São Paulo, sábado, 22 de junho de 2002

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MERCADO EM TRANSE

Só ontem a queda foi de 7,86%, em decorrência de rebaixamento feito pela agência Moody's

Ação da Petrobras despenca 22,6% no mês

ISABEL CAMPOS
DA REPORTAGEM LOCAL

As ações da Petrobras estão sendo bombardeadas na Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo). Ontem, os papéis ON fecharam em R$ 46,25 (-7,59% no dia) e os PN, em R$ 42,20 (-7,86%). Em junho, as perdas estão em 20,75% e 22,60%, respectivamente.
O motivo da desvalorização de ontem foi que a agência de classificação de risco Moody's mudou a perspectiva da empresa de estável para negativa, devido ao rebaixamento que o país também sofreu na quinta-feira. A mudança de classificação piorou ainda mais a percepção dos investidores, que, há alguns dias, já vêm se desfazendo dos papéis.
Alguns investidores estão vendendo os papéis da petrolífera porque têm medo de que seja eleito um presidente da República de oposição e que ele volte a utilizar a empresa para fins políticos, como observado no passado. O temor é que tome alguma atitude populista, como a de deixar de reajustar o preço da gasolina conforme o mercado internacional. Isso certamente reduziria a lucratividade da empresa.
Outro fator responsável pela queda da cotação na última semana foi a decisão tomada pelo conselho de administração da companhia na quinta-feira, 13 de junho, de que fará uma emissão de até US$ 1 bilhão em ações preferenciais e de até US$ 500 milhões em debêntures e títulos conversíveis em ações.
Como a empresa ainda não forneceu maiores detalhes, a operação suscitou várias dúvidas, fomentando um certo nervosismo em relação ao papel. "Há muitos "como será" a serem respondidos. Isso gera insegurança e leva o investidor a se desfazer do papel", diz Gregório Mancebo Rodriguez, da corretora Socopa. Entre as questões pendentes, ele cita: qual será o preço da ação na oferta pública, qual será a diluição do capital e se quem tem FGTS investido no papel poderá participar da subscrição.
Ricardo Kobayashi, analista do Banco Pactual, acha que uma das principais dúvidas é sobre como o dinheiro da captação será utilizado. "A empresa é muito capitalizada. Não precisa desse recurso adicional."
Os minoritários provavelmente terão direito a participar do aumento do capital e a subscrever (comprar) ações proporcionalmente ao que possuem. A questão é que isso implica desembolso, e quem não o fizer, pelo menos no curto prazo, sairá perdendo.
Quando uma empresa emite mais ações, o capital se dilui. Quem tem, por exemplo, o equivalente a 1% do capital da empresa passa a ter um percentual inferior a esse. Para manter a participação integral, é preciso entrar na subscrição.
Ao diluir o capital, o potencial de valorização por ação diminui e os dividendos (lucro distribuído ao acionista) a receber também. O HSBC, por exemplo, reduziu a projeção de preço justo (valor que pode atingir) das ações PN de R$ 77,40 para R$ 72,10 por causa da diluição, estimada pela instituição em 7,35% do capital.
Apesar da possibilidade de prejudicar o acionista no curto prazo, um aumento de capital pode ser benéfico para a empresa no longo prazo. Dependendo da forma como for investido, diz Rodriguez, poderá gerar melhores resultados e levar o acionista a recuperar no futuro o que, eventualmente, deixou de ganhar no curto prazo.
Outro problema relacionado ao anúncio de emissão é que, quase sempre, afirma Gustavo Alcântara, analista do Banco Prosper, induz o preço do papel a cair, mesmo que todas as regras estejam definidas.
"Para atrair investidores, as empresas costumam dar um prêmio [na forma de um desconto] para quem participa do aumento de capital", diz ele. Em razão disso, assim que há um anúncio de emissão, os investidores começam a vender o papel na expectativa de os recomprar no leilão por um valor inferior ao atual.


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