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France Presse - 10.abr.02
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Argentinos que tiveram seu dinheiro retido nos bancos pelo "corralito" protestam fantasiados no centro de Buenos Aires |
"Corralito" prende mais bebês do que bois
Metáfora para confisco bancário, termo significa cercadinho ou quadrado para confinar bebês
DE BUENOS AIRES
Se um argentino tiver a necessidade pouco habitual de comparar o tamanho de dois currais
de gado, é possível que ele chame o curral menor de "corralito", ou curralzinho. Mas quando
ele está diante de bancos e prédios do governo protestando furiosamente contra o confisco
parcial do seu dinheiro nos bancos -o odiado "corralito"-, a
metáfora diz muito mais respeito a um bebê preso num cercadinho do que a um boi confinado.
No dia-a-dia, os argentinos
chamam de "corralito" o móvel
composto por grades e destinado a cercar bebês, de modo que
eles fiquem em segurança. No
Brasil, o "corralito" é conhecido
como cercadinho, chiqueirinho
ou quadrado.
Jornais brasileiros, a Folha inclusive, vinham interpretando a
metáfora de maneira incorreta.
"Corralito" não pode ser traduzido como curral pequeno
para animais. Tem um significado específico, de móvel para bebês", diz Julio Nudler, repórter
de Economia do jornal argentino "Página/12".
Mas o termo também pode ser
usado para designar currais pequenos, diz Martin Kanenguiser, repórter do jornal "La Nación". "Não está errado dizer
que "corralito" é um curral pequeno, embora esta seja talvez
uma contribuição argentina para a língua espanhola."
A expressão parece ter surgido
durante os protestos que explodiram em Buenos Aires logo
após o ex-ministro Domingo
Cavallo (Economia) decretar as
restrições aos saques bancários,
no final do ano passado.
Depois, o termo ganhou popularidade no mercado financeiro
e logo foi adotado pelas redações
de jornais. Em pouco tempo, até
integrantes do governo do novo
presidente, Eduardo Duhalde,
passaram a utilizar o termo.
A popularidade da expressão
cresceu tanto que até um jogo de
tabuleiro denominado "El Corralito" passou a ser vendido na
Argentina. No jogo, o desafio
dos participantes é recuperar depósitos congelados nos bancos.
O jogo foi criado por um ator
argentino desempregado, de 24
anos, cuja próxima peça seria financiada por um produtor que
teve seus recursos congelados
pelo "corralito". Sem dinheiro, o
produtor desistiu do projeto e
migrou para a Espanha.
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