|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANTÍDOTO
Presidente reuniu equipe e pediu medidas para PIB crescer mais de 3% no ano como forma de atenuar problemas políticos
Contra crise, Lula cobra mais crescimento
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva quer mudar os rumos da política econômica para que o Brasil
volte a encontrar a órbita do crescimento ainda em 2005. Lula ficou muito preocupado com a rápida desaceleração tanto do ritmo
de crescimento do país quanto da
taxa de investimento, principalmente num momento em que o
governo vive sua maior crise.
Com o objetivo de buscar alternativas para o país voltar a crescer
num ritmo maior já neste ano,
Lula reuniu na quarta-feira passada os principais membros da
equipe econômica do governo,
mais o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) e o deputado Delfim Netto (PP-SP). O encontro
ocorreu durante um jantar na casa do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, em Brasília.
Além de Palocci, Delfim e Mercadante, também compareceram
à reunião Henrique Meirelles,
presidente do Banco Central;
Paulo Bernardo, ministro do Planejamento; Guido Mantega, presidente do BNDES; e José Dirceu,
ainda como ministro-chefe da
Casa Civil. O encontro aconteceu
no mesmo dia em que o Copom
decidiu manter a Selic em 19,75%
ao ano e na véspera do anúncio da
saída de Dirceu.
Lula deixou bastante claro no
jantar que o ponto principal no
governo deve ser a recuperação
do crescimento econômico. Ele
quer que o crescimento seja a
principal marca do seu governo e
apontou os juros altos como um
empecilho à sua intenção. Ele disse que as altas taxas de juros inibem o crescimento e gostaria que
elas começassem a cair o mais cedo possível.
Lula também avisou que não
queria que o país só voltasse a
crescer em 2006. Ele quer que já
em 2005 o PIB volte a crescer ao
ritmo de 3,5%, e não abaixo de
3%, como muitos analistas estão
prevendo, inclusive o Ipea (ligado
ao Planejamento), que estima alta
de 2,8% para este ano.
Sem pretender que a política
paute a economia, Lula acha, no
entanto, que a recuperação do
crescimento seria a melhor forma
para tirar o país da crise atual. Para isso, seria fundamental que o
país recuperasse já neste ano os
investimentos, inibidos pela rigidez da política monetária.
Foi durante o jantar que o deputado Delfim Netto apresentou sua
proposta de zerar o déficit nominal (receitas menos despesas, incluindo os gastos com juros) num
período de seis anos. O seu objetivo é trocar a âncora monetária
(juros altos) atual por uma política fincada na âncora fiscal (contenção de gastos de custeio) para
controlar a inflação. Delfim acha
que, ao garantir o controle da política fiscal, os juros iriam baixar
naturalmente.
A proposta foi bem recebida,
mas Delfim ficou de detalhá-la
melhor para apresentá-la numa
outra ocasião. Além disso, o próprio Delfim se comprometeu a
sondar alguns parlamentares para saber da possibilidade de o seu
plano ser aprovado no Congresso.
Apesar de a idéia ter sido apoiada num primeiro momento, a
própria Fazenda começou a identificar uma série de problemas na
proposta de Delfim. Em primeiro
lugar, ela iria impor restrições
grandes a áreas sensíveis, como
educação e saúde. Além disso, as
chances de um plano como esse
passar pelo Congresso são consideradas muito pequenas dentro
do próprio governo.
As maiores críticas no jantar foram mesmo ao Banco Central. Os
juros altos foram considerados
um excesso de conservadorismo
desnecessário. Mercadante chegou a falar, por exemplo, que, depois de, no ano passado, o Brasil
ter registrado a maior taxa de
crescimento dos últimos dez
anos, o governo Lula não poderia
deixar perder essa marca.
A Secretaria do Tesouro Nacional também não foi poupada. Segundo as críticas, o Tesouro não
estaria se esforçando para praticar uma política de alongamento
da dívida pública, o que poderia
contribuir também para a queda
dos juros.
Mercadante também criticou o
fato de o governo estar sendo
muito lento para deslanchar os
projetos de PPP (Parcerias Público-Privadas). E também não deixou de atacar o regime de metas
de inflação. Mercadante é um dos
maiores críticos das metas apertadas fixadas pelo governo e que
obrigam BC a praticar juros altos.
Outro ponto levantado no jantar e considerado como inibidor
do crescimento foram os resultados acima da meta fixada pelo governo do superávit primário (economia para pagamento de juros).
Houve quem, na reunião, defendesse que o Brasil procurasse obter somente os 4,25% do PIB já fixados.
Apesar de todas as críticas que
sofreram, Palocci e Meirelles pouco se manifestaram no jantar.
Paulo Bernardo também falou
muito pouco. O mais quieto, no
entanto, foi José Dirceu, um dos
maiores críticos internos da política econômica, que, naquela altura, já estava com um pé fora do
governo.
Texto Anterior: Mercado aberto Próximo Texto: Opinião econômica - Paulo Rabello de Castro: Fim de mandato? Índice
|