São Paulo, domingo, 22 de julho de 2001

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Vendas de veículos devem cair até 13%, prevê a Fiat

DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente da Fiat no Brasil, Gianni Coda, avalia que as vendas das montadoras devem cair entre 10% e 13%, em média, neste semestre em relação ao desempenho da primeira metade do ano.
Para Coda, o maior problema das fábricas de veículos hoje no país não é o apagão. De uma maneira ou de outra, diz Coda, as empresas alcançam a meta de economia de energia sem afetar a produção.
"De maneira geral, a cadeia produtiva pode continuar a produzir o que estava planejado", diz Coda. "Mas as indústrias estão sendo afetadas pela queda nas vendas."
Para o presidente da Fiat, a principal razão para a retração das vendas é a insegurança do consumidor. "As pessoas que vão comprar carro em parcelas podem não se sentir seguras de que vão manter o posto de trabalho", diz Coda. Embora o resultado deste semestre caia em relação ao do início do ano, as vendas das montadoras em 2001 ainda serão maiores do que as de 2000.
Coda diz que a Fiat poderá ter neste ano um resultado parecido com o de 2000, quando faturou R$ 6,6 bilhões e lucrou R$ 232 milhões. O presidente da Fiat deu a seguinte entrevista à Folha:

Folha - Como fica a produção de carros com tantos problemas na economia?
Gianni Coda -
O cenário mudou em relação ao início do ano. Houve a retração na economia dos Estados Unidos e os problemas na Argentina, que provocaram a alta do dólar. Essa alta afeta bastante as montadoras porque todo mundo importa peças, os carros não são 100% nacionalizados. Além disso, existe o problema da falta de energia, que vai influenciar a economia em geral e também o setor automotivo. Posso estimar que o setor automotivo terá queda de 10% a 13% em comparação aos meses passados.

Folha - Então o sr. não acredita que a indústria produza o 1,9 milhão de carros previstos para 2001?
Coda -
Nós, da Fiat, trabalhávamos com a perspectiva de fabricar 1,9 milhão de carros, vender 1,6 milhão no mercado doméstico e exportar 300 mil unidades. É difícil dizer, mas pode haver redução de 70 mil a 100 mil carros nas vendas no mercado interno neste semestre. Podemos fechar o ano com vendas de 1,5 milhão ou 1,55 milhão de carros.

Folha - Como ficam as exportações?
Coda -
Essa situação não vai prejudicar as exportações. Na verdade, a desvalorização cambial vai favorecer as vendas no mercado externo. Nos últimos quatro anos, a Fiat tem exportado entre 80 mil e 90 mil carros, o que corresponde a 20% ou 25% de nossa produção.

Folha - O racionamento de energia vai afetar a produção?
Coda -
Todo mundo vai conseguir cumprir sua meta. Só para dar uma idéia, observe o caso da Fiat. Temos que reduzir o consumo de energia em 15% e estamos produzindo 14% a mais do que no ano passado. Se fizer as contas, na verdade temos que economizar cerca de 25% de energia. Estamos conseguindo fazer essa redução.

Folha - Então a redução é efeito da alta dos juros?
Coda -
Não é uma decorrência dos juros altos, mas da economia em geral, da confiança no futuro. As pessoas que vão comprar carro em parcelas podem não se sentir seguras de que vão manter o posto de trabalho. Esse ambiente negativo afeta o consumo.

Folha - A Fiat vai demitir?
Coda -
Se esse cenário que descrevi se mantiver, com um mercado interno por volta de 1,6 milhão de carros em 2001, não vai haver problema nenhum. Vai ser mais ou menos o que estava planejado. Se houver diminuição de 50 mil a 100 mil carros no mercado em geral, isso significa para nós cerca de 15 mil a 27 mil carros a menos. Essa redução não afetaria nosso nível de emprego.

Folha - Como ficam os investimentos?
Coda -
Não mudam. Se você muda um investimento numa hora de dificuldade, quando o mercado volta a crescer você tem problemas para aumentar a receita, você não está preparado. O mercado cresce e você não está lá. O importante é manter uma estratégia clara e firme. Num período difícil, você corta algum gasto, mas a estratégia de investimento continua. Vamos investir de R$ 400 milhões a R$ 500 milhões por ano, pelos próximos cinco anos.

Folha - A crise vai afetar os resultados da Fiat?
Coda -
Levando em conta um quadro de mercado que diminui entre 50 mil e 100 mil carros, teremos lucro menor do que aquele planejado, mas teremos lucro. Nós planejávamos um lucro parecido com o do ano passado, de R$ 232 milhões. Nosso faturamento foi de R$ 6,6 bilhões. Se não acontecer nenhuma surpresa, nosso resultado neste ano deve ser parecido.

Folha - Como fica a situação na Argentina?
Coda -
Nós, felizmente, tomamos as decisões certas no momento certo. Trouxemos toda a fabricação do Palio para Betim [MG". Com isso, conseguimos economizar e a diferença do custo de produção entre o Brasil e a Argentina caiu. Só para ter uma idéia, o custo de produzir na Argentina era 30% mais alto quando o câmbio estava em R$ 2,20 por dólar. Outro problema é a rede de concessionárias. Se tem muitos pontos-de-venda e vende 2.000 carros por mês, como hoje, e tem 90 concessionárias, tem lojas vendendo de 20 a 25 carros por mês. Não se sustenta. No ano passado, iniciamos a redução e já chegamos a 60 concessionárias.

Folha - O sr. vê saída para o acordo automotivo do Mercosul?
Coda -
Com um quadro desses é difícil, não? É difícil porque de um lado tem um país que tem competitividade no custo de produção, que é o Brasil. Do outro lado, tem um país que não tem a mesma competitividade na produção. Além disso, o tamanho do mercado argentino diminuiu muito. Hoje, a Argentina consome cerca de 200 mil carros por ano e tem oito montadoras dividindo o mercado.


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