São Paulo, quinta-feira, 22 de abril de 2004

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OPINIÃO

Bancos são essenciais à expansão da China

DA REDAÇÃO

O vice-premiê da China, Huang Ju, classificou como fundamental o papel dos bancos no desenvolvimento econômico chinês durante reunião anual de primavera dos membros do IIF (Instituto de Finanças Internacionais), ocorrida em Xangai no último dia 16. Huang Ju afirmou ainda que o governo chinês continua empenhado na abertura do mercado financeiro ao capital internacional e na reforma dos principais bancos estatais do país.
Leia a seguir a íntegra do discurso de Huang Ju na abertura do evento:
 
Na ocasião do encontro de primavera de 2004 dos membros do Instituto de Finanças Internacionais aqui em Xangai, uma cidade situada às margens do pitoresco rio Huangpu, eu gostaria de dar meus parabéns calorosos aos membros do encontro, em nome do governo da China, e estender minhas boas-vindas sinceras a todos os amigos vindos de todas as partes do mundo.
Nosso mundo é hoje palco de uma revolução científica e tecnológica crescente, de uma globalização econômica contínua e de um ajuste acelerado das estruturas industriais que atravessam fronteiras nacionais.
Enquanto isso, a internacionalização do setor financeiro se desenvolveu rapidamente, acompanhada de uma expansão das transações financeiras globais raramente vista na história, algo que, por um lado, atuou como incentivo forte ao crescimento econômico de muitos países e, por outro, fez aumentar as incertezas em relação à economia global e às finanças internacionais.
Na fase atual do século 21, o desenvolvimento econômico e financeiro dos países se vê diante tanto de oportunidades sem precedentes quanto de diversos desafios novos. Nesse contexto, seria extremamente significativo discutir as tendências futuras do desenvolvimento econômico e financeiro mundial e explorar maneiras eficazes de fomentar esse desenvolvimento. Fico satisfeito por ver que os participantes neste encontro trocaram idéias e expressaram suas opiniões de maneira entusiasmada e, em especial, que fizeram sugestões para a reforma e o desenvolvimento econômico e financeiro da China.
A comunidade financeira chinesa deve dar ouvidos a suas opiniões e recomendações e aproveitar as experiências úteis proporcionadas por esse encontro.
Eu gostaria de compartilhar com os senhores minhas observações sobre a promoção da prosperidade e do desenvolvimento financeiro globais, salvaguardando a estabilidade e a segurança do regime financeiro internacional, e sobre maneiras de melhor favorecer o desenvolvimento econômico e social dos países.
Para começar, fortalecer a regulamentação financeira. As finanças estão no cerne da economia moderna. Um setor financeiro seguro guarda relação com o desenvolvimento econômico e com a estabilidade social. Em vista dos impactos amplos e sérios dos riscos financeiros, se um país os apresenta, ele não apenas arrastará toda sua região para uma turbulência financeira, como também enviará ondas de choque ao mercado financeiro global, podendo até mesmo desencadear instabilidade econômica e política mundial.
Logo, todos os países precisam reforçar sua regulamentação financeira de modo a evitar riscos potenciais e, conjuntamente, conservar a segurança e estabilidade do regime financeiro mundial.
Em segundo lugar, procurar aperfeiçoar os serviços financeiros. As finanças desempenham papel essencial na distribuição de recursos. É responsabilidade e obrigação conjunta da comunidade financeira favorecer o desenvolvimento econômico e social.
Todas as instituições financeiras devem fornecer a seus clientes serviços abrangentes, convenientes, velozes e seguros, intensificando sua consciência de serviço e melhorando seus padrões de atendimento.
Apenas quando os provedores de serviços financeiros forem capazes de bem atender ao desenvolvimento econômico e social é que o setor poderá apresentar progressos constantes.
Em terceiro lugar, promover ativamente as inovações financeiras. A inovação constitui fonte inesgotável da energia que move o desenvolvimento econômico e financeiro. As empresas financeiras devem acompanhar a tendência do desenvolvimento econômico, científico e tecnológico do mundo atual. E promover ativamente a inovação abrangente no interior das instituições financeiras, o alinhamento do setor, dos produtos e do know-how, ao mesmo tempo em que trabalham para ampliar suas operações comerciais e torná-las mais dinâmicas e mais eficientes em relação aos custos, de modo a facilitar o desenvolvimento financeiro e econômico sustentável.
Em quarto lugar, conduzir intercâmbios e cooperação amplos. O fortalecimento dos intercâmbios e da cooperação financeiros entre países é o requisito objetivo da crescente globalização financeira e econômica.
Todos os governos e as comunidades financeiras devem apoiar-se e coordenar-se entre si nas áreas de prevenção de riscos, regulamentação econômica, instrumentos tecnológicos e intercâmbios de pessoal, e, com esforços coordenados, combater a especulação financeira internacional, a lavagem de dinheiro e outros crimes financeiros.
Eles devem também, através de meios e canais diversos, compartilhar informações e trocar idéias regularmente sobre as principais questões e os problemas financeiros, aprendendo com as experiências bem sucedidas uns dos outros e promovendo o desenvolvimento econômico e financeiro seguro no mundo.
Graças a 25 anos de reforma e de abertura, a China gerou uma história de sucesso notável, história essa que conquistou reconhecimento mundial. A estrutura econômica tradicional do planejamento central foi inicialmente transformada em uma estrutura de economia de mercado socialista, e a economia antes fechada e semifechada se transformou numa economia que se abre para o mundo inteiro.
O PIB [Produto Interno Bruto] chinês vem crescendo à média anual de 9,4%. Sua força nacional global vem crescendo de maneira marcante, e a população chinesa, de modo geral, vive uma vida de relativo conforto.
Em 2003, superamos as dificuldades provocadas pela Sars [síndrome respiratória aguda grave] e desastres naturais graves, tendo alcançado um crescimento de 9,1%, levando o PIB per capita a superar a marca dos US$ 1.000 pela primeira vez.
Neste ano, a economia chinesa vem conservando seu crescimento acelerado, com melhores retornos econômicos, ampliação maior do comércio externo, operação financeira tranqüila e estabilidade básica na taxa de câmbio do yuan [a moeda chinesa].
Nós nos fixamos à meta grandiosa de erguer uma sociedade próspera, de maneira global, nos primeiros 20 anos do século 21. Até o ano 2020, o PIB chinês terá se multiplicado por quatro em relação ao de 2000, com o PIB per capita chegando aos US$ 3.000. Para alcançar essa meta, daremos prioridade máxima aos interesses da população; vamos cultivar e implementar um conceito científico de desenvolvimento e promover o desenvolvimento abrangente, coordenado e sustentável da economia e da sociedade. Vamos continuar a aprofundar as reformas e melhorar constantemente nossa economia de mercado socialista. Vamos aderir à política de abertura ao mundo externo, com esforços para aumentar ainda mais a abertura econômica do país. O programa chinês de reforma e abertura e seu desenvolvimento econômico acelerado vão não apenas garantir benefícios à população chinesa, mas também contribuir para o desenvolvimento de outros países, ao gerar oportunidades enormes para suas comunidades empresariais e financeiras.
O governo chinês abre os braços às instituições financeiras estrangeiras. Elas são bem-vindas para operar na China ou para cooperar com suas equivalentes chinesas.
Atribuímos grande importância ao papel crucial do setor financeiro na economia moderna e adotamos uma série de políticas e medidas para facilitar o desenvolvimento desse setor. Com a expansão vigorosa, as reformas estruturais aprofundadas e a abertura gradativamente maior ao mundo externo verificados nos últimos 20 anos ou mais, o setor financeiro chinês vem desempenhando um papel crescente no desenvolvimento econômico e social da China e aumentou sua influência no mundo.
Para responder à tendência geral verificada no desenvolvimento econômico e financeiro mundial e às necessidades da modernização da China, vamos intensificar nossas reformas e promover a abertura do setor financeiro, promovendo energicamente seu desenvolvimento seguro.
Para começar, vamos promover a reforma financeira em todas as áreas. A chave para isso é aprofundar a reforma das empresas financeiras. As três maiores companhias de seguros da China completaram seus processos de reorganização e reestruturação.
O projeto piloto de transformação do Banco da China e do Banco de Construção da China em instituições com acionistas já está bem encaminhado. A expectativa é que dentro de três anos esses dois bancos comerciais estatais possam contar com mecanismos bem estabelecidos operacionais e de governança e possam emergir como bancos comerciais de acionistas, dotados de competitividade internacional. Também vamos introduzir reformas a outras empresas financeiras, com vistas a transformá-las em empresas modernas dotadas de capital suficiente, administração interna forte, operações seguras, bons serviços e retornos econômicos satisfatórios.
Em segundo lugar, vamos abrir o setor financeiro ao mundo externo. Até o final de 2003, foram instaladas na China 191 agências de bancos estrangeiros, duas corretoras com participação acionária conjunta, 11 firmas de gerenciamento de fundos com participação acionária conjunta e 67 filiais de seguradoras estrangeiras.
De maneira condizente com os compromissos que assumimos junto à OMC [Organização Mundial do Comércio], vamos continuar a rever e classificar nossas leis e nossos regulamentos, ampliando o acesso geográfico e operacional a bancos estrangeiros, corretoras e seguradoras, ao mesmo tempo encorajando o envolvimento maior de companhias financeiras estrangeiras na reforma das estatais da China, nos programas de desenvolvimento ocidentais e na reativação da velha base industrial do nordeste da China. Dentro do espírito de evitar riscos, vamos levantar as restrições impostas às transações de capital entre países, de maneira seletiva e gradativa, passo a passo, levando, após certo prazo de tempo, à conversibilidade do yuan sob a conta de capital.
Em terceiro lugar, vamos acelerar as inovações e o desenvolvimento financeiros. No momento, estamos trabalhando duro para promover as reformas, a abertura e o desenvolvimento constante do mercado de capitais, para padronizar ainda mais o mercado de ações e de futuros e para desenvolver vigorosamente o mercado de seguros, com vistas a criar, com o tempo, um mercado de capitais que seja transparente, eficiente, amplo e seguro, mercado esse que aumente consideravelmente nossa capacidade de dirigir o financiamento. Vamos encorajar nossas empresas financeiras a procurarem as inovações organizacionais, operacionais e de produtos com ênfase maior no financiamento eletrônico e no aperfeiçoamento significativo do atendimento e da competitividade das firmas financeiras chinesas.
Em quarto lugar, iremos manter a estabilidade financeira. Vamos completar ainda mais nossos mecanismos de controle e administração financeira, fortalecer a regulamentação, retificar a ordem financeira, melhorar nosso sistema de credibilidade e reduzir os créditos de liquidação duvidosa. Também vamos melhorar o mecanismo de formação da taxa de câmbio do yuan, procurar um balanço de pagamentos internacional melhor e manter a estabilidade básica de nossa moeda, em nível razoável e equilibrado. Vamos zelar por nossa segurança financeira, protegendo-a de possíveis impactos provocados pelo capital especulativo.
Promover a prosperidade e o desenvolvimento financeiro global e salvaguardar a estabilidade e segurança do regime financeiro internacional atende aos interesses de todos e de cada um dos países do mundo e requer os esforços coordenados de todos os governos e das comunidades financeiras do mundo.
Vamos nos dar as mãos, agarrar as oportunidades, com inovação ousada e cooperação mais estreita, e trabalhar juntos em prol de um regime financeiro internacional seguro e eficiente e da expansão maior e mais rápida da economia mundial.


Tradução de Clara Allain

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