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LUÍS NASSIF
Brasil em Três Tempos e a gestão
Nos últimos anos, a gestão
pública virou valor nacional.
Constatou-se a necessidade de dotar o Estado de ferramentas de
planejamento e gestão. Historicamente, o Estado recorria a esse ferramental. Em certo momento da
história, esse ferramental foi apropriado, com êxito, pelo setor privado. Os Estados que persistiram em
visões estratégicas claras desenvolveram-se. O restante continuou
fazendo essa teia de Penélope chamada de "lição de casa".
O anúncio do Projeto Brasil em
Três Tempos, ontem, em Brasília,
é um ensaio nessa direção. O projeto será de responsabilidade do
Núcleo de Assuntos Estratégicos
da Presidência da República. Ao
grupo se incorporou o CGE (Centro de Gestão Estratégica), criado
na gestão de Ronaldo Sardenberg
no Ministério da Ciência e Tecnologia.
Os trabalhos começaram há três
meses e têm consistido, na fase inicial, na contratação de diagnósticos na área acadêmica. Ainda é
cedo para uma avaliação mais
precisa do fôlego do projeto. Mas
alguns princípios iniciais são relevantes.
O primeiro é a divisão temporal,
com a definição de três datas,
2007, 2015 e 2022. A primeira corresponde ao Plano Plurianual. A
segunda, à data fixada pela
ONU/Pnud para as Metas do Milênio. Na terceira, se celebram os
200 anos de Independência. Esticando o prazo para além do governo Lula, tenta-se conferir a
idéia de projeto de país, não de governo.
Há mudanças significativas em
relação a outras propostas de planejamento que o país tentou. O
Plano de Metas de JK consistia em
um conjunto de metas de industrialização. Os dois Planos Nacionais de Desenvolvimento, da era
Geisel, em um conjunto de obras e
projetos de substituição de importações. Em todos os casos, atingiram-se resultados mais ou menos
relevantes, mas não se entendia o
país como uma realidade complexa e dinâmica. No plano das intenções, o Brasil em Três Tempos
tentará analisar o desenvolvimento de forma integrada, nas dimensões política, econômica, social,
ambiental e internacional, entre
outras.
Define, também, um conjunto
de princípios éticos como ponto de
partida. Entende que a formulação tem que ser de um projeto nacional, com a articulação cooperativa de União, Estados e municípios, assim como a mobilização
participativa de toda a sociedade e
suas organizações.
Em uma primeira etapa, definir-se-ão objetivos e metas para um
número limitado de atores, em razão do curto espaço de tempo disponível para a realização. Depois,
tentar-se-á agregar mais setores.
Há toda uma metodologia em
desenvolvimento, montada em cima da análise de experiências nacionais e internacionais, que abordarei oportunamente.
Chamo a atenção para um fato
significativo. Plano dessa envergadura, a ser liderado pelo Estado,
exige uma burocracia forte e
atuante. A prática do governo Lula tem demonstrado o contrário,
com o aparelhamento do Estado,
trazendo dificuldade na implementação de qualquer política,
mesmo as mais simples e óbvias.
Não basta um plano. Há que vir
acompanhamento de mudança
radical de cabeça e de atitude.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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