|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Usineiros preparam ofensiva
no exterior
AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
A indústria canavieira do
Brasil prepara uma ofensiva
mundial para rebater as acusações de que é parte responsável
pela inflação global dos alimentos. Depois de ser apontado como solução para o "vício" mundial de petróleo, cresceram as
críticas de organizações multilaterais como a FAO (organismo da ONU para agricultura e
alimentação) e o FMI (Fundo
Monetário Internacional) de
que a expansão da produção
mundial de combustíveis renováveis reduz igualmente a área
para alimentos. Segundo cálculos da Unica, o custo da ofensiva superará R$ 8 milhões nos
próximos dois anos.
A Unica (União da Indústria
da Cana de Açúcar) ainda não
sabe se o ataque ao setor é coordenado ou não, mas acompanha o interesse mundial pelo
modelo brasileiro. Jornalistas
de mais de 40 países já vieram
ao Brasil atrás do modelo para
os biocombustíveis no país.
A entidade sabe que empreenderá um esforço delicado
a partir de agora. A Unica, que
representa 110 das 370 usinas
no país, concorda parcialmente
com o argumento mundial,
mas pretende ressaltar que a
questão brasileira é diferente.
Falar de problemas na produção de alimentos nos Estados
Unidos, que usa volumes crescentes de milho para produzir
álcool, faz sentido, mas a discussão é completamente diferente no Brasil.
O plano é mostrar que a produção de álcool a partir da cana
não concorre com a produção
de alimentos. Nos últimos
anos, a produção de biocombustíveis e de alimentos cresceram no Brasil. A Unica quer
mostrar, por exemplo, que os
canaviais ocupam pequena
parte da área para plantio no
Brasil. Dirá ainda que esse espaço já substitui metade do
combustível líquido consumido pelos automóveis do país.
"Se a idéia é falar sobre a concorrência entre a produção de
alimentos e biocombustíveis
nos Estados Unidos, aí tudo
bem. Lá, de fato, é o local apropriado. Mas incluir o Brasil
nessa questão ou é má-fé ou desinformação", diz Adhemar Altieri, diretor corporativo da
Unica e o responsável por armar o contra-ataque.
Depois de criar dois escritórios no exterior (Washington e
Bruxelas), a Unica estuda um
terceiro na Ásia. Segundo Altieri, a localização ainda não está
definida.
A idéia é usar todo aparato de
comunicação para retrucar todas as informações consideradas erradas pela Unica e emitir
comunicados públicos em caso
de ataques mais graves.
A nova direção da Unica pretende contratar uma empresa
para acompanhar diariamente
o assunto na imprensa mundial. É a primeira vez que a entidade terá uma clipagem mundial. "Informações equivocadas
sobre o setor em veículos de
pouca expressão nunca eram
questionadas. Vamos mudar isso. A idéia é não deixar de se
manifestar junto ao veículo e
até se manifestar publicamente
quando for o caso", disse Altieri. Além da mídia, o acompanhamento será extensivo a publicação de estudos e de relatórios ao redor do mundo.
O setor sucroalcooleiro contratou em janeiro a Fleishman-Hillard para administrar a comunicação do setor no exterior. A empresa deve intermediar o contato mundial do setor
sucroalcooleiro com veículos
de comunicações ou entidades
e governos interessados no biocombustível. Um programa de
visitas monitoradas ao Brasil
também faz parte do plano de
comunicação. Na semana passada, por exemplo, uma comitiva de parlamentares noruegueses -liderada pelo ministro de Finanças daquele país- visitou
uma usina de açúcar e álcool
brasileira. A Noruega é um dos
países europeus interessados
em adotar a mistura compulsória de álcool na gasolina.
Texto Anterior: Lula quer campanha global para defender os biocombustíveis Próximo Texto: Emergente bate EUA em consumo de petróleo Índice
|