São Paulo, quinta-feira, 22 de julho de 2004

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RECEITA ORTODOXA

Preocupação com inflação de 2005 é justificativa para manter, de novo, a taxa Selic em 16% ao ano

BC segura os juros pelo 4º mês consecutivo

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ressaltando preocupações com o cumprimento da meta de inflação do ano que vem, o Banco Central decidiu manter os juros básicos da economia em 16% ao ano por mais um mês. A decisão foi anunciada ontem pelo Copom (Comitê de Política Monetária, formado pela diretoria do BC). Desde abril, a taxa se mantém nesse patamar.
A manutenção dos juros já era esperada por analistas de mercado. Em nota divulgada no início da noite, o BC afirmou que, "avaliando as perspectivas para a trajetória da inflação em 2004 e 2005, o Copom decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic em 16% ao ano".
O BC já vinha sinalizando que os juros não deveriam ser reduzidos tão cedo. Tanto é que analistas do mercado financeiro falam em novos cortes somente a partir de outubro. Uma das maiores preocupações, segundo a instituição, seria com o comportamento da inflação de 2005.
Já no mês passado, o BC informou que um dos motivos para não mexer nos juros era a avaliação de que a alta dos preços ocorrida nos últimos meses era momentânea e que, por isso, não deveria afetar as expectativas do mercado em relação ao comportamento da inflação de 2005.
Pesquisas feitas pelo próprio BC entre analistas do setor privado, porém, mostravam o oposto: as projeções para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) esperado para 2005 se mantinham elevadas.
De acordo com o levantamento, a inflação deste ano deve ficar em 7,08% -valor próximo dos 8% fixados como teto da meta de inflação de 2004.
Para o ano que vem, a meta foi estabelecida em 4,5%, admitindo-se um desvio de, no máximo, 2,5 pontos percentuais para cima (ou para baixo) desse número. A projeção do mercado é que a inflação fique em 5,5%.
Em tese, sempre que percebe que as projeções de inflação estão se distanciando das metas, os juros são mantidos em níveis elevados. Juros altos desestimulam o crescimento da economia, afetando negativamente a renda da população e reduzindo o espaço que as empresas teriam para reajustar seus preços.
No mês passado, a inflação medida pelo IPCA foi de 0,71%, a mais elevada desde janeiro. A alta acumulada entre janeiro e junho ficou em 3,48%.

Crescimento
Além da maior preocupação com a inflação, existe uma avaliação, dentro do BC, de que o processo de retomada do crescimento econômico dá sinais cada vez mais fortes de estar se consolidando. Logo, cortes nos juros que estimulassem o nível de atividade não seriam tão urgentes.
Entre os indicadores analisados pelo BC na reunião de ontem, estão os números relativos ao nível de emprego na indústria.
Segundo a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), o número de vagas criadas pela indústria paulista no mês passado foi o maior desde 1994. No primeiro semestre, de acordo com o Ministério do Trabalho, foi criado 1 milhão de empregos formais no país.
Além disso, pesquisa de mercado feita pelo BC mostra que a expectativa dos analistas é que a economia registre uma expansão de 3,57% neste ano, ligeiramente acima dos 3,50% observados há duas semanas.
Diante desse cenário, os analistas consultados dizem que a taxa Selic só deve voltar a ser reduzida em outubro.


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