São Paulo, quinta-feira, 22 de abril de 2004

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SALÁRIO

Equipe econômica diz ao presidente que reajuste real acima de 1,5% implica corte no Orçamento; salário-família deve subir

Governo tende a elevar mínimo para R$ 260

JULIANNA SOFIA
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Embora ainda não haja definição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cresceu a tendência no governo de reajustar o salário mínimo de R$ 240 para R$ 260 a partir de 1º de maio. O salário-família também teria um aumento, passando de R$ 13,48 para R$ 25.
O presidente ainda busca uma forma de conceder um aumento maior para o mínimo, reajustando-o para até R$ 270. Mas, na reunião realizada na noite de terça-feira com dez ministros, a equipe econômica voltou a dizer a Lula que um aumento assim implicaria cortes no Orçamento.
Um novo corte nas despesas deixaria o governo praticamente sem margem para investimentos em infra-estrutura, o que tem forte capacidade de movimentar a economia e gerar empregos. A decisão sobre o mínimo deverá ser tomada até segunda-feira.
O reajuste para R$ 260 significaria um aumento real de R$ 4 (1,5%). Apenas para repor a inflação acumulada em 13 meses (abril de 2003 a abril de 2004), o salário mínimo precisa ser reajustado para R$ 256. Pelos cálculos do governo, esse aumento de R$ 4 teria um impacto nos gastos federais de R$ 858 milhões por ano.
A Folha apurou que na reunião o presidente teria pedido informações sobre a recuperação de dívidas da Previdência, que se aproximam de R$ 200 bilhões. O Ministério da Previdência prepara um novo sistema informatizado para execução judicial de débitos. Também foi discutida a greve dos procuradores do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). A paralisação tem dificultado a cobrança de débitos das empresas com a Previdência.
Segundo relato de participantes da reunião, o ministro Ricardo Berzoini (Trabalho) teria defendido um aumento do mínimo para pelo menos R$ 270. O argumento é que um reajuste maior pode aumentar o consumo, o que poderia contribuir para melhorar a atividade econômica.
Ao propor um reajuste do salário-família para R$ 25, o governo quer ampliar a discussão sobre o mínimo para um debate mais abrangente sobre renda familiar. Pela proposta, o novo salário-família valeria para famílias com até três dependentes (filhos até 14 anos ou inválidos).
O salário-família é um benefício previdenciário pago a trabalhadores com renda até R$ 560,81. A cota é paga por dependente. No caso de uma família em que o pai e a mãe estão enquadrados nas regras do benefício, ambos podem recebê-lo. Também têm direito ao benefício aposentados acima de 65/60 anos (homem/mulher).
O reajuste somente pela inflação elevaria o salário-família para R$ 14,09. Pelas contas do governo, o aumento do benefício para R$ 25 para famílias com até três dependentes reduziria a arrecadação da Previdência em R$ 852 milhões por ano. Isso porque o benefício é pago diretamente pelas empresas aos trabalhadores e depois descontado das contribuições previdenciárias devidas.
No encontro com o presidente, foi completamente descartada a hipótese levantada pelo PMDB de criar um fundo com recursos do governo federal para atenuar os impactos do aumento do salário mínimo nas prefeituras.


Colaborou Ranier Bragon, da Sucursal de Brasília

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