São Paulo, quarta-feira, 22 de março de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Estrangeiros confiam menos na valorização do real

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O temor de elevação das taxas de juros nas economias desenvolvidas, que passou a atormentar o mercado financeiro neste mês, tem mostrado o quanto pode ser nocivo aos ativos de emergentes, como o Brasil.
Apenas nos últimos três dias de negócios, o dólar subiu 3% diante do real -fechou ontem a R$ 2,174, com alta de 1,07%.
A Bovespa teve forte perda de 2,11% somente no pregão de ontem. No mês, o Ibovespa -principal índice e referência da Bolsa- acumula queda de 3,14%.
O que analistas e investidores ainda não sabem precisar é por quanto tempo o atual cenário internacional, menos benéfico, irá perdurar. Como reflexo desse momento, os investidores estrangeiros têm diminuído sua exposição a ativos (ações, títulos e moeda) brasileiros.
Um indicador desse movimento é a posição vendida dos estrangeiros na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), que encolheu mais de US$ 3 bilhões somente neste mês. Os investidores diminuem suas posições vendidas em dólar quando apostam que a moeda norte-americana vai deixar de perder valor diante do real (no caso brasileiro).
Essas posições vendidas saíram de US$ 13,76 bilhões no primeiro dia do mês para US$ 10,44 bilhões na última segunda-feira.
"Vivenciamos um processo de ajuste nas carteiras de investimentos dos estrangeiros. Na segunda semana do mês começou uma grande volatilidade lá fora. Não há hipótese de um ruído no mercado desenvolvido não afetar os emergentes", diz Luiz Fernando Lopes, economista-chefe do Pátria Banco de Negócios.
O economista lembra que, para piorar a percepção dos estrangeiros, "o Brasil atravessa, mais uma vez, um ruído no âmbito político, com as denúncias envolvendo o ministro Antonio Palocci".
No caso da Bovespa, o saldo das compras e vendas de ações feitas pelos estrangeiros está negativo em R$ 855,2 milhões no mês -até dia 16. Esse é o pior resultado da Bolsa desde abril de 2005.
O mercado futuro de juros também tem sentido a saída dos estrangeiros. Com esse segmento de investidores vendendo contratos DI (que projetam os juros futuros), as taxas têm subido, especialmente no contratos de vencimentos mais longos.
No DI que vence em janeiro de 2008, a taxa projetada saltou de 14,39% na quinta para 14,70% no pregão de ontem da BM&F.
Na opinião de Pedro Paulo da Silveira, economista-chefe da Global Invest Asset, o mercado vive um período de "realização de lucros". "Os estrangeiros realmente diminuíram suas posições em Bolsa, câmbio e juros. Mas eles ganharam muito recentemente. Não vejo [o atual momento negativo] como uma nova tendência", completa Silveira.
Neste mês, os bancos que operam no país seguiram a tendência externa e ampliaram suas posições compradas em dólar. Até dia 17, essas posições estavam em US$ 2,517 bilhões, contra US$ 200 milhões registrados em fevereiro.
O fato de o dólar ter atingido seu menor patamar em cinco anos na semana passada (quando foi vendido a R$ 2,11) gerou rumores no mercado financeiro de que o BC poderia tomar novas medidas de intervenção com o intuito de frear a apreciação do real.
Mas com a moeda americana voltando a se aproximar dos R$ 2,20, analistas começam a achar pouco provável que haja alguma decisão oficial nova com poder de interferir no câmbio -como a obrigatoriedade de o capital externo ter de cumprir uma "quarentena" após ingressar no país.


Texto Anterior: Investimento tem de dobrar para atingir previsão
Próximo Texto: Panorâmica - Petróleo: Subsidiária da Petrobras irá para o México
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.