do
novo quórum ampliado e mais
representativo das diversidades
da sociedade brasileira.
Esse é o objetivo central da proposta das entidades de empresários e trabalhadores. Não se pretende violentar o CMN, mas apenas introduzir nele alguma sensibilidade para os problemas reais
do país, que só se resolvem com
crescimento econômico continuado e a criação sistemática de empregos.
Não custa lembrar que, por trás
de toda essa discussão, está uma
constatação elementar: com juros
reais de 13% ao ano, só malucos
teimosos, entre os quais sempre
me incluí, resistem à tentação de
deixar recursos aplicados no mercado financeiro para se arriscar
em investimentos produtivos que
geram empregos.
Benjamin Steinbruch, 51, empresário,
é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho
de administração da empresa e primeiro
vice-presidente da Fiesp (Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo).
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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