São Paulo, segunda-feira, 22 de maio de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CEF emprestará R$ 60 bi, diz presidente

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Mulher, nordestina, divorciada e jornalista por formação. Não poderia ser mais heterodoxo o perfil da primeira mulher a comandar a Caixa Econômica Federal em 145 anos de vida da instituição. Maria Fernanda Ramos Coelho, 44, assumiu a presidência do segundo maior banco do país, com R$ 189 bilhões de ativos, em 30 de março, no olho do furacão. Ela substituiu o economista Jorge Matoso, demitido em conseqüência da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa. Funcionária de carreira, com 22 anos de Caixa, Coelho defende o papel social do banco público que comanda e diz que a "rentabilidade da instituição reverte em menores taxas de juros e em serviços aos clientes". Historicamente, o banco é um dos maiores aplicadores em títulos públicos federais, com uma carteira de R$ 96 bilhões, e ainda hoje 59% das suas receitas de intermediação financeira vêm dessas operações. Mas a Caixa iniciou uma guinada para a área de crédito comercial - a exemplo dos bancos privados- e neste ano deverá destinar R$ 50 bilhões para financiamentos e mais R$ 10,2 bilhões para o crédito imobiliário. A seguir, trechos de sua entrevista.  

FOLHA - Qual o futuro da Caixa, num cenário de queda da taxa Selic, já que ela aplica mais em títulos do governo do que no crédito? MARIA FERNANDA RAMOS COELHO - Isso vem mudando nos últimos anos, e o resultado do primeiro trimestre, quando tivemos um lucro recorde para o período, de R$ 700 milhões, consolida uma estratégia que tem como foco a expansão do crédito. Em 2003, 21% das receitas da Caixa vinham das operações de crédito e 59%, das operações de tesouraria [aplicações em títulos públicos e outros valores mobiliários]. No primeiro trimestre, as operações de crédito representaram 30% das receitas da Caixa.

FOLHA - A Caixa não está entrando um pouco tarde nesse mercado? COELHO - A Caixa passou por uma reestruturação patrimonial em 2001 e esse processo começou naquela época. Em 2002 as operações de crédito comercial atingiram R$ 15,7 bilhões; no ano passado alcançaram R$ 35,8 bilhões e nossa meta para 2006 é ultrapassar a marca de R$ 50 bilhões.

FOLHA - Quanto a Caixa tem aplicado hoje em títulos públicos? COELHO - A carteira de títulos da Caixa é de aproximadamente R$ 96 bilhões, valor um pouco inferior ao do final de 2005. Não há nenhuma concorrência dos recursos alocados em tesouraria com aqueles dispostos para crédito. Por enquanto, não temos limitação de oferta de crédito. A Caixa pretende emprestar mais de R$ 62 bilhões neste ano (incluído aí o crédito imobiliário) e pode até emprestar mais, se houver demanda.

FOLHA - Quanto a Caixa vai destinar ao crédito imobiliário este ano? COELHO - Serão investidos R$ 10,2 bilhões. Em 2005, foram R$ 9,1 bilhões no total. Até a semana passada, já investimos R$ 4,2 bilhões em novos financiamentos imobiliários. Esse valor é 105% superior ao realizado no mesmo período do ano passado. Estes são números surpreendentes.

FOLHA - Quais as faixas de renda que poderão tomar esses recursos? COELHO - Atendemos a todas as faixas de renda. O déficit habitacional, no entanto, é concentrado nas famílias com renda de até cinco salários mínimos, em que há necessidade de sete milhões de unidades. Dos R$ 10,2 bilhões que a Caixa vai destinar ao crédito imobiliário neste ano, cerca de R$ 5 bilhões são recursos do FGTS. E 85% desses recursos são destinados a famílias com renda de até cinco salários mínimos. Em 2005 esse percentual chegou a 77% e até 2002 era de 50%. Do total de recursos que destinaremos neste ano ao crédito imobiliário, R$ 2 bilhões irão para a classe média.

FOLHA - Por que a rentabilidade da Caixa tem sido inferior à dos bancos privados? COELHO - A Caixa é um banco público e busca conciliar a função de banco público com o resultado esperado. Os juros do crédito pessoal, de 2,83% ao mês, são os mais baixos do mercado, por exemplo. Também reduzimos as taxas de prestação de serviços governamentais, que são hoje 32% menores que as praticadas em 2002. Mesmo assim, no primeiro trimestre o retorno sobre o patrimônio líquido foi de 37%, em linha com o do setor privado.


Texto Anterior: FOLHAINVEST
Cresce a concentração bancária no país

Próximo Texto: "Quebra de sigilo é caso superado"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.