São Paulo, segunda-feira, 22 de julho de 2002

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MERCOSUL

Déficit comercial do Brasil com parceiro deve ser o maior desde 1980

Comércio com a Argentina volta aos níveis pré-FHC

JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

Após quase oito anos de esforços diplomáticos e infindáveis negociações bilaterais, o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso assistiu neste ano o comércio com a Argentina cair para os patamares mais baixos desde 1994, ano em que FHC obteve seu primeiro mandato.
O intercâmbio comercial só não apresentou uma queda ainda mais brusca à custa do crescente déficit comercial com o vizinho, que, segundo o governo brasileiro, deve atingir US$ 3 bilhões neste ano. Se confirmado, esse será o maior déficit comercial com a Argentina desde 1980, data em que o governo começou a divulgar os dados de comércio exterior discriminados por país.
É verdade que o Brasil deu prioridade à Argentina com o objetivo maior de preservar o Mercosul, uma base para negociações mais abrangentes -como a da Alca (Área de Livre Comércio das Américas). Mas com nenhum outro país houve tantas reuniões comerciais ou negociações de acordos bilaterais durante os oito anos de mandato do presidente.
O fluxo comercial entre os dois países foi de US$ 3,419 bilhões no primeiro semestre deste ano, o menor da era FHC. As exportações brasileiras para o vizinho amargaram uma queda de 66,2%. Foram vendidos US$ 970 milhões, o pior resultado desde 1991.
Já o déficit comercial atingiu US$ 1,480 bilhão no período. Após serem computados os resultados deste mês, a balança comercial com a Argentina já deve bater o recorde histórico de 1996, quando, em 12 meses, o saldo negativo foi de US$ 1,635 bilhão.
A explicação óbvia para a retração do comércio entre os dois países passa pelo colapso da economia argentina, que está há quase quatro anos em recessão. O PIB do país vizinho recuou 16,3% no primeiro trimestre e, nos três meses seguintes, apresentou apenas tímidos sinais de retomada.
Além do mercado retraído, os exportadores brasileiros também devem enfrentar dificuldades cada vez maiores para vender à Argentina devido a uma desvalorização do peso de 70% neste ano.
Um terceiro fator de contração seria a falta de crédito enfrentada pelos importadores argentinos. Desde dezembro, quando foram decretadas as restrições aos saques bancários, as instituições financeiras praticamente não liberam mais empréstimos ao setor produtivo.
O presidente do grupo Brasil (entidade que reúne 193 empresas brasileiras com investimentos na Argentina), Eloi Rodrigues de Almeida, disse à Folha que a reação das exportações depende, entre outras coisas, da criação de uma linha de crédito para importadores argentinos comprarem produtos brasileiros. Segundo ele, o BNDES estuda o assunto.
Na mesma linha, o presidente da Cera (Câmara de Exportadores da República Argentina), Enrique Mantilla, disse ser "muito difícil" que o comércio bilateral apresente uma reação ainda neste ano devido às incertezas políticas no Brasil e aos problemas que precisam ser resolvidos pelo governo argentino -como o fechamento do acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) e a normalização do sistema financeiro.
"O PIB argentino seguramente vai cair mais de 10% e, por isso, vamos comprar menos. Esse ano será de transição."
O presidente do grupo Brasil, por sua vez, acredita que os dois países deveriam investir em novos parceiros comerciais: "Talvez seja a hora de abrir o leque."


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