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Estrangeiros confiam menos na valorização do real
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O temor de elevação das taxas
de juros nas economias desenvolvidas, que passou a atormentar o
mercado financeiro neste mês,
tem mostrado o quanto pode ser
nocivo aos ativos de emergentes,
como o Brasil.
Apenas nos últimos três dias de
negócios, o dólar subiu 3% diante
do real -fechou ontem a R$
2,174, com alta de 1,07%.
A Bovespa teve forte perda de
2,11% somente no pregão de ontem. No mês, o Ibovespa -principal índice e referência da Bolsa- acumula queda de 3,14%.
O que analistas e investidores
ainda não sabem precisar é por
quanto tempo o atual cenário internacional, menos benéfico, irá
perdurar. Como reflexo desse
momento, os investidores estrangeiros têm diminuído sua exposição a ativos (ações, títulos e moeda) brasileiros.
Um indicador desse movimento é a posição vendida dos estrangeiros na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), que encolheu
mais de US$ 3 bilhões somente
neste mês. Os investidores diminuem suas posições vendidas em
dólar quando apostam que a
moeda norte-americana vai deixar de perder valor diante do real
(no caso brasileiro).
Essas posições vendidas saíram
de US$ 13,76 bilhões no primeiro
dia do mês para US$ 10,44 bilhões
na última segunda-feira.
"Vivenciamos um processo de
ajuste nas carteiras de investimentos dos estrangeiros. Na segunda semana do mês começou
uma grande volatilidade lá fora.
Não há hipótese de um ruído no
mercado desenvolvido não afetar
os emergentes", diz Luiz Fernando Lopes, economista-chefe do
Pátria Banco de Negócios.
O economista lembra que, para
piorar a percepção dos estrangeiros, "o Brasil atravessa, mais uma
vez, um ruído no âmbito político,
com as denúncias envolvendo o
ministro Antonio Palocci".
No caso da Bovespa, o saldo das
compras e vendas de ações feitas
pelos estrangeiros está negativo
em R$ 855,2 milhões no mês
-até dia 16. Esse é o pior resultado da Bolsa desde abril de 2005.
O mercado futuro de juros também tem sentido a saída dos estrangeiros. Com esse segmento de
investidores vendendo contratos
DI (que projetam os juros futuros), as taxas têm subido, especialmente no contratos de vencimentos mais longos.
No DI que vence em janeiro de
2008, a taxa projetada saltou de
14,39% na quinta para 14,70% no
pregão de ontem da BM&F.
Na opinião de Pedro Paulo da
Silveira, economista-chefe da
Global Invest Asset, o mercado vive um período de "realização de
lucros". "Os estrangeiros realmente diminuíram suas posições
em Bolsa, câmbio e juros. Mas
eles ganharam muito recentemente. Não vejo [o atual momento negativo] como uma nova tendência", completa Silveira.
Neste mês, os bancos que operam no país seguiram a tendência
externa e ampliaram suas posições compradas em dólar. Até dia
17, essas posições estavam em
US$ 2,517 bilhões, contra US$ 200
milhões registrados em fevereiro.
O fato de o dólar ter atingido seu
menor patamar em cinco anos na
semana passada (quando foi vendido a R$ 2,11) gerou rumores no
mercado financeiro de que o BC
poderia tomar novas medidas de
intervenção com o intuito de frear
a apreciação do real.
Mas com a moeda americana
voltando a se aproximar dos R$
2,20, analistas começam a achar
pouco provável que haja alguma
decisão oficial nova com poder de
interferir no câmbio -como a
obrigatoriedade de o capital externo ter de cumprir uma "quarentena" após ingressar no país.
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