São Paulo, domingo, 22 de julho de 2001

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SOCORRO FINANCEIRO
Avaliação é de Lauro Vieira de Faria, professor da FGV

BC deve buscar recursos com o FMI

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O economista Lauro Vieira de Faria, professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas), descarta um choque de juros no caso de moratória argentina.
Ao contrário do mercado financeiro, dividido quanto ao futuro da Selic se vier uma ruptura na Argentina, o professor avalia que o juro deve subir para, no máximo, 23% ou 24% ao ano.
Vieira de Faria afirma que, para subir o juro com moderação, o BC deve adotar outras medidas: aperto fiscal e busca de recursos em organismos internacionais, como o FMI e o Banco Mundial.
A seguir, trechos da entrevista do professor à Folha.

Folha - O que o BC vai fazer se a Argentina decretar a moratória?
Lauro Vieira de Faria -
Tem de colocar títulos [papéis com rendimento atrelado ao juro, como as LTNs" de seis meses para testar o mercado. Os títulos devem ser vendidos com juro de 23% a 24%.

Folha - O sr. discorda da opinião de alguns economistas de que seria necessária uma alta explosiva dos juros para conter a fuga de capitais do Brasil?
Faria -
As taxas futuras já embutem a previsão de moratória. Não seria necessário uma grande alta dos juros. Qualquer coisa acima de 23% a 24% seria exorbitante. Esse problema [calote" já está nos preços [dos ativos, como dólar e contratos futuros de juros".

Folha - A Argentina é a única razão para a instabilidade do mercado financeiro no Brasil? Há outras medidas que podem ser adotadas para conter o nervosismo?
Faria -
Esse problema que vivemos é decorrente de uma série de outros, como a valorização do dólar, a política interna. Isso exige um conjunto de ações. Na parte tributária, um aumento de impostos ou, pelo menos, uma ampliação da arrecadação. Isso porque terá de arcar com o pagamento de juros maiores [prejudicando suas contas". Na parte externa, terá de conseguir mais recursos do FMI e do Banco Mundial.

Folha - Com essas ações do governo, além da alta moderada do juro, o país consegue afastar o contágio da moratória argentina?
Faria -
Sim. O governo pode estancar a alta do dólar, e o BC pode reduzir os juros em não muito tempo. Mas, se ficar só no [aumento do" juro, pode complicar. Isso se não mostrar, com o ajuste, que tem como pagar mais pelo aumento do endividamento e por mais gastos com juros da dívida.

Folha - O calote argentino é só uma questão de tempo?
Faria -
Sim. A Argentina não consegue sair disso. Tudo mundo vai ter de contribuir. É errado pretender que só os lucros das empresas e a renda das famílias tenham perdas, enquanto os detentores de ativos financeiros [os títulos da dívida argentina, que deixariam de ser pagos em caso de moratória" tenham salvaguardas.


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