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VEÍCULOS
Renault ultrapassa Ford em vendas; com 17 marcas no país, mercado vive onda de promoções para fisgar consumidor
Crise leva montadoras à guerra por clientes
RICARDO GRINBAUM
DA REPORTAGEM LOCAL
A Renault acaba de ultrapassar a
Ford em vendas. Fiat e Volks travam uma disputa tão acirrada que
as duas garantem serem as líderes
de mercado, e quase todas as
montadoras estão cortando lucros para dar descontos e fisgar o
consumidor.
Quase uma década depois do
desembarque dos Lada, carros
russos que abriram o mercado
aos importados, a competição
chegou ao reino das montadoras.
Muitas marcas estão até baixando
o preço dos carros, uma guinada
de 180 graus em relação ao tempo
de mercado cativo, ou quase.
A principal razão para essa mudança é que, no passado, havia
quatro grandes montadoras dividindo o mercado. Hoje, são 17
marcas. Outro motivo é que se esperava um crescimento acelerado
do mercado, mas a economia derrapou no meio do caminho.
Em cinco anos, as montadoras
investiram US$ 20 bilhões no aumento da capacidade de produção. Hoje, as fábricas têm capacidade para produzir 3 milhões de
carros. Sem apagão, elas esperavam colocar nas ruas 1,9 milhão
de veículos em 2001. A crise abateu as expectativas e, agora, muitas empresas falam numa produção de 1,7 milhão de unidades.
"Ninguém esperava que o mercado desabasse dessa maneira",
diz Eduardo de Camargo Andrade, diretor de marketing da GM.
"Não é só pela posição no ranking
que as fábricas estão extremamente agressivas -é para evitar
serem as mais afetadas pela queda
do mercado e perder dinheiro."
Promoções
A competição está tão forte que
as montadoras anunciam reajustes de preços, mas não conseguem repassá-los para os consumidores, segundo estudo da AutoInforme, agência de notícias especializada em veículos, com base
em dados da consultoria Molicar.
No primeiro semestre, as montadoras anunciaram reajustes
médios de 2,5%. Mas foram tantas promoções que esses reajustes
não chegaram ao consumidor. Os
carros populares -que respondem por 70% das vendas- subiram apenas 0,2%.
Dos 30 populares à venda, 7 não
sofreram reajustes e 11 estão mais
baratos do que no ano passado.
Exemplo: o Gol 1.0 Mi Plus custava R$ 18,3 mil em janeiro e, no início deste mês, saía por R$ 16,5 mil,
com queda de 9,8%.
"Os reajustes foram concentrados nos importados por causa da
alta do dólar. Entre os nacionais,
as empresas não conseguem aumentar os preços", diz Joel Leite,
diretor da AutoInforme.
"Cheque no porta-luvas"
Além de segurar ou até baixar os
preços, a cada final de semana as
montadoras trazem uma nova
promoção. Nesta semana estão
sendo realizados feirões pela
Volks, GM e Ford, com carros
mais baratos, juros reduzidos e
sorteio de prêmios.
As montadoras já ofereceram
bilhetes aéreos, prazo de garantia
dobrado e aparelhos de DVD. Na
semana passada, Fiat e GM baixaram os juros, mesmo depois de o
BC subir a taxa básica para 19%.
"Neste ano não tivemos um dia
sequer sem promoção", diz Paulo
Kakinoff, gerente de marketing
da Volks. "É a primeira vez que temos uma temporada tão grande
de promoções no Brasil."
Uma das montadoras mais
agressivas nessa disputa é a francesa Renault. Menos de três anos
depois de inaugurar sua fábrica
no Paraná, a Renault acaba de ultrapassar a Ford.
Em junho, a Renault vendeu
6.094 carros de passeio contra
5.936 da Ford. A Renault assumiu
a quarta colocação nas vendas no
varejo, embora a Ford ainda esteja na frente quando se leva em
conta também a venda de comerciais leves, caminhões e ônibus.
"Estamos investindo forte para
ter 10% do mercado até o ano
2005", diz Guilherme Athia, diretor de relações governamentais da
Renault. "Nossa prioridade não é
o ranking, pois essa não é uma
corrida de Fórmula 1."
Uma das principais armas da
Renault é o financiamento com
juros baixos. Em junho, as montadoras cobravam 2,1% ao mês,
em média. A Renault, 0,97%.
Os concorrentes dizem que "a
Renault está colocando um cheque no porta-luvas de cada carro". Segundo o diretor de uma
montadora, o subsídio da Renault
chegaria a R$ 1.000 por carro.
Se forem somados todos os subsídios dados pelas fábricas aos
consumidores, a conta sobe para
R$ 50 milhões por mês, sem contar as verbas publicitárias.
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