São Paulo, quinta-feira, 22 de abril de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Planalto esboça justificativa para promessa quebrada

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Palácio do Planalto já tem um esboço de discurso que irá usar para justificar o abandono da promessa de dobrar o poder de compra do salário mínimo até 2006. Em vez de 100% de aumento real, a idéia é começar a falar em 100% de valorização em relação ao dólar.
O argumento, já presente perifericamente nas falas de algumas lideranças governistas, alia o controle cambial nos últimos meses ao controle da inflação para sustentar que o mínimo está sendo fortalecido.
O raciocínio consiste no seguinte: em janeiro de 2003, quando começou o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o dólar estava próximo dos R$ 4 e, portanto, o salário mínimo de R$ 200 representava US$ 56.
Com a valorização do real ante o dólar -cotado a R$ 2,93 na terça-feira-, uma duplicação do valor cambial, US$ 112 (R$ 328) até 2006, mantida a estabilidade da moeda norte-americana, seria muito mais fácil do que uma duplicação real (descontada a inflação).
Cálculos da oposição dão conta de que o reajuste neste ano deveria elevar o mínimo a R$ 332 e chegar a mais de R$ 500 em 2006 para que a promessa de dobrar o valor real de compra fosse cumprida. Lideranças governistas devem bater também na tecla de que o controle da inflação proporciona um salário atualizado por muito mais tempo. No ano passado, o governo deu um aumento real de 1,23%. Durante a gestão Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), o aumento médio real foi de 5% ao ano.
Durante a campanha e no pronunciamento dos cem dias de governo, Lula disse que seu governo dobraria o valor de compra do salário mínimo. Ontem, em seu programa de rádio, repetiu a promessa.
O governo também argumenta que os municípios não conseguiriam bancar suas folhas de pagamento com um reajuste significativo e que o salário-família será reajustado.


Texto Anterior: Salário: Governo tende a elevar mínimo para R$ 260
Próximo Texto: Opinião: Bancos são essenciais à expansão da China
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.