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Desvalorização apenas não explica os déficits
DE BUENOS AIRES
O crescimento do comércio entre dois países depende hoje muito mais do fechamento de acordos bilaterais e da própria expansão da atividade econômica do
que de preços competitivos.
A opinião é do economista Juan
Zabala, do CEB (Centro de Estudos de Buenos Aires), uma consultoria argentina especializada
em comércio exterior.
O economista sustenta essa teoria com os dados recentes do comércio entre Brasil e Argentina.
Em 1999, ano da desvalorização
do real, o Brasil registrou um déficit de US$ 448 milhões com o país
vizinho mesmo tendo o câmbio a
seu favor.
Naquela época, economistas
previam que o ganho de competitividade gerado pelo real fraco faria com que os produtos brasileiros invadissem a Argentina, que
mantinha a cotação do peso atrelada ao dólar.
No entanto, Zabala explicou
que, de lá para cá, o que se viu foi
exatamente o contrário. O déficit
brasileiro com a Argentina vai registrar neste ano o quarto crescimento consecutivo.
Segundo ele, a depressão da
economia argentina reduziu
bruscamente a demanda por produtos estrangeiros e causou o
crescimento do déficit do Brasil.
Também prejudicou os exportadores brasileiros o estabelecimento de salvaguardas para a
venda de produtos durante o governo do presidente Fernando de
la Rúa (1999-2001).
Temendo a propagada invasão
brasileira e a fim preservar empregos na Argentina, o governo
aumentou taxas e estabeleceu cotas para a compra de frango, suínos, têxteis e calçados, entre outros produtos.
Um terceiro motivo para a queda nas exportações brasileiras está no fato de que boa parte dos
produtos vendidos à Argentina
têm preços de referência em dólar
no mercado internacional.
Por isso, o economista disse que
a desvalorização não implicou em
uma queda generalizada de preços, mas em um aumento de lucratividade.
Por esses três motivos, Zabala
também descarta que haja uma
invasão de produtos argentinos
no Brasil agora que o câmbio tornou-se vantajoso para o vizinho.
Ele acredita que uma pequena
melhora deve acontecer apenas
após a Argentina fechar o acordo
com o FMI, que vai destravar outras linhas de crédito do BID
(Banco Interamericano de Desenvolvimento) e do Banco Mundial
para financiar os exportadores
enquanto o país não normaliza o
funcionamento do sistema bancário.
(JS)
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