São Paulo, segunda-feira, 22 de julho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

France Presse - 10.abr.02
Argentinos que tiveram seu dinheiro retido nos bancos pelo "corralito" protestam fantasiados no centro de Buenos Aires


"Corralito" prende mais bebês do que bois

Metáfora para confisco bancário, termo significa cercadinho ou quadrado para confinar bebês

DE BUENOS AIRES

Se um argentino tiver a necessidade pouco habitual de comparar o tamanho de dois currais de gado, é possível que ele chame o curral menor de "corralito", ou curralzinho. Mas quando ele está diante de bancos e prédios do governo protestando furiosamente contra o confisco parcial do seu dinheiro nos bancos -o odiado "corralito"-, a metáfora diz muito mais respeito a um bebê preso num cercadinho do que a um boi confinado.
No dia-a-dia, os argentinos chamam de "corralito" o móvel composto por grades e destinado a cercar bebês, de modo que eles fiquem em segurança. No Brasil, o "corralito" é conhecido como cercadinho, chiqueirinho ou quadrado.
Jornais brasileiros, a Folha inclusive, vinham interpretando a metáfora de maneira incorreta.
"Corralito" não pode ser traduzido como curral pequeno para animais. Tem um significado específico, de móvel para bebês", diz Julio Nudler, repórter de Economia do jornal argentino "Página/12".
Mas o termo também pode ser usado para designar currais pequenos, diz Martin Kanenguiser, repórter do jornal "La Nación". "Não está errado dizer que "corralito" é um curral pequeno, embora esta seja talvez uma contribuição argentina para a língua espanhola."
A expressão parece ter surgido durante os protestos que explodiram em Buenos Aires logo após o ex-ministro Domingo Cavallo (Economia) decretar as restrições aos saques bancários, no final do ano passado.
Depois, o termo ganhou popularidade no mercado financeiro e logo foi adotado pelas redações de jornais. Em pouco tempo, até integrantes do governo do novo presidente, Eduardo Duhalde, passaram a utilizar o termo.
A popularidade da expressão cresceu tanto que até um jogo de tabuleiro denominado "El Corralito" passou a ser vendido na Argentina. No jogo, o desafio dos participantes é recuperar depósitos congelados nos bancos.
O jogo foi criado por um ator argentino desempregado, de 24 anos, cuja próxima peça seria financiada por um produtor que teve seus recursos congelados pelo "corralito". Sem dinheiro, o produtor desistiu do projeto e migrou para a Espanha.


Texto Anterior: Desvalorização apenas não explica os déficits
Próximo Texto: Opinião Econômica: Economia no fio da navalha
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.