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Vendas de veículos devem cair até 13%, prevê a Fiat
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente da Fiat no Brasil,
Gianni Coda, avalia que as vendas
das montadoras devem cair entre
10% e 13%, em média, neste semestre em relação ao desempenho da primeira metade do ano.
Para Coda, o maior problema
das fábricas de veículos hoje no
país não é o apagão. De uma maneira ou de outra, diz Coda, as
empresas alcançam a meta de
economia de energia sem afetar a
produção.
"De maneira geral, a cadeia produtiva pode continuar a produzir
o que estava planejado", diz Coda.
"Mas as indústrias estão sendo
afetadas pela queda nas vendas."
Para o presidente da Fiat, a principal razão para a retração das
vendas é a insegurança do consumidor. "As pessoas que vão comprar carro em parcelas podem
não se sentir seguras de que vão
manter o posto de trabalho", diz
Coda. Embora o resultado deste
semestre caia em relação ao do
início do ano, as vendas das montadoras em 2001 ainda serão
maiores do que as de 2000.
Coda diz que a Fiat poderá ter
neste ano um resultado parecido
com o de 2000, quando faturou
R$ 6,6 bilhões e lucrou R$ 232 milhões. O presidente da Fiat deu a
seguinte entrevista à Folha:
Folha - Como fica a produção de
carros com tantos problemas na
economia?
Gianni Coda - O cenário mudou
em relação ao início do ano. Houve a retração na economia dos Estados Unidos e os problemas na
Argentina, que provocaram a alta
do dólar. Essa alta afeta bastante
as montadoras porque todo mundo importa peças, os carros não
são 100% nacionalizados. Além
disso, existe o problema da falta
de energia, que vai influenciar a
economia em geral e também o
setor automotivo. Posso estimar
que o setor automotivo terá queda de 10% a 13% em comparação
aos meses passados.
Folha - Então o sr. não acredita
que a indústria produza o 1,9 milhão de carros previstos para 2001?
Coda - Nós, da Fiat, trabalhávamos com a perspectiva de fabricar
1,9 milhão de carros, vender 1,6
milhão no mercado doméstico e
exportar 300 mil unidades. É difícil dizer, mas pode haver redução
de 70 mil a 100 mil carros nas vendas no mercado interno neste semestre. Podemos fechar o ano
com vendas de 1,5 milhão ou 1,55
milhão de carros.
Folha - Como ficam as exportações?
Coda - Essa situação não vai prejudicar as exportações. Na verdade, a desvalorização cambial vai
favorecer as vendas no mercado
externo. Nos últimos quatro anos,
a Fiat tem exportado entre 80 mil
e 90 mil carros, o que corresponde
a 20% ou 25% de nossa produção.
Folha - O racionamento de energia vai afetar a produção?
Coda - Todo mundo vai conseguir cumprir sua meta. Só para
dar uma idéia, observe o caso da
Fiat. Temos que reduzir o consumo de energia em 15% e estamos
produzindo 14% a mais do que no
ano passado. Se fizer as contas, na
verdade temos que economizar
cerca de 25% de energia. Estamos
conseguindo fazer essa redução.
Folha - Então a redução é efeito
da alta dos juros?
Coda - Não é uma decorrência
dos juros altos, mas da economia
em geral, da confiança no futuro.
As pessoas que vão comprar carro
em parcelas podem não se sentir
seguras de que vão manter o posto de trabalho. Esse ambiente negativo afeta o consumo.
Folha - A Fiat vai demitir?
Coda - Se esse cenário que descrevi se mantiver, com um mercado interno por volta de 1,6 milhão
de carros em 2001, não vai haver
problema nenhum. Vai ser mais
ou menos o que estava planejado.
Se houver diminuição de 50 mil a
100 mil carros no mercado em geral, isso significa para nós cerca de
15 mil a 27 mil carros a menos. Essa redução não afetaria nosso nível de emprego.
Folha - Como ficam os investimentos?
Coda - Não mudam. Se você muda um investimento numa hora
de dificuldade, quando o mercado volta a crescer você tem problemas para aumentar a receita,
você não está preparado. O mercado cresce e você não está lá. O
importante é manter uma estratégia clara e firme. Num período difícil, você corta algum gasto, mas
a estratégia de investimento continua. Vamos investir de R$ 400
milhões a R$ 500 milhões por ano,
pelos próximos cinco anos.
Folha - A crise vai afetar os resultados da Fiat?
Coda - Levando em conta um
quadro de mercado que diminui
entre 50 mil e 100 mil carros, teremos lucro menor do que aquele
planejado, mas teremos lucro.
Nós planejávamos um lucro parecido com o do ano passado, de R$
232 milhões. Nosso faturamento
foi de R$ 6,6 bilhões. Se não acontecer nenhuma surpresa, nosso
resultado neste ano deve ser parecido.
Folha - Como fica a situação na
Argentina?
Coda - Nós, felizmente, tomamos as decisões certas no momento certo. Trouxemos toda a
fabricação do Palio para Betim
[MG". Com isso, conseguimos
economizar e a diferença do custo
de produção entre o Brasil e a Argentina caiu. Só para ter uma
idéia, o custo de produzir na Argentina era 30% mais alto quando
o câmbio estava em R$ 2,20 por
dólar. Outro problema é a rede de
concessionárias. Se tem muitos
pontos-de-venda e vende 2.000
carros por mês, como hoje, e tem
90 concessionárias, tem lojas vendendo de 20 a 25 carros por mês.
Não se sustenta. No ano passado,
iniciamos a redução e já chegamos a 60 concessionárias.
Folha - O sr. vê saída para o acordo automotivo do Mercosul?
Coda - Com um quadro desses é
difícil, não? É difícil porque de um
lado tem um país que tem competitividade no custo de produção,
que é o Brasil. Do outro lado, tem
um país que não tem a mesma
competitividade na produção.
Além disso, o tamanho do mercado argentino diminuiu muito.
Hoje, a Argentina consome cerca
de 200 mil carros por ano e tem
oito montadoras dividindo o
mercado.
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