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SOCORRO FINANCEIRO
Avaliação é de Lauro Vieira de Faria, professor da FGV
BC deve buscar recursos com o FMI
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O economista Lauro Vieira de
Faria, professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas), descarta um
choque de juros no caso de moratória argentina.
Ao contrário do mercado financeiro, dividido quanto ao futuro
da Selic se vier uma ruptura na
Argentina, o professor avalia que
o juro deve subir para, no máximo, 23% ou 24% ao ano.
Vieira de Faria afirma que, para
subir o juro com moderação, o BC
deve adotar outras medidas: aperto fiscal e busca de recursos em
organismos internacionais, como
o FMI e o Banco Mundial.
A seguir, trechos da entrevista
do professor à Folha.
Folha - O que o BC vai fazer se a
Argentina decretar a moratória?
Lauro Vieira de Faria - Tem de
colocar títulos [papéis com rendimento atrelado ao juro, como as
LTNs" de seis meses para testar o
mercado. Os títulos devem ser
vendidos com juro de 23% a 24%.
Folha - O sr. discorda da opinião
de alguns economistas de que seria
necessária uma alta explosiva dos
juros para conter a fuga de capitais
do Brasil?
Faria - As taxas futuras já embutem a previsão de moratória. Não
seria necessário uma grande alta
dos juros. Qualquer coisa acima
de 23% a 24% seria exorbitante.
Esse problema [calote" já está nos
preços [dos ativos, como dólar e
contratos futuros de juros".
Folha - A Argentina é a única razão para a instabilidade do mercado financeiro no Brasil? Há outras
medidas que podem ser adotadas
para conter o nervosismo?
Faria - Esse problema que vivemos é decorrente de uma série de
outros, como a valorização do dólar, a política interna. Isso exige
um conjunto de ações. Na parte
tributária, um aumento de impostos ou, pelo menos, uma ampliação da arrecadação. Isso porque terá de arcar com o pagamento de juros maiores [prejudicando
suas contas". Na parte externa, terá de conseguir mais recursos do
FMI e do Banco Mundial.
Folha - Com essas ações do governo, além da alta moderada do juro,
o país consegue afastar o contágio
da moratória argentina?
Faria - Sim. O governo pode estancar a alta do dólar, e o BC pode
reduzir os juros em não muito
tempo. Mas, se ficar só no [aumento do" juro, pode complicar.
Isso se não mostrar, com o ajuste,
que tem como pagar mais pelo
aumento do endividamento e por
mais gastos com juros da dívida.
Folha - O calote argentino é só
uma questão de tempo?
Faria - Sim. A Argentina não
consegue sair disso. Tudo mundo
vai ter de contribuir. É errado pretender que só os lucros das empresas e a renda das famílias tenham perdas, enquanto os detentores de ativos financeiros [os títulos da dívida argentina, que deixariam de ser pagos em caso de
moratória" tenham salvaguardas.
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