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MERCOSUL
Déficit comercial do Brasil com parceiro deve ser o maior desde 1980
Comércio com a Argentina volta aos níveis pré-FHC
JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES
Após quase oito anos de esforços diplomáticos e infindáveis negociações bilaterais, o governo do
presidente Fernando Henrique
Cardoso assistiu neste ano o comércio com a Argentina cair para
os patamares mais baixos desde
1994, ano em que FHC obteve seu
primeiro mandato.
O intercâmbio comercial só não
apresentou uma queda ainda
mais brusca à custa do crescente
déficit comercial com o vizinho,
que, segundo o governo brasileiro, deve atingir US$ 3 bilhões neste ano. Se confirmado, esse será o
maior déficit comercial com a Argentina desde 1980, data em que o
governo começou a divulgar os
dados de comércio exterior discriminados por país.
É verdade que o Brasil deu prioridade à Argentina com o objetivo
maior de preservar o Mercosul,
uma base para negociações mais
abrangentes -como a da Alca
(Área de Livre Comércio das
Américas). Mas com nenhum outro país houve tantas reuniões comerciais ou negociações de acordos bilaterais durante os oito anos
de mandato do presidente.
O fluxo comercial entre os dois
países foi de US$ 3,419 bilhões no
primeiro semestre deste ano, o
menor da era FHC. As exportações brasileiras para o vizinho
amargaram uma queda de 66,2%.
Foram vendidos US$ 970 milhões, o pior resultado desde 1991.
Já o déficit comercial atingiu
US$ 1,480 bilhão no período.
Após serem computados os resultados deste mês, a balança comercial com a Argentina já deve bater
o recorde histórico de 1996, quando, em 12 meses, o saldo negativo
foi de US$ 1,635 bilhão.
A explicação óbvia para a retração do comércio entre os dois países passa pelo colapso da economia argentina, que está há quase
quatro anos em recessão. O PIB
do país vizinho recuou 16,3% no
primeiro trimestre e, nos três meses seguintes, apresentou apenas
tímidos sinais de retomada.
Além do mercado retraído, os
exportadores brasileiros também
devem enfrentar dificuldades cada vez maiores para vender à Argentina devido a uma desvalorização do peso de 70% neste ano.
Um terceiro fator de contração
seria a falta de crédito enfrentada
pelos importadores argentinos.
Desde dezembro, quando foram
decretadas as restrições aos saques bancários, as instituições financeiras praticamente não liberam mais empréstimos ao setor
produtivo.
O presidente do grupo Brasil
(entidade que reúne 193 empresas
brasileiras com investimentos na
Argentina), Eloi Rodrigues de Almeida, disse à Folha que a reação
das exportações depende, entre
outras coisas, da criação de uma
linha de crédito para importadores argentinos comprarem produtos brasileiros. Segundo ele, o
BNDES estuda o assunto.
Na mesma linha, o presidente
da Cera (Câmara de Exportadores
da República Argentina), Enrique
Mantilla, disse ser "muito difícil"
que o comércio bilateral apresente uma reação ainda neste ano devido às incertezas políticas no
Brasil e aos problemas que precisam ser resolvidos pelo governo
argentino -como o fechamento
do acordo com o FMI (Fundo
Monetário Internacional) e a normalização do sistema financeiro.
"O PIB argentino seguramente
vai cair mais de 10% e, por isso,
vamos comprar menos. Esse ano
será de transição."
O presidente do grupo Brasil,
por sua vez, acredita que os dois
países deveriam investir em novos parceiros comerciais: "Talvez
seja a hora de abrir o leque."
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