São Paulo, quinta-feira, 22 de abril de 2004

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CENÁRIO RÓSEO

Fundo vê "clima de primavera na recuperação mundial" e estima expansão de 4,6% para este ano e de 4,4% em 2005

Crescimento global deve voltar ao nível pré-bolha, diz FMI

DE WASHINGTON

O crescimento econômico mundial neste ano deve voltar ao patamar de antes do estouro da "bolha financeira", em 2001, e permanecer em um nível elevado também em 2005.
"Há um clima de primavera na recuperação mundial", disse ontem Raghuram Rajan, economista-chefe do FMI, ao anunciar que o mundo deverá crescer 4,6% neste ano e 4,4% em 2005.
"Se tudo continuar como o esperado, estaremos na direção dos dois melhores anos em mais de uma década", disse Rajan.
A forte recuperação no comércio global, da economia dos EUA e a continuação de resultados positivos na Ásia emergente fizeram o FMI revisar para cima, em 0,6 ponto percentual, a expectativa de expansão para 2004.
O crescimento global deste ano deve encostar na taxa registrada no ápice da "bolha financeira", em 2000 (4,7%), e tem como principal característica o fato de "estar florescendo ao mesmo tempo em várias regiões do mundo".
Se confirmados, a expansão de 4,6% dos EUA neste ano (o maior em duas décadas) e os índices acima de 7% na Ásia emergente em 2004 e 2005 (China à frente) serão os principais motores da retomada. A recuperação norte-americana, prevê o FMI, também deve começar a gerar uma "retomada decente" do emprego no país.
Mesmo o Japão, que registra taxas medíocres há quase uma década, deve crescer 3,4% neste ano, o melhor resultado desde 1996.
""O que estamos vendo no Japão atualmente é a passagem de uma recuperação baseada em exportações para investimentos e, mais recentemente, para um aquecimento do consumo", diz Rajan.
O ciclo da recuperação japonesa foi impulsionado pelas importações da China e vem se consolidando com uma série de medidas de saneamento no setor corporativo e bancário.
Para a China, o Fundo prevê crescimento de 8,5% neste ano e de 8% em 2005.
Além da recuperação no comércio mundial, o FMI vê um aumento nos investimentos e no consumo interno em vários países. Um quadro de inflação baixa torna a recuperação mais consistente.

Europa
Entre as principais regiões do mundo, apenas a Europa seguirá "morna", com previsões de crescimento de 1,7% em 2004 e 2,3% em 2005. "A zona do euro também sairá desse quadro, que é temporário", disse Rajan.
Apesar do otimismo, o FMI alerta para o fato de que o mundo "esgotou" os instrumentos clássicos a serem usados "se o inesperado ocorrer". "Há risco nesse cenário róseo, e estamos sem seguro contra novos choques."
Apelando para a fábula maior sobre a prudência, o indiano afirmou: "É verdade que o mundo saiu do inverno de uma recessão. Mas a mensagem é que, em vez de dançarmos durante a primavera e o verão, deveríamos fazer provisões para o futuro. O papel da formiga pode ser chato, mas é o mais prudente em economia".
Entre os riscos, o FMI elencou um possível aumento nos preços do petróleo e a imprevisibilidade de ataques terroristas.

Motor e risco
Um dos principais motores da atual recuperação é também a causa de preocupação e o "seguro" que deixou de existir.
Boa parte da retomada é atribuída aos EUA, que adotaram uma política fiscal frouxa que elevou o déficit fiscal do país a níveis recordes. O FMI não vê espaço para novos estímulos fiscais na eventualidade de um choque.
A outra conseqüência do déficit nos EUA é que as taxas de juro na maior economia do planeta devem subir em breve, o que pode drenar recursos de outras partes do mundo e provocar crises em países emergentes.
O FMI elogiou a posição do Fed (o BC dos EUA), que já estaria "preparando o mercado" para uma alta dos juros, hoje em 1%.
"O desafio agora é moldar o caminho para que o mercado não seja surpreendido", disse Rajan sobre o papel do Fed.
O Fundo também cobrou dos EUA "planos fiscais mais críveis" para a diminuição do déficit fiscal, equivalente a 5% do PIB. (FCz)


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