São Paulo, segunda-feira, 22 de julho de 2002

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Desvalorização apenas não explica os déficits

DE BUENOS AIRES

O crescimento do comércio entre dois países depende hoje muito mais do fechamento de acordos bilaterais e da própria expansão da atividade econômica do que de preços competitivos.
A opinião é do economista Juan Zabala, do CEB (Centro de Estudos de Buenos Aires), uma consultoria argentina especializada em comércio exterior.
O economista sustenta essa teoria com os dados recentes do comércio entre Brasil e Argentina. Em 1999, ano da desvalorização do real, o Brasil registrou um déficit de US$ 448 milhões com o país vizinho mesmo tendo o câmbio a seu favor.
Naquela época, economistas previam que o ganho de competitividade gerado pelo real fraco faria com que os produtos brasileiros invadissem a Argentina, que mantinha a cotação do peso atrelada ao dólar.
No entanto, Zabala explicou que, de lá para cá, o que se viu foi exatamente o contrário. O déficit brasileiro com a Argentina vai registrar neste ano o quarto crescimento consecutivo.
Segundo ele, a depressão da economia argentina reduziu bruscamente a demanda por produtos estrangeiros e causou o crescimento do déficit do Brasil.
Também prejudicou os exportadores brasileiros o estabelecimento de salvaguardas para a venda de produtos durante o governo do presidente Fernando de la Rúa (1999-2001).
Temendo a propagada invasão brasileira e a fim preservar empregos na Argentina, o governo aumentou taxas e estabeleceu cotas para a compra de frango, suínos, têxteis e calçados, entre outros produtos.
Um terceiro motivo para a queda nas exportações brasileiras está no fato de que boa parte dos produtos vendidos à Argentina têm preços de referência em dólar no mercado internacional.
Por isso, o economista disse que a desvalorização não implicou em uma queda generalizada de preços, mas em um aumento de lucratividade.
Por esses três motivos, Zabala também descarta que haja uma invasão de produtos argentinos no Brasil agora que o câmbio tornou-se vantajoso para o vizinho.
Ele acredita que uma pequena melhora deve acontecer apenas após a Argentina fechar o acordo com o FMI, que vai destravar outras linhas de crédito do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e do Banco Mundial para financiar os exportadores enquanto o país não normaliza o funcionamento do sistema bancário. (JS)


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