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DINHEIRO CURTO
Crédito para emergentes escasseia diante da crise argentina, e instituições não renovam financiamentos
Estrangeiro fecha os cofres para o Brasil
LEONARDO SOUZA
JOSÉLIA AGUIAR
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Os investidores estrangeiros fecharam as portas para papéis de
companhias e bancos brasileiros.
Diante das incertezas criadas pela
crise da Argentina, o crédito para
os mercados emergentes praticamente se esgotou na praça internacional.
Três bancos confirmaram à Folha que vão quitar títulos que vencem nos próximos dias no lugar
de renová-los. Entre essas operações está uma de US$ 250 milhões
da Eletropaulo Metropolitana. "O
mercado está parado por causa
dos problemas na Argentina. Por
isso, decidimos suspender a renovação do financiamento", disse
Fábio Solferini, do Standard
Bank, instituição que coordenava
a operação para a companhia.
"Diante de uma crise desse tamanho, o mais indicado é esperar", completou Solferini.
A alta do dólar tem saído caro
para as empresas. Estudo da Economática revela que, com a desvalorização do real, as dívidas dos
grupos de capital aberto (com
ações em Bolsa) no país pularam
de R$ 172,1 bilhões em 31 de março, para R$ 195 bilhões hoje -um
aumento de R$ 22,9 bilhões.
Em períodos de crise, o mercado internacional de títulos corporativos é o primeiro a cortar o crédito para economias emergentes.
O medo dos investidores de não
receber o crédito concedido aumenta. Assim, ou cobram taxas
proibitivas para compensar o
maior risco que acreditam haver
nesse tipo de operação ou preferem não emprestar.
O banco West LB não vai renovar um empréstimo de US$ 75
milhões que vence no próximo
dia 25. "O maior problema não é
nem o preço mais alto. Mas sim
porque o investidor não quer
comprar esse tipo de papel agora.
O mercado realmente fechou",
afirmou Carlos Alberto Torres,
diretor do West LB.
Segundo ele, uma semana atrás
seria quase impossível emitir papéis no exterior. "Hoje (sexta-feira) a situação está mais calma.
Mas o investidor não vai comprar
títulos porque em um dia as condições estarão melhores. Quando
o mercado está muito volátil, ele
se retrai", disse Torres.
O BankBoston preferiu quitar
um título de US$ 50 milhões que
vence em agosto. "Vamos pagar
porque não precisamos desse dinheiro agora", disse Sérgio Gabrielli, diretor da instituição.
Via alternativa
Alguns bancos e empresas ligados a grandes grupos têm conseguido driblar a escassez de crédito
por meio dos chamados empréstimos sindicalizados. Instituições
financeiras se unem -para reduzir os riscos- e emprestam diretamente para o cliente, no lugar
de intermediar a transação entre o
investidor e o tomador. Mesmo
assim, esse tipo de operação está
cada vez mais raro.
"Eu achava que a operação iria
desandar porque a situação no
mercado internacional está muito
difícil. Mas felizmente conseguimos tomar 100% do crédito que
pretendíamos", disse Milton Eggers, do banco Votorantim.
Na sexta-feira, o banco Votorantim concluiu um empréstimo
sindicalizado de um ano, no valor
de US$ 100 milhões.
Dívidas
Dados da Economática mostram que as 297 empresas com capital aberto no Brasil devem, a
curto e longo prazos, R$ 23 bilhões a mais do que deviam no final de março. Cerca de 80% desses débitos foram contraídos no
exterior, informa a Economática.
Para chegar a esse resultado,
multiplicou-se o endividamento
das empresas em dólar no dia 31
de março (US$ 79,6 bilhões, último número disponível no mercado) pela cotação do real na sexta-feira passada (R$ 2,45). Isso resulta numa dívida total de R$ 195,02
bilhões hoje, ou R$ 22,9 bilhões a
mais do que no dia 31 de março.
O endividamento cresce se a
moeda norte-americana se valoriza muito. Só neste ano, o dólar ficou 25,5% mais caro.
"Com despesas financeiras
muito altas, o lucro das companhias no semestre vai evaporar",
diz Fernando Exel, presidente da
Economática. "O ponto positivo
nisso é que os grupos só se endividaram porque precisavam investir, crescer. Até o início do Plano
Real, ninguém se arriscava e o endividamento era baixíssimo", explica Einar Rivero, coordenador-técnico da Economática.
Einar lembra que o estudo foi
feito com base nas dívidas em dólares no final do primeiro trimestre e, desde então, não ocorreram
amortizações consideráveis, o
que poderia impactar no resultado final do estudo. "Tivemos um
cenário sem liquidações de dívidas", diz Angelo Vasconcelos, diretor de câmbio do Unibanco.
Na verdade, o que aconteceu foi
o oposto disso. As empresas desistiram de batalhar por novos
empréstimos devido às dificuldades no mercado internacional.
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