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LIVRE COMÉRCIO
País poderia questionar com mais liberdade os subsídios que distorcem o mercado agrícola, diz ministro
Brasil ganharia com fim de cláusula da OMC
CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL
A não-prorrogação da Cláusula
da Paz é a proposta que o Brasil
deve apresentar na reunião miniministerial da OMC (Organização
Mundial do Comércio), na próxima semana em Montreal (Canadá), e também na grande reunião
ministerial de setembro, em Cancún (México).
A Cláusula da Paz estabelece
que os países que assinaram o
Acordo Agrícola da Rodada Uruguai do Gatt (Acordo Geral sobre
Tarifas e Comércio), em 1994, estão impedidos de questionar na
OMC políticas que distorcessem o
comércio mundial.
Mas com o seu fim, a partir de 1º
de janeiro de 2004, os países teriam mais espaço para adotar
ações contra os subsídios de outros. Esse ponto, porém, é particularmente sensível para a União
Européia e para os EUA, que defendem sua prorrogação. O motivo: os países poderiam sofrer uma
enxurrada de pedidos de abertura
de contenciosos.
Por essa razão, a cláusula é considerada uma das principais armas de barganha que os países em
desenvolvimento dispõem para
tentar fazer os países ricos avançarem nas negociações da OMC.
"O término da cláusula abre
uma condição excepcional para
que o Brasil possa questionar com
mais liberdade práticas que distorcem o mercado. Ela é um instrumento fundamental", disse o
ministro da Agricultura, Roberto
Rodrigues, à Folha.
"A pressão da Cláusula da Paz
precisa ser bem utilizada. Ela só
deveria ser trocada por algo concreto, como, por exemplo, um
cronograma de eliminação de
subsídios à exportação", diz Pedro de Camargo Neto, ex-secretário de Produção e Comercialização do Ministério da Agricultura.
Na avaliação do ministro da
Agricultura, entretanto, a prorrogação da cláusula, pelo menos a
priori, está fora de cogitação. "A
premissa básica é que a cláusula é
inegociável. É melhor esperar e
observar o andar da carruagem
dos contenciosos [abertos pelo
Brasil] do algodão [contra os
EUA] e do açúcar [contra a União
Européia]. O resultado desses
processos vai sinalizar para os
países da OMC o que pode vir a
ocorrer com o fim da cláusula",
avaliou Rodrigues.
Sophia Murphy, diretora do
IATP (o instituto de economia
agrícola norte-americano), também partilha dessa opinião. "Países como o Brasil deveriam insistir no fim da cláusula, já que ainda
não estão postas na mesa ofertas
interessantes para os países em
desenvolvimento", afirmou.
No caso do Grupo de Cairns
(formado por 18 países grandes
produtores e exportadores agrícolas, entre eles o Brasil), as posições defendidas são o maior acesso a mercados- incluindo a redução de picos tarifários- e a eliminação de subsídios à exportação. Temas que, na avaliação dos
negociadores dos países-membros da OMC, estão longe de obter consenso.
Para preparar a estratégia brasileira, a Câmara Setorial de Negociações Internacionais, ligada ao
Ministério da Agricultura, se reúne hoje para delinear as diretrizes
da política agrícola que o Brasil
vai defender na próxima reunião
da OMC. A câmara agrupa representantes de diversos ministérios
e de entidades privadas como a
CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).
Explosão de contenciosos?
O argumento mais recorrente
dos EUA e da UE para pedir a extensão da validade da cláusula é
que seu fim pode atravancar a
agenda de liberalização do comércio agrícola mundial.
"Não acredito nessa possibilidade. A abertura desses processos é
muito complexa e custa caro", diz
Murphy. Para Rodrigues, ainda é
cedo para prever esse tipo de efeito, mas ressalta que uma explosão
poderia ser positiva. "Esses processos forçariam a flexibilização
das políticas dos mais ricos caso
não haja avanço em Cancún."
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