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MERCADO EM TRANSE
Depois de cinco meses no cargo, Mario Blejer sai por divergências com ministro da Economia
Presidente do BC argentino pede demissão
JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES
O Banco Central da Argentina
está novamente sem presidente.
Pouco mais de cinco meses após
tomar posse, o titular do cargo,
Mario Blejer, apresentou ontem
carta de renúncia ao presidente
Eduardo Duhalde em que pede
para se desligar definitivamente
da instituição até o dia 30. O pedido foi aceito.
Blejer já havia ameaçado renunciar em outras oportunidades devido a divergências com o ministro Roberto Lavagna (Economia).
No entanto, dessa vez a decisão é
definitiva. Blejer deverá viajar no
domingo para os Estados Unidos,
e não tem data para retornar.
Nas últimas vezes que ameaçou
renunciar, o presidente do BC foi
convencido por Duhalde a não
deixar o cargo antes que o país
conseguisse fechar um novo acordo com o FMI.
Blejer, que assumiu o comando
do BC em 17 de janeiro, trabalhou
no FMI durante mais de duas décadas e era considerado por Duhalde um homem importante para o sucesso nas negociações.
Além disso, Blejer era peça-chave
para a definição das novas metas
monetárias exigidas pelo Fundo.
Na carta de demissão, Blejer indicou o vice-presidente do BC, Aldo Pignanelli, para assumir suas
funções, mas Duhalde ainda não
tomou uma decisão sobre o substituto. Pignanelli, que substitui
Blejer temporariamente, pode ser
efetivado porque tem a confiança
do presidente.
No entanto, a equipe econômica
e parte dos legisladores peronistas
que influenciam Duhalde acham
importante que o país tenha no
comando do BC um nome mais
conhecido no mercado externo.
Ou, pelo menos, que seja uma
pessoa com pensamento parecido
ao vigente no Ministério da Economia, o que evitaria novas divergências. Até ontem, o candidato
favorito de Lavagna era o assessor
da Secretaria de Finanças do ministério, Gabriel Rubinstein.
Oficialmente, o presidente do
BC justificou a decisão com motivos pessoais. Blejer teria a intenção de voltar a viver com a família
nos Estados Unidos, onde poderia trabalhar para o governo na
renegociação da dívida externa.
No entanto, foram os desentendimentos com Lavagna que levaram o presidente do BC à renúncia. O ministro nunca aprovou a
maior reivindicação de Blejer: a
concessão de imunidade judicial
para a diretoria do banco tomar
decisões sobre ajuda às instituições financeiras.
Blejer também apresentou nos
últimos dias divergências com Lavagna em torno das metas monetárias que estão sendo negociadas
com FMI. Blejer defende mais
emissão de pesos para conceder
uma ajuda "generosa" aos bancos
em dificuldade. Lavagna queria
menos emissão e o fim do socorro
aos bancos. Além disso, os dois
também discordavam sobre o uso
das reservas internacionais para
segurar a alta do dólar.
À tarde, Lavagna confirmou
que viaja aos EUA na próxima
terça-feira para reiniciar as negociações com o FMI. O ministro,
que conversou ontem com a vice-diretora do Fundo, Anne Krueger, por telefone, deve se reunir com o FMI na quarta-feira.
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