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PRODUÇÃO
Empresas brasileiras aplicam em pesquisa e desenvolvimento apenas 1/3 do investido pelas concorrentes de países mais ricos
Indústria perde corrida tecnológica, diz IBGE
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Apesar de o incentivo a setores
com forte conteúdo tecnológico
ser o foco da política industrial do
governo, as fábricas brasileiras
ainda investem muito pouco em
pesquisa e desenvolvimento: seus
gastos correspondem a só um terço do que as concorrentes instaladas em países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) aplicam.
No Brasil, o gasto médio da indústria era de 0,6% do faturamento em 2003, segundo a Pesquisa
Industrial Anual, divulgada ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas).
Nas 20 nações mais ricas do planeta, o percentual chegava a 1,8%.
São membros da OCDE países como EUA, Alemanha, Espanha, Finlândia, Japão, Canadá e outros.
Segundo a pesquisa, apenas
9,9% das firmas brasileiras podiam ser consideradas de alta intensidade tecnológica. E o pior é
que essas indústrias -que são de
ramos como aviões, máquinas e
equipamentos, veículos, eletroeletrônicos- perderam espaço no
PIB da indústria. Seu peso no PIB
industrial era de 31,76% em 2000.
Caiu para 30,46% em 2003.
Por outro lado, ganharam participação no PIB da indústria ramos classificados pelo IBGE como de menor intensidade tecnológica, como siderurgia, borracha, alimentos, têxtil e outras.
O forte dinamismo das exportações no período, em detrimento
da retração do mercado interno,
explica o avanço dos setores de
menor conteúdo tecnológico, segundo o chefe do Departamento
de indústria do IBGE, Sílvio Sales.
É que a maior parte das vendas
externas brasileiras é composta
por produtos semimanufaturados de indústrias tradicionais, cujos gastos com pesquisa e desenvolvimento são limitados. Estão
na lista itens como os derivados
de soja, açúcar, minério de ferro,
produtos siderúrgicos e outros. Já
itens prioritariamente voltados
para o mercado interno têm
maior conteúdo tecnológico.
Segundo Sales, o país investe
pouco em tecnologia, considerando seu estágio atual de desenvolvimento. "Só 10% das empresas
são consideradas de alta intensidade tecnológica. É pouco."
Investir em tecnologia significa
elevar a produção de bens de
maior valor agregado, o que gera
um efeito multiplicador na economia. Isso porque são produtos
que exigem mão-de-obra qualificada, com produtividade e salários acima da média industrial.
Por isso, o governo resolveu focar sua política industrial na desoneração de tributos na produção
de bens de capital (máquinas e
equipamentos) e conceder linhas
especiais de financiamento do
BNDES aos ramos de software,
fármacos e bens de capital.
Um dos exemplos de ramos
com forte investimento em pesquisa e desenvolvimento é a indústria aeronáutica (incluída no
ramo outros equipamentos de
transporte), que lidera o ranking
(2,72% do faturamento) e também conta com apoio do BNDES.
No outro extremo, estão as indústrias de coque, álcool e elaboração de combustíveis nucleares
(só 0,03% da receita). Também
estão no rol dos que mais gastam
com tecnologia refino de petróleo
e informática. Mas, em geral,
mesmo esses ramos de ponta investem um percentual menor de
sua receita do que setores similares em países da OCDE.
Os dados do IBGE revelam que
receita, investimento, salários pagos aos funcionários e produtividade crescem de acordo com a
maior intensidade tecnológica de
cada setor. O grupo de alta intensidade investe pouco mais que o
triplo da média da indústria.
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