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INTEGRAÇÃO
Contrariados com proposta agrícola européia, sul-americanos interrompem tratativas
Mercosul e UE suspendem negociação
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BRUXELAS
O Mercosul suspendeu ontem
as negociações com a União Européia (UE), na tentativa de forçar
o parceiro a melhorar a sua oferta
agrícola. A gota d'água foi o anúncio europeu de que as cotas oferecidas ao Mercosul e que seduziram os seus eficientes produtores
rurais não entrariam imediatamente em vigor, mas seriam escalonadas em dez anos.
"A oferta agrícola é que justifica
essa negociação. O parcelamento
das cotas tornaria a proposta agrícola praticamente inexistente",
diz o embaixador Régis Arslanian, chefe da delegação brasileira
e do Mercosul, pois o Brasil é o
atual presidente do bloco.
A iniciativa surpreendeu o outro lado. "Não entendo e estou
muito surpreso", reagiu Karl Falkenberg, negociador-chefe europeu. "O parcelamento é normal e
está, por exemplo, em nossos
acordos com o Chile e o México."
As duas partes fizeram questão,
porém, de deixar claro que não se
estava produzindo uma ruptura
total da negociação. Tanto é assim
que a suspensão diz respeito apenas às reuniões entre os coordenadores, que, a rigor, dão tratamento político às negociações.
Os técnicos continuarão reunidos até amanhã, o dia em que deveria terminar o encontro do
CNB (Comitê de Negociações Birregionais, mais alta instância técnica da negociação). Além disso,
foi mantida a data de 9 de agosto
para uma nova reunião, com os
coordenadores, em Brasília.
Antes, porém, a crise será transferida para os ministros (e, no caso do bloco europeu, para os comissários, que fazem as vezes de
ministros). Como o chanceler
brasileiro Celso Amorim estará
em Genebra, na semana que vem,
para as negociações da Organização Mundial do Comércio, ficou
acertado que haverá algum tipo
de diálogo entre ele, o vice-chanceler argentino Martín Redrado e
o comissário europeu de Comércio, Pascal Lamy.
Arancha González, porta-voz de
Lamy, diz que os negociadores
técnicos logo encontram uma espécie de muro, que impede que
avancem na negociação sem um
empurrão político, que só pode
ser dado pelos ministros.
"Se não houver avanço em Genebra, qualquer movimentação
acabará transferida para setembro, com o que entramos em zona
de risco", diz Eduardo Sigal, que
assumiu a chefia da delegação argentina porque seu chefe, Martín
Redrado, viajou para a Venezuela.
Sigal se refere ao fato de que o
prazo tentativo para fechar o
acordo é outubro, muito próximo. A porta-voz de Lamy concorda: "Se não pudermos avançar na
substância, fica cada vez mais difícil fechar o acordo até outubro".
Até no setor privado, a avaliação
é parecida. Rogério Goldfarb, presidente da Associação Nacional
de Fabricantes de Veículos Automotores, diz que a situação "é
preocupante, mas não dramática", para, em seguida, sugerir: "É
preciso achar uma forma de acelerar a negociação".
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