São Paulo, quarta-feira, 22 de maio de 2002

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CRISE EM WALL STREET

Analistas teriam dado dicas furadas de propósito; grupo nega estar reconhecendo culpa com acordo

Merrill paga US$ 100 mi por enganar cliente

DA REDAÇÃO

A Merrill Lynch & Company, grupo norte-americano a que pertence a maior corretora de Wall Street, anunciou ontem que desembolsará US$ 100 milhões em um acordo para encerrar o processo no qual é acusada de enganar investidores que pagavam para obter análises e dicas teoricamente isentas.
A corporação fará ainda reformas para evitar o conflito de interesses entre as divisões de consultoria e de investimentos.
Para a Merrill, que tenta acabar com uma séria crise de credibilidade, o acordo não significa um reconhecimento ou confissão de que tenha cometido práticas irregulares nem ilegais. Com ele, a companhia tenta se esquivar de uma enxurrada de ações individuais e coletivas, que poderia representar custos ainda mais elevados com indenizações.
O banco de investimentos Merrill Lynch, que pertence ao grupo, é um dos que rebaixaram os papéis da dívida brasileira no começo do mês. Outras instituições financeiras também estão sendo investigadas sob suspeitas de conflitos de interesse. Os analistas da Merrill teriam lesado investidores em milhões de dólares ao aconselhar, propositalmente, a compra de ações que sabiam ser grandes fiascos. O objetivo das recomendações furadas era melhorar os resultados da divisão de investimentos.
A Promotoria de Nova York, que iniciou o inquérito há dez meses, teve acesso a e-mails em que analistas condenam, reservadamente, papéis que haviam recomendado publicamente. Um dos envolvidos é o analista de internet Henry Blodgetl, até pouco tempo uma das estrelas de Wall Street.
"Pedimos desculpas a clientes, acionistas e funcionários pelas mensagens inapropriadas", disse a Merrill em um comunicado.
O procurador-geral de Nova York, Eliot Spitzer, ampliou as investigações para praticamente todos os grandes bancos que operam no mercado nova-iorquino. São eles: Morgan Stanley (que também rebaixou os papéis brasileiros recentemente), Credit Suisse First Boston, Salomon Smith Barney e Goldman Sachs.
"Ao adotar as reformas previstas no acordo, a Merrill Lynch estabelece um novo padrão a ser seguidos pelas outras instituições", afirmou Spitzer, em uma nota divulgada ontem.
Entre as mudanças decididas está a reformulação da maneira como os analistas e corretores serão remunerados e receberão comissões. Um novo sistema vai monitorar a comunicação eletrônica entre os funcionários, para coibir o conflito de interesses.
Além disso, todas as recomendações e classificações de risco serão revisadas por funcionários independentes.
A Merrill pagará US$ 48 milhões a Nova York e US$ 52 milhões a outros Estados que também entraram no processo. O valor é o maior desde os US$ 100 milhões desembolsados pelo CSFB, em dezembro, para encerrar um processo em que o banco era acusado de manipular o lançamento de ações na Bolsa nova-iorquina.


Com agências internacionais


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