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São Paulo, domingo, 22 de junho de 2003

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NOSTALGIA

Produtos como máquina de escrever e toca-discos, que parecem fadados ao esquecimento, se mantêm com público fiel

Chapéu vence o tempo e ainda faz a cabeça

Antonio Gaudério/Folha Imagem
Vitrine da chapelaria El Sombrero, fundada em 1953, na rua do Seminário (centro de SP); a loja tem cerca de 180 modelos à venda


VINICIUS ALBUQUERQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

Chapéus de feltro milimetricamente cortados, toca-discos com agulhas fabricadas em determinadas regiões da Europa, máquinas de escrever que lembram a velha Remington. Esquecidos pelo tempo, certos produtos que parecem fadados só à lembrança têm um mercado fiel formado por consumidores que mantêm empresas seculares de pé.
O chapéu, peça do vestuário pouco comum hoje em dia, ainda ganha novos adeptos, mas tem sua clientela fiel. A Chapelaria Ópera, na rua do Seminário, região central de São Paulo, funciona desde 1954. A partir de 1990 viu o mercado se recuperar de uma queda de 70% em relação à década de 60. De acordo com José Miguel Jorge, proprietário da loja, a venda de chapéus cresceu cerca de 20% desde 95. Hoje, Jorge vende mais de 200 unidades por mês, entre os modelos country e social.
A chapelaria teve entre seus clientes Alfredo Buzaid (ministro da Justiça do governo Médici, de 1969 a 1974), Amador Aguiar (fundador do Bradesco) e Jânio Quadros (ex-presidente da República e prefeito de São Paulo de 1985 a 1988).
A rua ainda tem outra chapelaria tradicional, a El Sombrero. A loja está aberta desde 1935. Abram Kirszenwurcel, o proprietário, herdou o negócio do avô. "O chapéu sempre fez parte do vestuário das pessoas. Há 50 anos o chapéu era um acessório de uso comum. Algumas pessoas ainda precisam do chapéu para evitar um câncer de pele, por exemplo."
Segundo Kirszenwurcel, a variedade (cerca de 180 modelos diferentes) disponível na loja é tanta que chega a atrapalhar a venda.
Ele também atende clientes ilustres. "O Jô Soares é cliente nosso, o Sérgio Reis também, a Sula Miranda já esteve na loja. Mas os artistas não vêm até aqui pessoalmente, eles mandam assessores."

Tecla do barulho
Máquinas de escrever, com seu toque inconfundível, ainda frequentam muitos escritórios, empresas e bancos do país. A Maspa Máquinas para Escritório existe desde 1972 e fornece máquinas para escritórios de todo o país, principalmente Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul. No começo deste ano, fez uma venda de 180 máquinas manuais para a Bolívia. Seus principais clientes são revendedores.
Trabalha ainda com calculadoras de fita, autenticadoras e contadoras de cédulas. Na entrada da loja expõe algumas relíquias, máquinas de escrever e calculadoras de mais de cem anos.

Alta fidelidade
Os discos de vinil foram perdendo espaço a partir de 1991. Hoje, os novos aparelhos de som já não têm mais toca-discos. Quem prefere os velhos LPs, no entanto, não corre o risco de deixá-los encostados na prateleira por falta de agulhas para ouvi-los.
A loja de equipamentos de som Portal das Agulhas, especializada em toca-discos e localizada no centro de São Paulo, tem como principais clientes disc-jóqueis e audiófilos (pessoas que buscam alta qualidade de som).
O preço das agulhas varia de R$ 6 (modelos convencionais, para vitrolas e até gramofones) até R$ 1.300 (modelos mais sofisticados). Segundo Antônio Carlos Maia, vendedor da loja, algumas agulhas garantem uma qualidade de reprodução do som melhor que a dos CDs.
Mesmo os discos de vinil continuam ocupando seu nicho de mercado. A Poly Som, única fábrica do produto hoje no Brasil, produziu 277.230 LPs e 12 mil compactos em 2000. No ano passado, foram produzidos 50.720 LPs. "Noventa e cinco por cento dos nossos clientes são artistas de gravadoras pequenas, independentes", diz Luciana de Carvalho Gonçalves, gerente da fábrica. "Na Europa e nos EUA a produção de discos de vinil nunca diminuiu. Alguns títulos acabam tendo um maior número de cópias em LPs do que em CDs."

"Obsoletos"
Segundo o consultor de varejo Eugênio Foganholo, da Mixxer Desenvolvimento Empresarial, obsoleto é o aparelho cujo número de usuários é pequeno, a ponto de tornar inviável sua produção, mas a obsolescência tem que ser relativizada. "Alguns desses aparelhos acabam encontrando outros usos, diferentes daqueles para os quais foi fabricado."
É o que diz também Márcio de Oliveira, gerente da Micro Home, loja de informática especializada em notebooks usados, na rua dos Andradas, região central de São Paulo. "É muito relativo esse conceito de obsoleto. Depende do uso que a pessoa vai dar para a máquina. Meus clientes encontram comigo máquinas adequadas às suas necessidades", diz Oliveira.


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