São Paulo, quarta-feira, 22 de junho de 2005

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PRODUÇÃO

Empresas brasileiras aplicam em pesquisa e desenvolvimento apenas 1/3 do investido pelas concorrentes de países mais ricos

Indústria perde corrida tecnológica, diz IBGE

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Apesar de o incentivo a setores com forte conteúdo tecnológico ser o foco da política industrial do governo, as fábricas brasileiras ainda investem muito pouco em pesquisa e desenvolvimento: seus gastos correspondem a só um terço do que as concorrentes instaladas em países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) aplicam.
No Brasil, o gasto médio da indústria era de 0,6% do faturamento em 2003, segundo a Pesquisa Industrial Anual, divulgada ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas). Nas 20 nações mais ricas do planeta, o percentual chegava a 1,8%. São membros da OCDE países como EUA, Alemanha, Espanha, Finlândia, Japão, Canadá e outros.
Segundo a pesquisa, apenas 9,9% das firmas brasileiras podiam ser consideradas de alta intensidade tecnológica. E o pior é que essas indústrias -que são de ramos como aviões, máquinas e equipamentos, veículos, eletroeletrônicos- perderam espaço no PIB da indústria. Seu peso no PIB industrial era de 31,76% em 2000. Caiu para 30,46% em 2003.
Por outro lado, ganharam participação no PIB da indústria ramos classificados pelo IBGE como de menor intensidade tecnológica, como siderurgia, borracha, alimentos, têxtil e outras.
O forte dinamismo das exportações no período, em detrimento da retração do mercado interno, explica o avanço dos setores de menor conteúdo tecnológico, segundo o chefe do Departamento de indústria do IBGE, Sílvio Sales.
É que a maior parte das vendas externas brasileiras é composta por produtos semimanufaturados de indústrias tradicionais, cujos gastos com pesquisa e desenvolvimento são limitados. Estão na lista itens como os derivados de soja, açúcar, minério de ferro, produtos siderúrgicos e outros. Já itens prioritariamente voltados para o mercado interno têm maior conteúdo tecnológico.
Segundo Sales, o país investe pouco em tecnologia, considerando seu estágio atual de desenvolvimento. "Só 10% das empresas são consideradas de alta intensidade tecnológica. É pouco."
Investir em tecnologia significa elevar a produção de bens de maior valor agregado, o que gera um efeito multiplicador na economia. Isso porque são produtos que exigem mão-de-obra qualificada, com produtividade e salários acima da média industrial.
Por isso, o governo resolveu focar sua política industrial na desoneração de tributos na produção de bens de capital (máquinas e equipamentos) e conceder linhas especiais de financiamento do BNDES aos ramos de software, fármacos e bens de capital.
Um dos exemplos de ramos com forte investimento em pesquisa e desenvolvimento é a indústria aeronáutica (incluída no ramo outros equipamentos de transporte), que lidera o ranking (2,72% do faturamento) e também conta com apoio do BNDES.
No outro extremo, estão as indústrias de coque, álcool e elaboração de combustíveis nucleares (só 0,03% da receita). Também estão no rol dos que mais gastam com tecnologia refino de petróleo e informática. Mas, em geral, mesmo esses ramos de ponta investem um percentual menor de sua receita do que setores similares em países da OCDE.
Os dados do IBGE revelam que receita, investimento, salários pagos aos funcionários e produtividade crescem de acordo com a maior intensidade tecnológica de cada setor. O grupo de alta intensidade investe pouco mais que o triplo da média da indústria.


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