São Paulo, terça-feira, 22 de março de 2005

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TURBULÊNCIA

C-Bond atinge menor valor em 4 meses; investidores temem petróleo caro e esperam alta nos juros dos EUA

Título brasileiro cai com aversão a risco e Fed

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O menor apetite ao risco não tem poupado os ativos brasileiros. Ontem, o C-Bond, um dos principais títulos da dívida brasileira negociados no exterior, caiu 0,49% e foi a seu menor valor em quatro meses.
Esse recente movimento de venda de papéis da dívida fez com que o risco-país brasileiro alcançasse ontem seu maior nível desde janeiro. Perto do fechamento do mercado, o risco estava a 432 pontos, em alta de 0,70%.
Outro título brasileiro, o Global 40, também chegou ao seu menor preço desde novembro, mas se recuperou um pouco e fechou estável. De uma semana para cá, o C-Bond caiu 1,84%.
Ao menos essa correção de preços não está relacionada a uma piora nas projeções e perspectivas para a economia brasileira. O mercado internacional está é preocupado com a possibilidade de os juros subirem de forma mais agressiva nos Estados Unidos. A escalada do preço do barril de petróleo também gera incertezas e desconforto.
"A queda dos títulos brasileiros nos últimos dias não chega a ser preocupante, fazem parte de um ajuste global", avalia Luiz Forbes, analista da corretora López Leon. Para ele, hoje "será um importante dia, com a possibilidade de o mercado ficar mais volátil", dependendo da nota da reunião do Fed (banco central americano, leia texto ao lado) e do resultado do índice de preços ao produtor americano (PPI).
Se os dados sobre a evolução do PPI vierem acima das previsões, o mercado pode piorar -com a venda mais forte de ativos de emergentes-, devido ao temor de que os juros sejam elevados mais rapidamente no país para conter pressões inflacionárias.
Hoje, também será conhecida a decisão do Fed sobre os juros básicos dos EUA, que estão em 2,5% anuais. A expectativa é que subam 0,25 ponto percentual. O tom da nota do Fed será fundamental para determinar o humor do mercado, pois pode sinalizar um aperto monetário mais forte no curto prazo.
Quando as taxas de juros pagas pelos títulos do Tesouro norte-americano sobem muito, a tendência é a de "roubarem" recursos dos emergentes. Nesse cenário, os investidores tendem a vender ativos (como títulos da dívida e ações) de países como o Brasil e comprar papéis dos EUA, que tem risco de calote muito menor.
No mês passado, o movimento foi inverso, com investidores estrangeiros comprando expressivamente títulos e ações do Brasil. O C-Bond encostou em 103% de seu valor de face em fevereiro. Ontem, fechou a 99,6% de seu valor de face. Alguns investidores que tinham comprado C-Bond nas últimas semanas na expectativa de que o governo brasileiro faria o resgate antecipado do título acabaram por se desfazer do papel nos últimos dias.

Cenário ruim
Como o risco-país é calculado a partir do valor de uma cesta de títulos da dívida, a venda desses papéis faz com que o indicador suba. O risco reflete a confiança dos investidores em relação à possibilidade maior ou menor de um país dar calote. Quando sobe muito, fica mais difícil conseguir captar recursos no exterior.


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