São Paulo, sábado, 22 de junho de 2002

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MERCADO EM TRANSE

Depois de cinco meses no cargo, Mario Blejer sai por divergências com ministro da Economia

Presidente do BC argentino pede demissão

JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

O Banco Central da Argentina está novamente sem presidente. Pouco mais de cinco meses após tomar posse, o titular do cargo, Mario Blejer, apresentou ontem carta de renúncia ao presidente Eduardo Duhalde em que pede para se desligar definitivamente da instituição até o dia 30. O pedido foi aceito.
Blejer já havia ameaçado renunciar em outras oportunidades devido a divergências com o ministro Roberto Lavagna (Economia). No entanto, dessa vez a decisão é definitiva. Blejer deverá viajar no domingo para os Estados Unidos, e não tem data para retornar.
Nas últimas vezes que ameaçou renunciar, o presidente do BC foi convencido por Duhalde a não deixar o cargo antes que o país conseguisse fechar um novo acordo com o FMI.
Blejer, que assumiu o comando do BC em 17 de janeiro, trabalhou no FMI durante mais de duas décadas e era considerado por Duhalde um homem importante para o sucesso nas negociações. Além disso, Blejer era peça-chave para a definição das novas metas monetárias exigidas pelo Fundo.
Na carta de demissão, Blejer indicou o vice-presidente do BC, Aldo Pignanelli, para assumir suas funções, mas Duhalde ainda não tomou uma decisão sobre o substituto. Pignanelli, que substitui Blejer temporariamente, pode ser efetivado porque tem a confiança do presidente.
No entanto, a equipe econômica e parte dos legisladores peronistas que influenciam Duhalde acham importante que o país tenha no comando do BC um nome mais conhecido no mercado externo. Ou, pelo menos, que seja uma pessoa com pensamento parecido ao vigente no Ministério da Economia, o que evitaria novas divergências. Até ontem, o candidato favorito de Lavagna era o assessor da Secretaria de Finanças do ministério, Gabriel Rubinstein.
Oficialmente, o presidente do BC justificou a decisão com motivos pessoais. Blejer teria a intenção de voltar a viver com a família nos Estados Unidos, onde poderia trabalhar para o governo na renegociação da dívida externa.
No entanto, foram os desentendimentos com Lavagna que levaram o presidente do BC à renúncia. O ministro nunca aprovou a maior reivindicação de Blejer: a concessão de imunidade judicial para a diretoria do banco tomar decisões sobre ajuda às instituições financeiras.
Blejer também apresentou nos últimos dias divergências com Lavagna em torno das metas monetárias que estão sendo negociadas com FMI. Blejer defende mais emissão de pesos para conceder uma ajuda "generosa" aos bancos em dificuldade. Lavagna queria menos emissão e o fim do socorro aos bancos. Além disso, os dois também discordavam sobre o uso das reservas internacionais para segurar a alta do dólar.
À tarde, Lavagna confirmou que viaja aos EUA na próxima terça-feira para reiniciar as negociações com o FMI. O ministro, que conversou ontem com a vice-diretora do Fundo, Anne Krueger, por telefone, deve se reunir com o FMI na quarta-feira.



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