São Paulo, segunda, 22 de março de 1999

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ALIMENTA€ÃO
Especiarias importadas subiram com o aumento do dólar, em janeiro; entre 94 e 98, vendas cresceram 75%
Preço alto não tira tempero da mesa

FÁTIMA FERNANDES
da Reportagem Local

A pitada de tempero na comida ficou mais cara com a alta do dólar, pois a maior parte das especiarias que o consumidor encontra hoje nos supermercados -como orégano, páprica, louro, canela, erva-doce e alecrim- vem do exterior.
Mas o brasileiro não deve abrir mão dos condimentos, que acabaram se tornando hábito de consumo com o Real. De 94 a 98, segundo a Nielsen (empresa especializada em pesquisas de mercado), as vendas de temperos aumentaram 75% no país.
O consumidor pode trocar a geléia, o vinho e o queijo estrangeiros por nacionais, mas não tem como substituir as especiarias, vindas especialmente da Índia, Indonésia, Turquia, Irã, França, Itália, Espanha, Portugal, México, Chile e Argentina, dizem os fabricantes.
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Preços e vendas sobem As vendas da Linguanotto, especializada em temperos, têm subido 35% ao ano e a estimativa da empresa é que vão continuar crescendo em 99, apesar de os preços dos seus temperos já estarem 12% mais caros para o consumidor.
A Linguanotto tem 180 tipos de condimentos, dos quais 90% deles são importados. No ano passado, produziu 2.000 toneladas.
"Não reduzimos as importações, apesar de os supermercados estarem resistindo aos reajustes. O fato é que não há como substituir a pitada de noz-moscada ou de páprica num prato", afirma Nelusko Linguanotto Neto, diretor da empresa.
Quem tem certeza disso é Kushen Pillay, gerente do Govinda, restaurante indiano localizado no Brooklin, zona sul de São Paulo, grande usuário de especiarias. "Não há substituto para o cardamomo, feno-grego e chilly, os temperos mais usados nos nossos pratos", diz Pillay.
O brasileiro, segundo os entendidos em temperos, experimentou e gostou do sabor das especiarias na comida. Gabriel João Cherubini, vice-presidente da Yoki, que comercializa a marca Kitano, diz que apesar dos aumentos de 15% a 20% nos preços, no caso dos seus condimentos, esse mercado não deve parar de crescer no país.
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Maior variedade Antes da abertura da economia, no início dos anos 90, o consumidor estava acostumado a temperar a comida com cominho, pimenta-do-reino e orégano. "A variedade trazida pelas marcas importadas chegou para ficar. A importação vai continuar crescendo. E nós vamos tentar pegar fatias das marcas estrangeiras."
Nos últimos quatro anos o consumidor brasileiro viu ganhar espaço nos supermercados a marca italiana Cannamela, a norte-americana Mc Cormick e as francesas Ducros e Fauchon.
Como esses produtos vêm prontos para o Brasil, Cherubini acredita que as altas de preços serão maiores do que as das empresas que importam as especiarias para embalá-las no país, como é o caso da Yoki.
A Aurora Bebidas e Alimentos, que importa a linha de condimentos Mc Cormick, já reduziu as compras por causa da alta do dólar. Em dezembro, o vidro de páprica custava cerca de R$ 5 -agora sai por R$ 8. O preço do orégano subiu de R$ 3,87 para R$ 5,90 e o da canela em pó, de R$ 5,17 para R$ 8.
"O tempero embalado no Brasil sai mais barato porque as taxas de importação de produtos prontos são mais altas", diz Cristiane Gerazo, gerente de produto da Aurora.
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Televisão ajuda De 96 para 98, com o câmbio favorável às compras no exterior, a importação da linha Mc Cormick subiu 33%. "Ainda não sabemos o que vai acontecer neste ano. A Aurora deve reduzir em 40% o volume geral de importação no primeiro semestre deste ano em relação a igual período de 98."
A Hikari, que traz 90% da sua linha de condimentos do exterior, informa que parou a importação com a alta do dólar porque tinha matéria-prima em estoque. "Vamos ver se conseguimos negociar melhores preços", diz Jorge Alves, diretor.
Com o Real, segundo ele, as vendas de condimentos da Hikari subiram 20%. A divulgação da culinária em programas de televisão, diz, contribuiu muito para aumentar o consumo de temperos.
Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), as importações de especiarias aumentaram de US$ 10,69 milhões em 94 para US$ 18,27 milhões em 98.
As exportações brasileiras foram bem maiores no período. Subiram de US$ 49,62 milhões para US$ 86,09 milhões, só que a maior parte desse valor se refere às vendas de pimenta, gengibre e cravo-da-índia.



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