São Paulo, quarta-feira, 22 de junho de 2005

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ANTÍDOTO

Presidente reuniu equipe e pediu medidas para PIB crescer mais de 3% no ano como forma de atenuar problemas políticos

Contra crise, Lula cobra mais crescimento

GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer mudar os rumos da política econômica para que o Brasil volte a encontrar a órbita do crescimento ainda em 2005. Lula ficou muito preocupado com a rápida desaceleração tanto do ritmo de crescimento do país quanto da taxa de investimento, principalmente num momento em que o governo vive sua maior crise.
Com o objetivo de buscar alternativas para o país voltar a crescer num ritmo maior já neste ano, Lula reuniu na quarta-feira passada os principais membros da equipe econômica do governo, mais o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) e o deputado Delfim Netto (PP-SP). O encontro ocorreu durante um jantar na casa do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, em Brasília.
Além de Palocci, Delfim e Mercadante, também compareceram à reunião Henrique Meirelles, presidente do Banco Central; Paulo Bernardo, ministro do Planejamento; Guido Mantega, presidente do BNDES; e José Dirceu, ainda como ministro-chefe da Casa Civil. O encontro aconteceu no mesmo dia em que o Copom decidiu manter a Selic em 19,75% ao ano e na véspera do anúncio da saída de Dirceu.
Lula deixou bastante claro no jantar que o ponto principal no governo deve ser a recuperação do crescimento econômico. Ele quer que o crescimento seja a principal marca do seu governo e apontou os juros altos como um empecilho à sua intenção. Ele disse que as altas taxas de juros inibem o crescimento e gostaria que elas começassem a cair o mais cedo possível.
Lula também avisou que não queria que o país só voltasse a crescer em 2006. Ele quer que já em 2005 o PIB volte a crescer ao ritmo de 3,5%, e não abaixo de 3%, como muitos analistas estão prevendo, inclusive o Ipea (ligado ao Planejamento), que estima alta de 2,8% para este ano.
Sem pretender que a política paute a economia, Lula acha, no entanto, que a recuperação do crescimento seria a melhor forma para tirar o país da crise atual. Para isso, seria fundamental que o país recuperasse já neste ano os investimentos, inibidos pela rigidez da política monetária.
Foi durante o jantar que o deputado Delfim Netto apresentou sua proposta de zerar o déficit nominal (receitas menos despesas, incluindo os gastos com juros) num período de seis anos. O seu objetivo é trocar a âncora monetária (juros altos) atual por uma política fincada na âncora fiscal (contenção de gastos de custeio) para controlar a inflação. Delfim acha que, ao garantir o controle da política fiscal, os juros iriam baixar naturalmente.
A proposta foi bem recebida, mas Delfim ficou de detalhá-la melhor para apresentá-la numa outra ocasião. Além disso, o próprio Delfim se comprometeu a sondar alguns parlamentares para saber da possibilidade de o seu plano ser aprovado no Congresso.
Apesar de a idéia ter sido apoiada num primeiro momento, a própria Fazenda começou a identificar uma série de problemas na proposta de Delfim. Em primeiro lugar, ela iria impor restrições grandes a áreas sensíveis, como educação e saúde. Além disso, as chances de um plano como esse passar pelo Congresso são consideradas muito pequenas dentro do próprio governo.
As maiores críticas no jantar foram mesmo ao Banco Central. Os juros altos foram considerados um excesso de conservadorismo desnecessário. Mercadante chegou a falar, por exemplo, que, depois de, no ano passado, o Brasil ter registrado a maior taxa de crescimento dos últimos dez anos, o governo Lula não poderia deixar perder essa marca.
A Secretaria do Tesouro Nacional também não foi poupada. Segundo as críticas, o Tesouro não estaria se esforçando para praticar uma política de alongamento da dívida pública, o que poderia contribuir também para a queda dos juros.
Mercadante também criticou o fato de o governo estar sendo muito lento para deslanchar os projetos de PPP (Parcerias Público-Privadas). E também não deixou de atacar o regime de metas de inflação. Mercadante é um dos maiores críticos das metas apertadas fixadas pelo governo e que obrigam BC a praticar juros altos.
Outro ponto levantado no jantar e considerado como inibidor do crescimento foram os resultados acima da meta fixada pelo governo do superávit primário (economia para pagamento de juros). Houve quem, na reunião, defendesse que o Brasil procurasse obter somente os 4,25% do PIB já fixados.
Apesar de todas as críticas que sofreram, Palocci e Meirelles pouco se manifestaram no jantar. Paulo Bernardo também falou muito pouco. O mais quieto, no entanto, foi José Dirceu, um dos maiores críticos internos da política econômica, que, naquela altura, já estava com um pé fora do governo.


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