São Paulo, domingo, 22 de julho de 2001

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VEÍCULOS
Renault ultrapassa Ford em vendas; com 17 marcas no país, mercado vive onda de promoções para fisgar consumidor

Crise leva montadoras à guerra por clientes

RICARDO GRINBAUM
DA REPORTAGEM LOCAL

A Renault acaba de ultrapassar a Ford em vendas. Fiat e Volks travam uma disputa tão acirrada que as duas garantem serem as líderes de mercado, e quase todas as montadoras estão cortando lucros para dar descontos e fisgar o consumidor.
Quase uma década depois do desembarque dos Lada, carros russos que abriram o mercado aos importados, a competição chegou ao reino das montadoras. Muitas marcas estão até baixando o preço dos carros, uma guinada de 180 graus em relação ao tempo de mercado cativo, ou quase.
A principal razão para essa mudança é que, no passado, havia quatro grandes montadoras dividindo o mercado. Hoje, são 17 marcas. Outro motivo é que se esperava um crescimento acelerado do mercado, mas a economia derrapou no meio do caminho.
Em cinco anos, as montadoras investiram US$ 20 bilhões no aumento da capacidade de produção. Hoje, as fábricas têm capacidade para produzir 3 milhões de carros. Sem apagão, elas esperavam colocar nas ruas 1,9 milhão de veículos em 2001. A crise abateu as expectativas e, agora, muitas empresas falam numa produção de 1,7 milhão de unidades.
"Ninguém esperava que o mercado desabasse dessa maneira", diz Eduardo de Camargo Andrade, diretor de marketing da GM. "Não é só pela posição no ranking que as fábricas estão extremamente agressivas -é para evitar serem as mais afetadas pela queda do mercado e perder dinheiro."

Promoções
A competição está tão forte que as montadoras anunciam reajustes de preços, mas não conseguem repassá-los para os consumidores, segundo estudo da AutoInforme, agência de notícias especializada em veículos, com base em dados da consultoria Molicar.
No primeiro semestre, as montadoras anunciaram reajustes médios de 2,5%. Mas foram tantas promoções que esses reajustes não chegaram ao consumidor. Os carros populares -que respondem por 70% das vendas- subiram apenas 0,2%.
Dos 30 populares à venda, 7 não sofreram reajustes e 11 estão mais baratos do que no ano passado. Exemplo: o Gol 1.0 Mi Plus custava R$ 18,3 mil em janeiro e, no início deste mês, saía por R$ 16,5 mil, com queda de 9,8%.
"Os reajustes foram concentrados nos importados por causa da alta do dólar. Entre os nacionais, as empresas não conseguem aumentar os preços", diz Joel Leite, diretor da AutoInforme.

"Cheque no porta-luvas"
Além de segurar ou até baixar os preços, a cada final de semana as montadoras trazem uma nova promoção. Nesta semana estão sendo realizados feirões pela Volks, GM e Ford, com carros mais baratos, juros reduzidos e sorteio de prêmios.
As montadoras já ofereceram bilhetes aéreos, prazo de garantia dobrado e aparelhos de DVD. Na semana passada, Fiat e GM baixaram os juros, mesmo depois de o BC subir a taxa básica para 19%.
"Neste ano não tivemos um dia sequer sem promoção", diz Paulo Kakinoff, gerente de marketing da Volks. "É a primeira vez que temos uma temporada tão grande de promoções no Brasil."
Uma das montadoras mais agressivas nessa disputa é a francesa Renault. Menos de três anos depois de inaugurar sua fábrica no Paraná, a Renault acaba de ultrapassar a Ford.
Em junho, a Renault vendeu 6.094 carros de passeio contra 5.936 da Ford. A Renault assumiu a quarta colocação nas vendas no varejo, embora a Ford ainda esteja na frente quando se leva em conta também a venda de comerciais leves, caminhões e ônibus.
"Estamos investindo forte para ter 10% do mercado até o ano 2005", diz Guilherme Athia, diretor de relações governamentais da Renault. "Nossa prioridade não é o ranking, pois essa não é uma corrida de Fórmula 1."
Uma das principais armas da Renault é o financiamento com juros baixos. Em junho, as montadoras cobravam 2,1% ao mês, em média. A Renault, 0,97%.
Os concorrentes dizem que "a Renault está colocando um cheque no porta-luvas de cada carro". Segundo o diretor de uma montadora, o subsídio da Renault chegaria a R$ 1.000 por carro.
Se forem somados todos os subsídios dados pelas fábricas aos consumidores, a conta sobe para R$ 50 milhões por mês, sem contar as verbas publicitárias.



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