São Paulo, sábado, 22 de junho de 2002

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MERCADO EM TRANSE

Secretário dos EUA diz que FMI não deve fornecer dinheiro novo ao país; risco- país volta a subir

Dólar só sobe e tem o maior preço do real

ANA PAULA RAGAZZI
DA REPORTAGEM LOCAL

O fundo do poço está próximo e o Banco Central deverá adotar novas medidas na próxima segunda-feira, a fim de conter a valorização do dólar diante do real. Essa era a expectativa do mercado ao fim do nervoso pregão de ontem. O dólar encerrou o dia em alta de 2,53%, cotado a R$ 2,84. Na semana, se valorizou em 4,6%.
Em termos nominais, a moeda americana atingiu sua maior cotação do Real. Em termos reais, descontada a inflação, a cotação está abaixo de seu recorde anterior -os R$ 2,835 registrados em setembro do ano passado, mês dos atentados terroristas nos EUA. Para superar a cotação de 21 de setembro, em termos reais, o dólar teria de valer acima de R$ 2,91 hoje. O risco-país subiu mais 7,1% ontem. Continua a sensação de que o Brasil poderá dar um calote na sua dívida, o que faz com que investidores tentem se livrar dos papéis brasileiros.
Os negócios repercutiram ontem o rebaixamento do Brasil pela Fitch, anunciado na quinta-feira, com os mercados fechados.
À tarde, a moeda chegou a reduzir sua alta, logo após um leilão de "swap" cambial -uma espécie de seguro para proteger investidores de possíveis perdas com a variação cambial. A demanda pelos contratos superou em três vezes a oferta. Isso fortalece a idéia de que o câmbio é pressionado pela falta de dólares disponíveis no mercado. Por momentos, ontem, não houve negociações, pois ninguém estava disposto a vender a moeda.
Também afetaram o dia declarações do secretário do Tesouro americano, Paul O'Neill, de que irá se opor à liberação de recursos adicionais do FMI para o Brasil.
Para Guilherme da Nóbrega, do banco Fibra, foi uma fala "sem pé nem cabeça": "O Brasil não fez nenhum pedido adicional, apenas renegociou um acordo que está em vigor. Isso só eleva a tensão".
Para os analistas, se o BC não atuar firme na segunda, não há um teto previsível para o potencial de alta do dólar.
"Não acredito em uma reversão espontânea da tendência atual. O BC precisa fazer algo", diz Miriam Tavares, da AGK. Entre as medidas esperadas pelo mercado está a elevação da alíquota dos depósitos compulsórios dos bancos à vista e a prazo.
Desde o anúncio do "pacote calmante", o BC vendeu dólares em três dias, com intervenções discretas e insuficientes para conter a alta. Na sexta-feira, vendeu US$ 10 milhões. Na terça, US$ 60 milhões. O valor vendido na quinta será conhecido semana que vem.



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