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MERCADO EM TRANSE
Indicador sobe 7,1% e passa dos 1.700 pontos
EUA se opõem a aumentar ajuda, e risco-país dispara
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
Depois das agências de risco,
ontem foi a vez de o secretário do
Tesouro dos EUA, Paul O'Neill,
contribuir para a deterioração dos
mercados brasileiros. O'Neill
usou seu estilo trivial para dizer
que se opõe a um aumento do
atual pacote de ajuda do FMI ao
Brasil. "Jogar dinheiro dos contribuintes norte-americanos em cima das incertezas políticas no
Brasil não parece ser [uma medida" muito brilhante", disse, em
entrevista à agência de notícias
Bloomberg. "A situação lá é guiada por política, não por condições
econômicas."
O'Neill referia-se a rumores de
que o Brasil poderia pedir mais
recursos para desfazer dúvidas
quanto à capacidade de o governo
e de empresas privadas do país
pagarem suas dívidas.
Para alguns investidores, a declaração de O'Neill, tido como admirador da equipe econômica
brasileira, sugere uma mudança
no tratamento dispensado pelo
Tesouro dos EUA para o país.
Suas palavras assemelham-se às
que usou em agosto de 2001 para
fechar os cofres do FMI à administração De La Rúa enquanto a
economia argentina se dissolvia.
Na época, ele disse: "Estamos
trabalhando para encontrar uma
Argentina sustentável, não uma
Argentina que continue a consumir dinheiro dos carpinteiros e
encanadores norte-americanos
que ganham US$ 50 mil por ano e
se perguntam que diabos estamos
fazendo com seu dinheiro".
A única -e substancial- diferença entre as duas situações é
que o governo brasileiro não está
buscando mais recursos no Fundo, segundo informou ontem o
presidente do BC, Armínio Fraga.
Indagado pela Folha se a frase
de O'Neill representa uma mudança de tratamento dos EUA para o Brasil, Bob Nichols, porta-voz
do Tesouro, disse: "Não estou autorizado a ampliar nem a reduzir
o significado das palavras do secretário". Embora os recursos do
FMI não venham somente de encanadores norte-americanos
-mas também de juros pagos
por países emergentes em programas de ajuste-, os EUA são de
fato os maiores acionistas da instituição e orientam suas políticas.
Horas depois das declarações de
O'Neill (e também por outras razões), o dólar comercial batia seu
recorde histórico desde a implantação do Plano Real (1994), fechando a R$ 2,84 para venda.
O risco-país do Brasil fechou a
1.706 pontos, com alta de 7,1%. Os
juros pagos pelos C-Bonds superaram ontem o recorde de alta
atingido em janeiro de 1999, depois da adoção do câmbio flutuante. Os títulos da dívida externa encerraram o dia pagando
mais de 17 pontos percentuais de
juros (ou 1.700 pontos básicos)
acima da taxa de remuneração
dos títulos do Tesouro dos EUA.
O valor do C-Bond ao fim do dia
era de 57% de seu valor de face.
Rebaixamento
Os mercados continuavam a
reagir ao rebaixamento da nota
do Brasil feito por algumas agências de risco na quinta-feira.
Na terça-feira passada, o FMI
autorizou a liberação de mais US$
5 bilhões ao Brasil, ao aprovar a
terceira revisão de seu acordo
com o país. Além disso, o Fundo
autorizou a redução do piso das
reservas, o que aumenta o poder
de fogo do BC para intervir no
câmbio. Em troca, exigiu um aumento do rigor fiscal, que acabou
sendo concretizado para a elevação à 3,75% da meta de superávit
primário. O Fundo e o governo
dos EUA queriam algo em torno
de 4% a 4,5%, mas aceitaram os
argumentos do governo brasileiro de que seria politicamente impossível atingi-lo ainda em 2002, último ano do governo FHC.
Colaborou Érica Fraga, da Reportagem Local
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